segunda-feira, 7 de abril de 2014

PARLAMENTO EUROPEU: RISCOS DE UMA CAMPANHA ELEITORAL FALHADA



Octávio Teixeira [*]

É visível que entrámos já na campanha eleitoral para o parlamento europeu. 

Mas, pelo que "vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar", parece que nessa campanha não haverá espaço para discussão do problema central que é a saída do Euro ou, pelo menos, que nenhuma força política defenderá a saída da zona Euro. 

É uma situação para mim incompreensível, designadamente no que respeita aos partidos de esquerda. Quer pelos efeitos nefastos que a adesão ao Euro gerou, e a permanência no Euro continuará a gerar, sobre a economia e sobre a sociedade, em particular sobre os trabalhadores. Quer pelo que o Euro significou, e continuará a significar, nas perspectivas da divisão internacional do trabalho no âmbito da zona Euro e do aprofundamento do neoliberalismo. 

O Euro tem enormes efeitos nefastos sobre a economia portuguesa:   a) degrada as nossas capacidades de exportação nos sectores em que a procura é mais sensível ao preço e aumenta a pressão sobre as empresas no mercado interno devido à baixa do preço em Euros dos produtos importados de países exteriores à zona Euro, com consequências pesadas para as PMEs, reduzindo as suas capacidades de investimento e consequente competitividade futura e obrigando-as a endividarem-se acrescidamente;   b) acentua a desindustrialização do país, o agravamento dos défices externos, o endividamento externo das empresas e do Estado, a recessão ou prática estagnação do crescimento;   c) impede o financiamento da dívida pública com recurso ao Banco Central, obrigando o Estado a financiar-se exclusivamente nos mercados financeiros e a reduzir a despesa pública (veja-se o tratado orçamental) com a consequente pressão em baixa sobre a procura agregada. Em resultado destes efeitos, o Euro impõe a redução das remunerações e das pensões de reforma, com efeitos negativos sobre a redistribuição do rendimento, a prestação de serviços públicos e o emprego. 

Ou seja, a pertença à zona Euro agrava os grandes desequilíbrios, tem grande impacto sobre a estrutura do aparelho produtivo à escala macro e micro, conduz a uma elevada e insuportável taxa "estrutural" de desemprego e a um modelo económico assente nos baixos salários, é um obstáculo à preservação de um modelo social digno desse nome. Independentemente dos erros cometidos (e muitos são) pelos diversos Governos, os constrangimentos ditados pela moeda única e pela política monetária única impedem que Portugal tenha um crescimento económico equilibrado e sustentado a ritmos elevados e promova o progresso social da sua população, dos trabalhadores. 

Por outro lado, a ausência de risco de cambial na zona Euro beneficia a especialização produtiva dos países em função das suas vantagens comparativas, conduzindo à desindustrialização dos países periféricos em benefício dos países mais desenvolvidos do centro, como a Alemanha, Holanda e Finlândia. Reforçando a posição destes como exportadores de bens de equipamento e de consumo e como importadores da procura e dos baixos salários dos países periféricos como Portugal. Ou seja, como alguém já escreveu, o Euro "alimenta uma divisão internacional do trabalho com dinâmica colonialista". 

Em terceiro lugar, o Euro é instrumento essencial do projecto neoliberal em que estamos atolados e onde não há uma perspectiva de progresso social. O objectivo subjacente ao primado da estabilidade de preços na condução da política monetária é o da redução dos custos unitários do trabalho, fazendo recair sobre os salários e o emprego todos os custos de ajustamentos a choques económicos, tendo por desígnio aumentar o "exército de reserva" para reduzir direitos laborais e travar o crescimento dos salários. E a manutenção do Euro como "moeda cara" visa tornar as aquisições financeiras no exterior da zona mais baratas para os empórios económicos e financeiros do centro da Europa. 

Ou seja, o Euro é um obstáculo à recuperação económica, um elemento de agravamento da recessão e um mecanismo de exploração de classe. E inclusivamente é um obstáculo para o próprio processo de construção europeia num sentido progressista. Porque, como escreveu Engels, há que não confundir "a confraternização das nações" com "o cosmopolitismo hipócrita e egoísta do livre cambismo" . 

Neste contexto considero inexplicável como pode haver na esquerda quem defenda a permanência de Portugal no Euro ou, pelo menos, não defenda a saída. 

Uns dizem que o que se deve fazer não é abandonar o Euro mas sim transformar a zona Euro através da conjugação das forças progressistas e de esquerda da Europa. O problema é que não explicam como é que se consegue tornar a esquerda europeia suficientemente forte para conseguir esse desiderato. Ou quanto tempo será necessário para o conseguir, sendo certo que "a longo prazo estaremos todos mortos". 

Outros reconhecem os efeitos desastrosos que a adesão ao Euro provocou no país e que podemos perder muito mais com a permanência ou com o agudizar da crise na zona Euro que empurre o país para uma saída caótica. Mas, então, a lógica parece levar a que defendessem a saída programada, preparada e negociada. Mas não, porque isso seria uma posição aventureira. Ou, ainda, que uma coisa é sair do Euro com um Governo esquerda e outra com um Governo de direita. Não tenho dúvidas que as diferenças são grandes. Mas para quando se perspectiva um Governo de esquerda? E entretanto o país e os trabalhadores estão condenados a suportar os reconhecidos sobrecustos da permanência no Euro que são muito maiores que os da saída e muitíssimo mais prolongados no tempo? Para além do mais e por razões ideológicas, nunca um Governo de direita promoverá a saída do Euro. Mas um Governo de esquerda, se e quando fôr possível, deverá fazê-lo. E por isso as esquerdas devem, de forma clara e transparente, defender essa saída nos seus programas eleitorais. 

Sejamos claros e deixemo-nos de sofismas. Objectivamente a não defesa da necessidade do país sair do euro é, por omissão, contribuir para que se prolongue e agrave a situação actual. 

A crise profunda com que nos confrontamos decorre da acumulação de perdas de competitividade ao longo dos últimos 12 anos e de que resultou o agravamento persistente do défice da balança corrente, com o consequente aumento acelerado da dívida externa, privada e pública. 

É aqui que reside a origem da crise e, por isso, a saída dela tem de ter como questão central e essencial a ultrapassagem dos desequilíbrios externos. Não através da redução das importações decorrente da diminuição do poder de compra da população, mas pela via do aumento da produção nacional suficientemente competitiva para aumentar exportações e substituir importações. 

Ou seja Portugal tem necessariamente de fazer uma forte desvalorização para conseguir recuperar da crise em que está afundado. 

E só existem duas formas de o fazer:   ou através da desvalorização interna ou pela via da desvalorização cambial. A não defesa da possibilidade da desvalorização cambial significa, objectivamente e por inacção, uma permissão ao prolongamento e agravamento da desvalorização salarial. Tenho a certeza de que não é isso que as forças de esquerda querem. Por isso têm de ser coerentes. 

Se se pretende superar a gravíssima crise que atravessamos e romper com o neoliberalismo torna-se essencial e incontornável a saída da zona Euro e a recuperação da soberania monetária e orçamental, visando abrir portas a uma política de desenvolvimento favorável ao Trabalho. 

Como já o escrevi diversas vezes, é evidente que a saída do Euro tem custos. Mas comparam muito favoravelmente com os da permanência. 

E suscita dificuldades políticas. Mas, para além de não poder haver temor de as enfrentar, essas dificuldades parecem-me mais ultrapassáveis que as colocadas quer pela via do federalismo quer pela da ruptura com as sacrossantas orientações neoliberais que norteiam a zona Euro. 

E na óptica jurídica parece inequívoco que é possível sair do Euro sem sair da União Europeia. Porque existem outros países que pertencem à União mas não à zona Euro. E porque se o Tratado da União Europeia, que não prevê a possibilidade a expulsão de um país da União, permite o mais – a saída de um país da União – necessariamente permite o menos – a saída da zona Euro. 

Um apelo às esquerdas que o são:   por favor, não contribuam para que a campanha eleitoral para as europeias se transforme num acto falhado sobre o que é essencial e central. Portugal não tem futuro na união monetária, a não ser um futuro de pobreza, de crescimento débil e instável, de emigração dos jovens, uma sociedade frustrada, desigual e empobrecida. Precisa de romper com o Euro para reabrir as portas que Abril abriu. 

06/Abril/2014

[*] Economista. 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

BANCO MUNDIAL DISPONIBILIZA 15 MILHÕES DE DÓLARES À GUINÉ-BISSAU



Acordo assinado em Dakar

Bissau – O Banco Mundial (BM) disponibilizou 15 milhões de dólares à Guiné-Bissau, no âmbito de um acordo assinado na quinta-feira, 3 de Abril, nas instalações do BM em Dakar.

O acordo foi assinado pelo ministro guineense da Economia e Integração Regional, Soares Sambu, e a Directora de Operações do BM para a Guiné-Bissau, Vera Songwe, na presença do embaixador guineense no Senegal, Idrissa Embalo.

Num comunicado do Ministério das Finanças enviado à PNN, Soares Sambu disse que têm esperanças que o acordo seja seguido de outras formas de apoio do Banco Mundial para ajudar a Guiné-Bissau.

Por sua vez, Vera Songwe indicou que o financiamento está em linha com as orientações recomendadas pelo vice-presidente do Banco Mundial para África, Makhtar Diop, certificando-se de que as autoridades estarão no local após as eleições que já são alavancas operacionais.

Este financiamento será destinado para prosseguir o desenvolvimento da comunidade nas áreas rurais e para preservar e fortalecer os serviços básicos de saúde e educação para as populações mais pobres.

A verba faz parte da resposta de emergência implementada pelo Banco Mundial, face à crise e recente agitação na Guiné-Bissau. O montante visa ampliar o escopo de projecto de desenvolvimento comunitário existente em áreas rurais para 76 500 pessoas, metade delas mulheres, em 2017.

O valor vai ainda ajudar a Guiné-Bissau a preparar planos de desenvolvimento comunitário em pelo menos duas novas regiões e o aumento da cobertura do projecto em seis regiões.

Os planos visam melhorar o acesso a estradas e à água, mesmo em tempos de uma crise grave. Esta concessão também vai financiar os salários dos professores e profissionais de saúde em nove regiões do país em carácter temporário, entre Janeiro e Junho de 2014, e evitar serviços básicos prolongados devido à interrupção da crise.

Bissau Digital - (c) PNN Portuguese News Network

Vinte e três observadores da União Europeia chegam à Guiné-Bissau terça-feira




Vinte e três elementos da missão de observação eleitoral da União Europeia chegam à Guiné-Bissau esta terça-feira, devendo partir no dia a seguir para o terreno, disse hoje fonte da organização em Bissau.

Em nota de imprensa a que a Lusa teve acesso, a Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (MOE EU) informa que chegam na terça-feira, recebem uma formação no mesmo dia sobre a realidade eleitoral e situação sociopolítica do país e no dia a seguir partem para as regiões.

Os 23 elementos, integrantes da missão de observação eleitoral de curto prazo, juntam-se aos 16 de longo prazo que já se encontram no terreno desde o passado dia 26 de março, lê-se na nota.

Ao lado dos observadores de longo prazo os 23 elementos vão observar o andamento da campanha eleitoral, os preparativos para as eleições, a votação, a contagem dos votos e o apuramento dos resultados, adianta ainda a nota informativa.

Ainda no decorrer desta semana chegam à Guiné-Bissau quatro elementos do Parlamento Europeu que se vão juntar a MOE UE.

No total serão 49 elementos da missão europeia que estarão no país a convite da Comissão Nacional de Eleições da Guiné-Bissau para uma análise a todo o processo para que decorra de forma imparcial e equilibrada.

Diário de Notícias Madeira

Organização timorense recomenda aprovação da lei contra tráfico de droga




Díli, 07 abr (Lusa) - A organização não-governamental timorense Fundação Mahein recomendou hoje ao Governo de Timor-Leste que acelere a aprovação da legislação contra o tráfico de droga e às forças de segurança uma maior coordenação no combate ao narcotráfico.

"Recomendamos ao ministro da Justiça que acelere o projeto de lei sobre o tráfico de drogas e consumo ilícito de drogas para o Conselho de Ministros", referiu a Fundação Mahein - Monitorização, Pesquisa, e Advocacia do Setor da Segurança, num relatório sobre consumo e combate à droga no país.

O ministro da Justiça timorense, Dionísio Babo, apresentou publicamente em agosto de 2013 uma anteproposta de lei de combate ao tráfico e consumo ilícito de drogas, que esteve em discussão pública até setembro do mesmo ano.

A proposta de lei apresentada para discussão pública prevê penas que variam entre um mês e 16 anos de prisão para o consumo e tráfico de droga e entre cinco e 25 anos para quem promover, fundar ou financiar grupos organizados ou de associação criminosa relacionados com a droga.

Na proposta pode ler-se que, como ainda não se regista em Timor-Leste a "gravidade da situação alcançada em outros países", se optou por uma punição do consumo, através de uma incriminação suave, dirigida sobretudo para o tratamento médico.

A lei prevê também penas de prisão para médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros técnicos de saúde que prescrevam preparados para fins não terapêuticos e para proprietários de estabelecimentos públicos que consintam o tráfico ou o uso ilícito de drogas.

A anteproposta do projeto de lei prevê também a expulsão de estrangeiros do país em caso de consumo ou tráfico de droga.

No relatório, a Fundação Mahein recomendou também às autoridades da segurança que coordenem esforços para ajudar a combater o uso e distribuição de drogas em Timor-Leste.

"O facto de não existir uma lei sobre drogas representa um desafio ainda maior para as instituições de segurança no combate a esta ameaça, apesar disso, a Fundação Mahein constatou um esforço da PNTL (Polícia Nacional de Timor-Leste) para deter cidadãos estrangeiros e timorenses envolvidos no tráfico de droga", referiu a organização.

Segundo a fundação, a questão da droga "está a tornar-se uma preocupação pública em Timor-Leste, com o fluxo de drogas no país a aumentar o que representa uma ameaça para a juventude timorense".

A Fundação Mahein disse ainda que "estrangeiros têm usado Timor-Leste como lugar de trânsito para compra e venda de drogas".

"Isto está a tornar-se um problema em Timor-Leste devido às fronteiras terrestres e marítimas que são porosas e à fragilidade do setor de segurança", alertou, pedindo um melhor sistema de controlo fronteiriço.

MSE // VM - Lusa

Moçambique: DEZ MIL PESSOAS SEM CUIDADOS DE SAÚDE EM BÁRUÈ



Verdade (mz)

Mais de 10 mil pessoas estão privadas do acesso aos serviços médicos em virtude do encerramento do Posto de Saúde de Julius Nyerere, há mais de um ano, na localidade de Inhazónia, no distrito de Báruè, em Manica. Os utentes contam, com bastante inquietação, que para terem acesso à assistência médica percorrem 32 quilómetros até à vila de Catandica.

O posto de saúde encerrado foi construído em 1979 pelo Governo moçambicano em parceria com a Cruz Vermelha de Moçambique (CVM). A população da localidade de Inhazónia narra ainda que não foi informada sobre a decisão de se encerrar as instalações nem sabe quais foram os motivos que concorreram para tal situação. Os utentes queixam-se ainda da falta de meios para deslocarem à vila de Catandica.

Segundo o líder comunitário de Julius Nyerere, Vasco Filipe, os Serviços Distritais de Saúde em Báruè não disponibiliza ambulância para a transferência dos doentes cujo estado de saúde exige maiores cuidados e a população não dispõe de fundos para pagar 1.000 meticais de táxi. “Em resultado disso, no ano passado, duas pessoas perderam a vida a caminho do Hospital Distrital de Catandica.”

Para além deste problema, os moradores de Julius Nyerere queixam-se de alegadas cobranças ilícitas na maternidade do Hospital Distrital de Catandica. “É obrigatório que as mulheres grávidas introduzam pelo menos 50 meticais nas suas fichas de atendimento para serem bem atendidas”, denunciou uma senhora.

O director distrital da Saúde Mulher e Acção Social em Báruè, Armando Castigo, explica que o posto de saúde em alusão foi encerrado por ordens do Ministério da Saúde (MISAU). Entretanto, no povoado de Julius Nyerere existem agentes polivalentes de saúde que, constantemente, visitam as comunidades e prestam serviços de saúde móveis.

O @Verdade entrevistou um dos agentes polivalentes daquela zona. Segundo ele, a assistência médica é feita de porta em porta e a dificuldade tem a ver com a falta de medicamentos. As doenças que apoquentam as comunidades são a malária e a diarreia.

Governo moçambicano e Renamo fixam 135 dias para missão de observadores




O Governo moçambicano e a Renamo, o principal partido da oposição, chegaram este fim-de-semana a acordo para que a missão internacional de observação do cessar-fogo permaneça no país durante 135 dias, anunciaram as duas partes.

Apesar de uma diminuição de intensidade nos últimos dias, na sequência de avanços no diálogo entre o executivo moçambicano e a Renamo, (Resistência Nacional Moçambicana), o exército governamental e os homens armados do principal partido da oposição continuam a confrontar-se no centro do país, mantendo uma hostilidade que começou no ano passado, na sequência de desentendimentos em torno da lei eleitoral.

Em declarações aos jornalistas, o chefe da delegação do Governo moçambicano às negociações com a Renamo, José Pacheco, disse que as duas partes chegaram a acordo sobre a permanência da missão internacional de observação do cessar-fogo, durante 135 dias.

Lusa

PARLAMENTO MOÇAMBICANO RECUA EM DESCRIMINALIZAÇÃO DE VIOLADORES




O parlamento moçambicano retirou do Projecto do Código Penal um artigo que descriminaliza o autor de violação sexual que se case com a vítima, muito repudiado por organizações de defesa dos direitos das mulheres.

Há duas semanas, organizações de defesa dos direitos das mulheres marcharam em Maputo contra a aprovação, na generalidade, do Projecto do Código Penal, que mantinha um artigo um artigo do período colonial, que suspendia a pena ou o processo-penal contra o autor de uma violação sexual que cassasse com a vítima.

Na nova versão da proposta de revisão do Código Penal, divulgada fim-de-semana em Maputo, a norma em causa foi removida e é igualmente tipificada como crime a violação sexual dentro de um casal, o que não acontecia na versão anterior.

Lusa

Primeiro-ministro santomense responsabiliza Europa por miséria em África




São Tomé, São Tomé e Príncipe (PANA) - O primeiro-ministro santomense, Gabriel Costa, culpabilizou a Europa pela miséria de África resultante da colonização, da dominação e da exploração dos recursos do continente africano.

“A Europa tem uma dívida para com África. Nós sabemos que algumas das misérias que vivemos no continente africano se devem à forma de colonização, de dominação e de exploração dos nossos recursos por parte dos países europeus", afirmou Gabriel Costa à imprensa no aeroporto internacional de São Tomé no seu regresso sábado de Bruxelas (Bélgica) onde participou na Cimeira União Europeia (UE)-África.

Gabriel Costa disse que a parceria existente entre a Europa e África visa “a  reparação de algumas coisas que foram mal feitas no passado, do redimensionamento de políticas e sobretudo do estabelecimento entre os dois nossos continentes”.

Ele considerou “positiva” a cimeira, que avaliou os programas em curso em diferentes estados do continente, resultante do encontro de Tripoli (Libia) em 2010, como por exemplo, a redução da pobreza, a fome, mudanças climáticas, boa governação e crecimento económico.

Segundo ele, a cimeira debateu igualmente a questão da emigração ilegal por parte dos jovens que "não encontram esperança de vida nos seus respetivos paises, devido ao problema de desemprego aliado à situação económica".

“É preciso que fixemos as pessoas através de programas de transferência de tecnologias para que se evite o espetáculo que temos assistido com mortes de pessoas que procuram entrar na Europa por todos os meios”, sublinhou.

Gabriel Costa disse que a cimeira concluiu que se torna “necessário que os governantes africanos governem com os olhos postos nos seus povos porque a má governação tem consequências negativas”.

O primeiro-ministro santomense afirmou que a com a crise que a Europa vive atualmente observa-se uma mudança de paradigma na coperação com África, indicando que “os Europeus contam também receber os apoios do continente africano”.

Panapress

Portugal: UMA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA, PRECISA-SE!



Tomás Vasques – jornal i, opinião

A lata de certas luminárias é tão grande que não tarda muito estão a dizer que a democracia só chegou a Portugal com este governo

1 - Não foi, certamente, por falta de talento ou desleixo que Franz Kafka não deu por acabado, até morrer, o seu romance "O Processo". Ele adivinhava que a insaciável mão invisível do poder absoluto e absurdo sobre os cidadãos, sobre todos os Joseph K, não tinha limites, pelo que o seu livro seria sempre uma obra inacabada. Todos os dias temos notícias que nos remetem para os ambientes kafkianos. As multas de milhões de euros, aplicadas aos poderosos, prescrevem, dispensando-os do cumprimento de avultadas penalizações. Por sua vez, as multas aplicadas aos cidadãos comuns, ora por atraso na entrega de uma declaração de impostos, ora pelo pagamento com meia dúzia de dias de atraso do imposto de circulação são cobradas, na hora, sob a ameaça de penhora do recheio da casa ou do automóvel ou descontos nos parcos salários. O mesmo se passa com os contratos celebrados pelo Estado. Se os contratos são celebrados com poderosos, sejam bancos ou grandes empresas, são intocáveis. Nos contratos de parceria público-privada - as PPP - ou os swaps, por exemplo, não se toca (e quando se alteram ou se rompem é à custa do Estado entregar fortunas à outra parte). Nestes casos, nunca é invocado o estafado e falso argumento de que não há dinheiro. Mas, quanto aos contratos celebrados pelo Estado com cidadãos comuns, sejam firmados com funcionários públicos ou com pensionistas e reformados, estes, são alterados discricionariamente, reduzindo salários e pensões de reforma quando e como o governo lhe dá na gana. Se um cidadão não pagar uma piza, dois quilos de arroz ou uma embalagem de feijão-verde num supermercado, no valor de 77 cêntimos - cada um destes aconteceu -, é aberto processo-crime, é julgado, às vezes por um tribunal colectivo e, uma ou outra vez, condenado. Mas os poderosos, autores de fraudes, vigarices e roubos de milhões e milhões de euros, servindo por todos o exemplo da cáfila que fundou o BPN, mantêm-se por aí passeando em infindáveis processos judiciais, uns, ou a banhos e em novos "negócios", outros. É esta protecção iníqua e esta impunidade imoral dos poderosos, desenhada sobre os sacríficos e os sofrimentos da imensa maioria dos cidadãos, que faz com que a democracia, a nossa democracia, neste percurso de quarenta anos, seja hoje pouco mais do que uma palavra morta. Qualquer alteração significativa na sociedade portuguesa passa mais por reinventar a democracia, colocar toda a acção do Estado ao serviço dos cidadãos comuns e alterar este pano de fundo, do que actuar sobre os controlos orçamentais e outras engenhocas financeiras de dívidas e juros com que se camufla a verdadeira natureza da nossa representação política. Uma sociedade democrática, muito mais democrática, precisa-se!

2 - No mês em que se comemora o quadragésimo aniversário da queda da ditadura e da instauração da democracia, os ideólogos do actual situacionismo desmultiplicam-se em entrevistas a explicar que a democracia em Portugal só começou, o mais cedo em 1982. Outros, mais afoitos, já situam a data em 1989. Não tarda muito chegam à conclusão que a nossa democracia foi fundada no dia da tomada de posse do actual governo.

3 - Uma nova Dona Supico Pinto restabeleceu o movimento nacional feminino sob novas roupagens, e há dias mandou os desempregados procurar emprego ou trabalharem à borla em vez de ficarem em casa a ler o que circula nas redes sociais.

4 - Os banqueiros do costume, esses, continuam a pedir ao governo que se corte ainda mais nos salários e nas despesas do Estado com saúde, educação e segurança social.

5 - O nosso 18 de Brumário, à medida da nossa pequenez, está em curso. E não vai ser alterado por se baixar o IVA na restauração ou se aumentar em cinco euros o salário mínimo. Nem sequer por se defender a mutualização da dívida externa.

Jurista - Escreve à segunda-feira

Portugal: SEGURANÇA SOCIAL TEM 83 IMÓVEIS À VENDA



Instituto de Gestão Financeira encaixou 3,8 milhões de euros em 2013 com alienações. Meta para 2014 é de 5 milhões. Imóveis à venda valem 26,1 milhões de euros

Sónia M. Lourenço - Expresso

Escolha não falta: prédios em zonas nobres de Lisboa, como o Chiado ou o eixo Campo Pequeno/Gulbenkian - cinco dos quais avaliados em mais de 1,5 milhões de euros - e noutras cidades, armazéns, terrenos ou até quintas no Douro e em Évora com mais de 20 hectares.

São estas as tipologias dos 65 imóveis, avaliados num total de 23,4 milhões de euros, que integram o primeiro concurso de venda deste ano do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS), que decorre até 22 de abril.

A estratégia de venda de imóveis do IGFSS não se esgota neste concurso.

Leia mais na edição deste sábado do Expresso

Portugal: TRÊS ANOS DE TROIKA E PRODUÇÃO DE CULPA



Ficou-nos um país mais pobre, com mais medo, atarantado com as alternativas

Ana Sá Lopes – jornal i

Fez ontem três anos que Teixeira dos Santos chamou a troika através de uma declaração ao "Jornal de Negócios" depois do chumbo do famoso PEC-IV. Ouvir o discurso de Pedro Passos Coelho nesse particular momento vale a pena - é um bocadinho como ouvir os discursos socialistas do PSD em 1976 ou Durão Barroso, nos tempos do maoísmo, numa reunião geral de alunos.

Faz parte do conhecimento geral que o PSD se preparava para dar luz verde ao PEC-IV (independentemente de, no meio da crise que abalava a Europa, ser praticamente impossível evitar o resgate). Nessa manhã, Miguel Relvas dá uma conferência de imprensa na sede nacional do PSD onde abre a porta à aprovação do documento. Para Relvas, "tudo o que seja reforçar" a possibilidade de Portugal atingir os objectivos orçamentais "é sempre positivo". Depois, Passos Coelho é avisado de que "ou há eleições no país, ou há eleições do PSD". A seguir ao aviso, decide chumbar o PEC porque o governo está "a atacar os alicerces do Estado social" e tem "o despudor de transferir para os portugueses os custos dos seus sucessivos erros" e ainda porque volta com "exigências adicionais sobre aqueles que são sempre sacrificados".

Pouco depois, diria à imprensa internacional - Reuters e Wall Street Journal precisamente o contrário. Tinha chumbado o PEC-IV porque as medidas eram "de menos". A partir daí nasce o Memorando da troika benzido pelo PS, PSD e CDS e fotografado por Eduardo Catroga, que reclamou como seu boa parte do articulado. Depois, desencadeia-se o mecanismo da produção de culpa, inspirado pelos deputados de direita alemães e de outros países do Norte. É a fase do "vivemos acima das nossas possibilidades", um mantra que se transforma num sucesso. É repetido à exaustão por boa parte da opinião pública, incluindo muitos dos afectados pelas medidas, e consegue manter o governo de Passos num misterioso estado de graça nos primeiros tempos. É fácil engendrar a culpa nos portugueses - Salazar não fez outra coisa em 40 e tal anos, com um incrível sucesso em termos de durabilidade. Absorvida a "culpa" e os cortes - hoje festeja-se que os cortes sejam definitivos e não vão ainda mais além - ficou-nos um país muito mais pobre, com ainda mais medo de tudo, atarantado com as possíveis alternativas e debaixo de uma ditadura de instituições europeias não eleitas. Para comemorar os 40 anos do 25 de Abril, é o pior dos retratos.

Leia mais em jornal i
Sócrates. Pedimos ajuda por prudência devido a dificuldades de acesso aos mercados
Eurogrupo. Portugal pode ter saída limpa do resgate

Pacheco Pereira diz que Governo quebrou elevador social e tem política assistencialista




"A dívida é a nova forma de guerra, um instrumento de submissão dos povos", disse.

O comentador político Pacheco Pereira acusou hoje o Governo PSD/CDS-PP de ter uma política assistencialista para a pobreza e fazer um ataque à classe média que vai fazer o país regressar ao modelo de desenvolvimento assente nos baixos salários.

"O elevador social que garantia a classe média, retirando as pessoas da pobreza, está quebrado por uma visão assistencial da pobreza (…). A pobreza deixa de ter esperança de passar acima da pobreza", disse o antigo dirigente e deputado do PSD.

"O discurso, muitas vezes demagógico, do atual Governo, é ‘nós protegemos os mais pobres!’, o que num certo sentido é verdade, mas a verdade é que protegendo os mais pobres na sua pobreza impedem que haja qualquer diminuição da pobreza e, acima de tudo, a passagem da pobreza para a classe média", acrescentou.

Pacheco Pereira, que falava na conferência “25 de Abril: Liberdade e Cidadania”, que abriu a 2.ª Semana da Comunicação Social organizada pela Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, acusou também o Governo de estar a fazer um ataque à classe média, através de uma diminuição de rendimentos, que terá consequências graves no futuro.

Para o comentador, "este ataque à classe média é extremamente preocupante para o futuro do país, porque se traduz, entre outras coisas, numa quebra das qualificações da população portuguesa".

“Isso significa que os fatores estruturais do nosso atraso, mesmo no plano económico, ou até em primeiro lugar no plano económico, fazem com que a única vantagem competitiva para o futuro sejam os salários baixos. E com salários baixos nenhuma empresa inova", acrescentou.

Na conferência sobre “Liberdade e Cidadania”, Pacheco Pereira falou também sobre a importância da censura para a manutenção do regime ditatorial do Estado Novo durante 48 anos e considerou o dia 25 de Abril de 1974 como o mais importante da sua vida.

"Para quem viveu antes do 25 de Abril com alguma consciência da realidade, o dia 25 de Abril é o dia mais importante da sua vida. O 25 de Abril foi o dia mais importante da minha vida, porque eu sei muito bem como era antes e como foi depois", disse.

Pacheco Pereira referiu-se também à censura, lembrando que os censores não se limitavam às questões políticas, mas também aos costumes, não deixando passar qualquer texto ou referência que pudesse legitimar qualquer forma de contestação à hierarquia da sociedade e ao poder instituído.

O almirante Manuel Martins Guerreiro, da Associação 25 de Abril, também orador na conferência, manifestou preocupação com o aumento do fenómeno da emigração e afirmou-se convicto de que o problema fundamental está na elevada dívida soberana do país.

"A dívida é a nova forma de guerra, um instrumento de submissão dos povos", disse.

O almirante afirmou-se também convicto de que não será com as políticas atuais que os portugueses conseguirão resolver o problema da dívida, mas através de um exercício de cidadania que obrigue a uma responsabilização efetiva dos decisores políticos.

Lusa, em jornal i

Portugal: Presidência da República e parlamento escondem as compras que fazem



João D' Espiney – Jornal i

Presidência da República, municípios, freguesias, institutos e empresas públicas, hospitais, inspecções-gerais e fundações "escondem" compras

Há milhares de organismos e entidades públicas que não publicam qualquer procedimento de aquisição de bens e serviços no portal Base dos contratos públicos (http://www.base.gov.pt/base2/).

A publicitação dos procedimentos contratuais no portal é obrigatória e o Código dos Contratos Públicos (CPC) determina até que a não publicitação tem como consequência a sua "ineficácia", nomeadamente em termos de pagamentos.

A pesquisa efectuada pelo i aos contratos publicados no primeiro trimestre deste ano permitiu constatar que a lista de organismos que não publicou qualquer contrato é muito vasta. E o número de procedimentos divulgados por muitas das entidades que o fizeram é irrisório, tendo em conta que estamos a falar de todo o tipo de compras para o seu funcionamento corrente.

Entre os 22 170 contratos publicados neste período, o i constatou que há centenas de empresas públicas e entidades do Sector Empresarial do Estado (Central, Local e Regional) e instituições particulares de solidariedade social (IPSS) que não publicaram qualquer contrato. O i contabilizou ainda apenas contratos de 87 das cerca de três mil freguesias, de 293 das 308 câmaras e de 23 das várias centenas de fundações com estatuto de utilidade pública e que receberam subsídios.

O MAU EXEMPLO DE BELÉM 

O mau exemplo começa desde logo em alguns órgãos de soberania como a Presidência da República e o parlamento. A AR até divulga os contratos na sua página oficial, e já publicou seis contratos de 2008 mas desde então mais nada. O i confrontou a secretária-geral da AR com esta informação mas não obteve resposta. O i questionou também o porta-voz de Cavaco Silva sobre o facto da Presidência da República nunca ter publicado qualquer contrato mas também não obteve resposta.

No relatório da "Contratação Pública em Portugal de 2012", divulgado em Março, o Instituto da Construção e do Imobiliário - organismo que gere o portal Base - admitia que ainda se está longe de uma "efectiva generalização das obrigações" decorrentes do CPC. "O número de entidades que reportaram contratos públicos parece ser, em termos absolutos, menor do que o número expectável atendendo à estrutura da administração pública". Apesar do número de entidades adjudicantes que reportaram contratos em 2012 (3383) ter aumentado 11,7% face de 2011 "continua, todavia, num nível que suscita dúvidas sobre se todas as entidades adjudicantes estarão realmente a proceder aos reportes obrigatórios, nomeadamente no caso dos ajustes directos", lê-se no documento.

MINISTÉRIOS NÃO REAGEM 

Entre a lista dos organismos que não publicaram qualquer contrato encontram-se centenas de empresas públicas e entidades do SEE. O i tentou obter um comentário dos Ministérios das Finanças e da Economia mas sem sucesso.

Uma dessas entidades é o grupo Caixa Geral de Depósitos(CGD). Questionada sobre o facto de nenhuma empresa do grupo e a Fundação Culturgest publicar os seus contratos, fonte oficial respondeu: "a CGD tem natureza de sociedade comercial, embora de capitais públicos. Tendo em consideração esta natureza, e ainda o facto de não praticar actos materialmente administrativos, não é considerada contraente público para efeitos do Sistema Nacional de Compras Públicas".

Entre as quinze câmaras que não publicaram nenhum contrato, só a de Fornos de Algodres respondeu à solicitação do i e para dizer apenas que "o município não publicitou nenhum procedimento de aquisição de bens e serviços no primeiro trimestre, porque não realizou nenhum contrato com esse âmbito".

TDC REFORÇA A OBRIGATORIEDADE 

Solicitado a comentar toda esta informação, a posição do Tribunal de Contas(TdC) não deixa margem para dúvidas. "O Código dos Contratos Públicos prevê no seu art.o 465.o a obrigação de publicitação no portal da internet dos elementos referentes à formação e à execução dos contratos públicos, cabendo à entidade contratante o cumprimento dessa obrigação", começou por dizer a porta-voz do TdC, lembrando que "o art.o 127 do CPC prevê que a não publicitação gera a ineficácia dos contratos, nomeadamente em termos de pagamentos".

"O TdC e o Conselho de Prevenção da Corrupção têm recomendado o cumprimentos das regras respeitantes à transparência" e "têm insistido nestes pontos, verificando-se que o legislador tem seguido estas preocupações", afirmou ainda a mesma fonte. Em relação às falhas dos órgãos de soberania referidos, o TdC limitou-se a referir que "tem procedido à sistemática análise e acompanhamento das suas contas".

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Guiné Equatorial: "A CPLP não pode ser a instituição mais puritana do mundo - Pedro Pires




O antigo Presidente da República de Cabo Verde Pedro Pires considerou hoje que a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) não pode "ser a instituição mais puritana do mundo" e deve aceitar a Guiné Equatorial como membro.

Em declarações à Agência Lusa à margem de uma conferência sobre o investimento na América Latina, Pedro Pires afirmou que apesar de não já não estar na política ativa, considera que "as opções estratégicas dos Estados africanos e dos membros da CPLP devem ser respeitadas".

Os Estados, explicou, "decidem por interesses ou objetivos estratégicos", por isso "se estrategicamente é possível e desejável [a entrada da Guiné Equatorial], não vejo razões para que não o façamos".

Agência Lusa

Angola: CHEFE DE ESTADO MERECE O NOBEL



José Ribeiro e Artur Queiroz

O cónego Apolónio é figura de destaque da Igreja Católica angolana. Ao mesmo tempo é um cidadão empenhado nos destinos do seu país. A propósito de mais um aniversário da Paz concedeu ao Jornal de Angola uma entrevista exclusiva.

Fala dos longos anos de guerra, da “harmonia e felicidade” de hoje, da sua paróquia no Projecto Nova Vida e do grande desafio que abraçou: a gestão dos complexos escolares da Centralidade de Cacuaco.

Jornal de Angola - A igreja de São Carlos Lwanga continua a ser a sua casa?

Cónego Apolónio - Tenho uma ligação muito profunda à comunidade da urbanização Nova Vida. Começámos alguns, debaixo de um alpendre e hoje somos aos milhares a professar a fé.

JA - Como vê estes 12 anos de paz?

CA - Para mim, mas também para milhões de angolanos, este período foi uma bênção.

JA - Como define essa bênção?

CA - Significa bem-estar, prosperidade, harmonia e felicidade. Os angolanos sentem agora que está a acontecer tudo quanto de bom aspirávamos.

JA - Está a acontecer tudo o que esperava?

CA - Quem quer ver a realidade sabe que melhor não era possível. Mas somos todos seres humanos, temos as nossas limitações, dificuldades. Há muito por fazer e podemos fazer muito melhor. O importante é que sinto nas pessoas um grande espírito de abertura e têm esperança. Sabem que ainda temos pouco mas de ano para ano vamos ter cada vez mais, muito mais. Posso dizer que estes 12 anos têm uma marca: sucesso.

JA - O seu optimismo não é exagerado?

CA - Não. Os angolanos sabem quanto custou a paz, quantas vidas foram ceifadas. Milhares de mulheres e homens não estão entre nós para verem o sucesso que vivemos hoje. Deram as suas vidas, souberam morrer pela causa da liberdade e da justiça. Mas essas sementes caíram em terra fértil e estão a dar bons frutos, dão mais vida. Como sacerdote, agradeço a Deus por hoje termos a paz. O meu sentimento é de reconhecimento para com aqueles que nos deram tudo com abnegação da própria vida por Angola.

JA - Quais foram os principais ganhos da paz?

CA - São tantos! As novas escolas que todos os dias abrem, as unidades hospitalares, os centros de formação, as novas centralidades em certos pontos do país, as estradas que hoje permitem a circulação de pessoas e bens, as missões reabilitadas que durante tantos anos estiveram abandonadas, os camiões que todos os dias atravessam Angola de lés-a-lés. A reabilitação das infra-estruturas vitais para o desenvolvimento do país. O sentimento de responsabilidade que hoje se respira no seio das comunidades, nas aldeias e nas cidades. Os ganhos da paz chegaram sobretudo aos lugares mais recônditos da nossa Angola. A democracia plena! Em tão poucos anos, conseguimos aprofundar e fortalecer o regime democrático.

JA - Há quem defenda que não existe democracia em Angola…

CA - São opiniões que eu respeito, mas discordo. O medo desapareceu dos corações dos angolanos. Isso só foi possível porque vivemos em democracia. Existe oposição porque há democracia. Vemos isso todos os dias na comunicação social. A democracia calou as armas e deu a palavra ao Parlamento. A tolerância, o diálogo, o respeito pela opinião contrária fazem parte da vida quotidiana dos angolanos. Isto é democracia. Há evangelização em todo o país, sem medo das emboscadas, como acontecia antes da paz. Muitos sacerdotes, freiras e catequistas foram mortos no desempenho da sua missão pastoral. Hoje há liberdade religiosa. Só não vê isto quem não quer.

JA - Qual foi o papel da Igreja na conquista da paz?

CA - A Igreja sempre foi uma força de paz, por isso o nosso contributo foi importante. Mas além de agradecer a Deus estes poucos anos de paz, quero publicamente agradecer ao Presidente José Eduardo dos Santos. Aqueles que lhe chamam o arquitecto da paz arranjaram a expressão mais feliz para definir a sua acção política. O Presidente da República hoje está a trabalhar para a paz no continente. Muitos líderes africanos procuram-no para beberem a nossa experiência. Como angolano, sinto um grande orgulho por sermos um país pacífico e promotor da paz. Já dizia o Mestre: “Bem-aventurados os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus”. 

JA - A Igreja nos anos de guerra como actuou?

CA - A Igreja, nos anos de guerra, nunca deixou de pregar a harmonia e a fraternidade. Apelámos ao sentido de responsabilidade dos cidadãos, promovemos a paz no seio das famílias. Os bispos mostraram que para conquistarmos a paz, não podíamos cruzar os braços. Levámos às comunidades esta mensagem: a paz só se realiza com o trabalho digno. A Igreja esteve sempre comprometida com a concórdia e o bem-estar no seio das comunidades. A Igreja durante a guerra foi sempre mãe e mestra.

JA - Mestra em que sentido?

CA - Na promoção dos valores morais, da cultura, da ética da vida. A democracia admite tudo, até exageros comportamentais, por isso a Igreja tem esta vocação de zelar pela moral. Não podemos permitir que à sombra da democracia sejam destruídos os valores essenciais. A nossa cultura tem respeito pela natureza. Em Angola não há níveis elevados de preocupação no que diz respeito à ética da vida, mas temos de estar atentos.

JA - O Papa Francisco é tolerante com a homossexualidade. Qual é a sua posição?

CA - Nós somos africanos, temos de defender a nossa cultura. Na minha família, graças a Deus, não há gays. Mas no dia em que isso acontecer, vou ficar preocupado. Não sou contra o pensamento do Santo Padre, aliás concordo com Ele, que eu saiba o Papa Francisco como líder de milhões e milhões de cristãos, respeita mas não aprova o homossexualismo, respeitar é diferente de aceitar. E dentro da minha cultura e creio, na do Papa também, como na nossa Igreja Católica a homossexualidade não é aceitável como algo normal e natural.

JA – Com que fundamentos?

CA - Se todos os homens e mulheres optassem por relações homossexuais a Humanidade desaparecia. Eu não quero isso. Se Deus aprovasse o homossexualismo não teria formado a mulher para o homem. Recordemo-nos da frase bíblica: O homem deixará o pai e a mãe para se unir à sua mulher e os dois serão uma só carne. E mais, Deus disse: Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. É preciso seguir a Bíblia.

JA - O que pensa do aborto?

CA - Obviamente, sou contra. A Lei angolana e a Constituição da República nesse aspecto são exemplares. Felicitamos os nossos legisladores. A Igreja não aceita o aborto.

JA - Como se sente a gerir os complexos escolares da Cidade de Cacuaco?

CA - Sinto-me bem, porque este projecto representa a realização de um sonho. Estive sempre ligado à Educação. Nos dias que se seguiram a tomada de posse do Presidente José Eduardo dos Santos, em 1979, ouvi-o dizer que tínhamos de apostar na Educação, para construirmos uma Angola justa e próspera. Nessa altura tinha 19 anos e impus a mim próprio a necessidade de continuar a estudar seriamente e um dia participar na Educação dos angolanos. Sou fruto dessa prioridade definida pelo Presidente da República.

JA - Porque veio para a Cidade de Cacuaco?

CA - Sou um homem da Bíblia, por isso, faço tudo para levar o saber e a educação aos pobres. Espero não ser condenado por estar a contribuir para a dignidade dos mais necessitados. Por uma solicitação para maior empenho pessoal na Educação da nossa gente, hoje estou aqui na Centralidade de Cacuaco, até podia ser num outro lugar. As instalações são excelentes, temos todos os meios, vamos conseguir. Mas estamos a começar do zero com a ajuda das nossas instituições do Estado. É necessário muita paciência. Apesar de tudo, estamos a responder às necessidades destas famílias. Aqui não vivem ricos.

JA - A centralidade tem excelentes instalações escolares. Onde está a Igreja?

CA - Como estrutura física ainda não existe, mas são muitos os fiéis, e os padres da diocese de Caxito já celebram a missa dominical num dos pavilhões desportivos. O terreno para construir a igreja está definido e em breve quem sabe pode arrancar a construção. Já tenho a experiência da urbanização Nova Vida como se começa do zero. Acredito que os meus colegas saberão corresponder aos grandes desafios da fé destas populações da centralidade e naquilo que eu puder ajudar, fá-lo-ei em nome da Igreja e da Pátria.

JA - Quem escolhia para o Nobel da Paz: Papa Francisco ou José Eduardo dos Santos?

CA - Se dependesse de mim, o Prémio Nobel deste ano era o Presidente José Eduardo dos Santos. O Santo Padre é sempre um homem de paz, reconhecemos nele o Doce Cristo na terra. Esse título nobre por justiça, desta vez, ficava bem no Presidente da República porque ele conseguiu a paz e sobretudo a reconciliação entre os angolanos. Hoje é a figura central da paz em África. No nosso contexto angolano, não conheço nenhuma figura mundial que tenha feito mais e melhor pela paz entre a Humanidade.
  
JA - Que qualidade pessoal distingue?

CA - O nível de tolerância do Presidente da Republica é infinito. Todos os dias é ofendido e ele tolera essas ofensas. Imagino o que aconteceria se os ofendidos fossem os seus opositores. Não sei se os ofensores sobreviviam. Há quem já tenha sido distinguido com o Nobel da Paz sem ter feito nada. O Presidente José Eduardo dos Santos fez tudo para merecê-lo. Sem dúvida que a paz em Angola é uma referência mundial. 

JA - Os críticos dizem que Angola tem apenas uma paz militar.

CA - Os que dizem isso é porque amanhã querem fazer uma guerra. Mas de uma coisa podem estar certos: nunca será com o apoio do Povo Angolano. Eu tenho amigos da UNITA que nem querem mais ouvir falar de guerra. Eles testemunharam pela maldita guerra a grande desgraça que se abateu sobre os angolanos. Esta paz que agora faz 12 anos é um desejo sincero dos nossos corações. Não é só o calar das armas. O mundo ficou admirado com a paz e a reconciliação nacional. Também por isto, O Presidente José Eduardo dos Santos merece o Nobel da Paz pelo que tem feito por assegurar a nossa paz em Angola e na região Austral. Digo-o com responsabilidade, neste momento não conheço no mundo político, que mereça tanto.

Perfil

Apolónio Alberto António Graciano nasceu no Lobito, onde fez os estudos primários e secundários. O avô materno era catequista da antiga capela de S. Luís da Catumbela, nos anos 50,  mas essa era a única ligação familiar à Igreja. Aos 18 anos ingressou no Seminário Médio do Bom Pastor de Benguela e logo depois no Seminário Maior de Cristo Rei, no Huambo. Depois foi para Luanda onde conclui o curso de Teologia. 

Em 26 de Janeiro de 1992, iniciou funções como secretário do cardeal D. Alexandre do Nascimento. Em 1996 partiu para Roma onde se Licenciou em Direito Canónico e obteve o Título de Mestre e com especialização em Organização Eclesiástica e Governo da Igreja pela Universidade da Santa Cruz. 

É cónego da Sé de Luanda mas dedica grande parte do seu tempo à paróquia de São Carlos Lwanga, na urbanização Nova Vida. Hoje está a viver um desafio empolgante: é o responsável pela gestão dos complexos escolares da Cidade de Cacuaco, uma das novas centralidades de Luanda.

Jornal de Angola

Angola: DESERÇÕES NO CASA... E NÃO É VIOLÊNCIA DOMÉSTICA



Jornal de Angola - Casimiro Pedro cartoon

ANGOLANOS VIVEM MAIS



André dos Anjos

A esperança de vida em Angola subiu de 47 para 51 anos, nos últimos 12 anos, período durante o qual as taxas de vacinação passaram de 48 para 91 por cento. O índice de mortalidade de crianças menores de cinco anos baixou de 250 para 195 em cada mil crianças nascidas e as infra-estruturas hospitalares duplicaram, revelou o secretário de Estado da Saúde.

Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, Carlos Alberto Masseca disse que o Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário, em execução há dois anos, visa consolidar as conquistas alcançadas no sector, humanizar os serviços de saúde e tornar o acesso dos doentes cada vez mais fácil.

Jornal de Angola (JA) - Como actualmente avalia o Serviço Nacional de Saúde?

Carlos Alberto Masseca (CM) - Durante muitos anos, a principal causa de mortalidade no país foi a guerra, que só terminou há 12 anos. O fim da guerra permitiu a livre circulação de pessoas e bens, o regresso de populações deslocadas às suas zonas de origem e descongestionou os principais centros urbanos. Por iniciativa do Executivo, parte significativa dos recursos que era absorvida pela guerra passou a ser canalizada para os sectores sociais, que incluem a saúde.

JA - Quais são os ganhos de maior destaque?

CM - As melhorias em matéria de saúde devem ser vistas de forma integrada. Os esforços desenvolvidos para a melhoria do acesso à água potável, energia eléctrica, alimentação e o aumento dos rendimentos familiares concorreram para a redução da mortalidade materna de 1.400 para 450 em cada 1.000 mulheres. A mortalidade de menores de um ano, que em 2001, era de 150 baixou para 116 em cada 1.000 crianças. O índice de mortalidade de menores de cinco anos baixou de 250 para 195 casos em cada 1.000 crianças. A esperança de vida à nascença, que, em 2001, era de 47 anos subiu para os 51 anos. A taxa de cobertura de vacinação passou de 48 para 91 por cento. As unidades sanitárias passaram de 1.450 unidades para 2.328. A poliomielite está controlada.

JA - Como está o sector em recursos humanos?

CM - Os quadros do sector em todos os momentos estiveram sempre ao lado das populações, mesmo quando as condições militares eram difíceis. Muitos deles perderam a vida em socorro das populações. Foram os técnicos de saúde que no fim do conflito armado, num momento extremamente difícil para os angolanos, garantiram assistência a todos, sem qualquer distinção. O Serviço Nacional de Saúde é o segundo maior empregador da Função Pública, depois do sector da Educação. Integra 71.267 trabalhadores, dos quais 3.940 são médicos.

JA - O número de médicos responde às necessidades do país?

CM - Com o apoio do departamento de Educação Ministerial relançámos, em todo o território nacional, os cursos de formação média com pacote de 12 especialidades nas áreas de enfermagem e tecnologia de Saúde. O Departamento Ministerial de ensino superior criou cinco novas Universidades com Faculdades de Medicina e nove institutos superiores politécnicos com cursos de Saúde e continua a enviar bolseiros para o exterior. Neste momento, o país forma 300 médicos por ano, número que deve aumentar para mais de 500 nos próximos dois anos.

JA - Que acções estão previstas no plano de desenvolvimento?

CM - No quadro do Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário, o Ministério da Saúde estendeu os cursos de especialização médica, com a criação de internatos de especialidades nas províncias de Cabinda, Malanje, Benguela, Huambo e Huíla. E está a criar condições para pós-graduação em diversas especialidades. Tem em curso o relançamento dos núcleos de formação permanente nas direcções provinciais de Saúde e nos hospitais provinciais e municipais.

JA - Quais são as grandes metas do plano?

CM - O Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário é uma orientação estratégica do Presidente da República, que visa consolidar os êxitos alcançados no sector da Saúde. A política de saúde e o plano estão em revisão. Está prevista a integração de profissionais não formados nas áreas de ciências de saúde, como economistas, gestores, psicólogos, sociólogos, antropologistas e engenheiros, tendo em conta a prestação de serviços integrados. Um papel importante está reservado a agentes comunitários de saúde, que devem actuar como elos de ligação entre as unidades sanitárias e as comunidades.

JA - Como estamos em termos de infra-estruturas?

CM - Os esforços feitos nos últimos 12 anos, em termos de reabilitação e construção de infra-estruturas, são indiscutíveis. O Serviço Nacional de Saúde conta, actualmente, com 2.328 unidades hospitalares, 15 hospitais nacionais, 42 provinciais e 168 municipais. Durante os últimos 12 anos foram criados serviços de alta complexidade nos hospitais centrais. Neste momento, estamos a incrementar o programa de melhoria dos hospitais. Todo este esforço reduz substancialmente a transferência de doentes para o exterior do país.

JA - Como está a decorrer o processo de municipalização dos serviços de saúde?

CA - A municipalização está enquadrada no processo de desconcentração e descentralização dos serviços de saúde. Visa garantir os cuidados primários de saúde, em todos os pontos do país, da cidade à aldeia. Prevê acções de carácter individual e colectivo, que englobam a promoção da saúde, a prevenção e tratamento de doenças. No quadro da cooperação com o Governo cubano foram colocadas em 70 municípios equipas constituídas por um médico de família, uma enfermeira licenciada e um especialista em ginecologia e obstetrícia. Nestes municípios reside 80 por cento da população angolana.

Jornal de Angola – foto Eduardo Pedro

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