sexta-feira, 3 de maio de 2013

Portugal: Passos anuncia nova taxa sobre as pensões e dispensa 30 mil funcionários públicos




Jornal de Notícias

O primeiro-ministro anunciou, esta sexta-feira, que o Governo "não irá aumentar impostos" para "evitar um segundo pedido de resgate". A rescisão de cerca de 30 mil contratos na Função Pública e uma nova taxa sobre as pensões são algumas das medidas anunciadas por Passos Coelho para cortar na despesa do Estado.

O primeiro-ministro referiu que estas medidas permitirão cortar 4,8 mil milhões de euros na despesa pública até 2015 e salientou que estão abertas a discussão.

O Governo quer rescindir com 30 mil funcionários públicos e vai propor que isto seja feito através de rescisões por mútuo acordo, anunciou Pedro Passos Coelho. Numa declaração ao país, o primeiro-ministro defendeu que esta medida se justifica pela necessidade de redimensionar o tamanho do Estado e para cumprir as metas de consolidação orçamental para os próximos anos.

"O plano de rescisões por mútuo acordo, ajustado às necessidades técnicas da Administração Pública. O que por sua vez conduzirá a uma diminuição do número de efetivos. Este plano - que recordo será de mútuo acordo - deverá ser acompanhado por um novo processo de reorganização dos serviços implicando uma redução natural das estruturas e dos consumos intermédios. Combinando o novo sistema de requalificação da Administração Pública, com o plano de rescisões, estimamos abranger cerca de 30 mil efetivos", afirmou o primeiro-ministro.

O Governo já tinha dito que estes planos vão começar a ser negociados com os sindicatos e que as rescisões deveriam avançar até ao final deste ano.

"Precisamos de aprofundar a convergência do regime de trabalho dos funcionários públicos às regras do Código do Trabalho aplicáveis a todos os trabalhadores do setor privado, designadamente através da fixação do período normal de trabalho no regime regra das 40 horas por semana, como sucede de resto na maioria dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económicos", declarou o primeiro-ministro.

"Também aqui se coloca a questão da igualdade entre todos os trabalhadores portugueses", considerou. A medida, conforme consta da carta enviada à "troika",uma poupança de 600 milhões de euros, até 2015.

Passos Coelho avançou que "tanto a transformação do sistema de mobilidade especial num sistema de requalificação da Administração Pública, como o regime de trabalho das 40 horas na função pública terão de vigorar já em 2013".

Passos Coelho anunciou a introdução de um limite de 18 meses para a permanência na mobilidade especial, para além de anunciar a sua transformação num "novo sistema de requalificação da Administração Pública, com o objetivo de promover a requalificação dos trabalhadores em funções públicas".

O Governo quer ainda aumentar em 0,75% a contribuição para a ADSE já este ano, e mais 0,25% no início de 2014.

Por sua vez, a idade de reforma sem penalizações passa para os 66 anos de idade para garantir a sustentabilidade da Segurança social. "A idade legal para a reforma mantém-se nos 65 anos, mas só aos 66 anos não haverá qualquer penalização no valor da pensão", disse Passos Coelho.

O Governo quer criar uma contribuição sobre as pensões, que deve render aos cofres do Estado cerca de 436 milhões de euros. "Precisamos de equacionar uma contribuição de sustentabilidade das pensões, com garantia de salvaguarda das pensões mais baixas", afirmou Passos Coelho. O chefe do executivo disse ainda que essa contribuição deverá ser indexada ao crescimento económico.

Os ministérios do Estado vão ter de cortar algumas rubricas das despesas correntes em 10% já em 2014. "Precisamos de mandatar os ministérios para proceder a reduções de encargos no mínimo de 10%, face a 2013, em despesas com aquisições de bens e serviços e outras despesas correntes", afirmou Passos Coelho.

Pedro Passos Coelho disse que em breve será apresentado um documento sobre a reforma do Estado que detalhará as medidas de redução estrutural da despesa. "As medidas que acabei de enunciar perfazem, no seu conjunto, cerca de 4,8 mil milhões de euros até 2015. É por isso que devem ser vistas como um conjunto de alternativas mais completo para atingirmos o nosso objetivo de perto de 4 mil milhões", declarou.

"Serão estas duas medidas permanentes que complementarão as medidas de redução de despesa já anunciadas pelo Governo - e que estarão incluídas no orçamento retificativo que será apresentado no parlamento até ao final deste mês - que substituirão as normas do Orçamento do Estado invalidadas pelo Tribunal Constitucional", acrescentou o primeiro-ministro.

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Portugal - PORTAS: EU É OUTRO




Fernanda Câncio – Diário de Notícias, opinião

A 26 de abril, a publicação de uma sondagem no i dava o PP a subir. Na notícia correspondente, lia-se: "O CDS é o segundo partido da oposição que mais sobe." Entretanto corrigida, a frase é testemunho da fenomenal operação de acrobacia, derrisão e vampirismo que Portas e o seu PP têm vindo a desenvolver desde a formação do Governo.

Sustentar um Executivo que toma medidas brutais e mesmo assim pretender que se opõe, lágrima no olho, a cada malfeitoria. Plantar notícias nos jornais sobre supostos enfrentamentos homéricos em conselhos de ministros e largar venenos sortidos sobre colegas de Governo para surgir como o parceiro "bom" da coligação, o que está lá para garantir que as coisas não serão tão más como poderiam ser, numa espécie de imolação dos seus princípios para nos salvar. Afetar sentido de Estado, quando é exatamente o papel de vítima que lhe convém, perante sucessivas humilhações infligidas pelo PM - da certificação, numa entrevista televisiva pós-episódio da TSU, de que o seu número dois é Gaspar ao desprezo a que votou o líder parlamentar do CDS no último debate quinzenal, passando pelo facto de, perante o chumbo de várias medidas pelo Tribunal Constitucional, ter ido a Belém certificar a viabilidade do Governo acompanhado, não do líder do outro partido da maioria, mas do ministro das Finanças. Registar no anedotário nacional da provocação passiva-agressiva os silêncios, ausências, expressões faciais e pronunciamentos do líder, com o monólogo sobre a TSU no top. Exigir remodelações e alterações de política a várias vozes do partido - enquanto no Parlamento não só vota a favor de tudo como se ergue em êxtase ante o discurso presidencial que diz não haver alternativa.

É isto o PP: o partido que enche a boca com a família, os reformados e desfavorecidos mas tem um ministro da Segurança Social que cortou 6% ao subsídio de desemprego e 5% ao de doença (e veremos hoje às oito da noite o que lhes vai cortar mais), que esmifrou o complemento solidário dos idosos (a medida que mais contribuía para a redução da pobreza da terceira idade), que diminuiu o RSI das crianças e que tirou dinheiro ao subsídio de parentalidade. O partido que manda cartas aos militantes a jurar que "com ele" não se aumentarão mais impostos e a seguir vota o maior aumento fiscal da democracia portuguesa.

Se tinha ideário, deixou de o ter - à exceção do programa de sempre de Portas: sobreviver e acabar com o PSD para poder ser um dia PM. "Eu é outro", diz, como Rimbaud, o PP (Paulo e o partido): estou no Governo e fora, faço o mal e a caramunha, olhem como sou esperto. Estará a resultar? A última sondagem diz que sim. Mas hoje, ao ouvir Passos, não se esqueça que tudo o que ele anuncia tem a assinatura de Portas. Além de indecorosamente traiçoeiro (de molde a enojar até quem execre o PM), o jogo que joga com tão óbvio deleite tem o País - a nós - como bola de trapos. E se lhe perguntarem se sabe, ele sabe.

ALEMANHA, AUSTERIDADE E PREDESTINAÇÃO DIVINA





Mesmo após sugestão dos EUA de que flexibilizasse a austeridade, o super-ministro alemão Wolfgang Schäuble disse que "devemos parar com este debate que nos diz que temos de optar entre austeridade e crescimento". Realmente não será fácil convencê-lo. A razão alemã tem um lastro de predestinação divina que o filósofo Fichte definiu bem em 1807. Por Boaventura de Sousa Santos.

Boaventura de Sousa Santos – Carta Maior  

Na reunião de nove de abril entre o secretário do Tesouro norte-americano e o super-ministro alemão Wolfgang Schäuble, ficou provado que o fundamentalismo neoliberal domina hoje mais na Europa que nos EUA. À recomendação feita por Jacob Lew de que a Europa atenue a ênfase na austeridade e promova o crescimento econômico, respondeu desabridamente o ministro alemão que "na Europa ninguém vê uma contradição entre consolidação fiscal e crescimento" e que "devemos parar com este debate que nos diz que temos de optar entre austeridade e crescimento". Provar que há alternativas ao diktat alemão do nacional-austeritarismo e que elas são politicamente viáveis é o maior desafio que as sociedades europeias, a portuguesa incluída, hoje defrontam. 

O desafio é comum, ainda que a sua concretização varie de país para país. A história europeia mostra de maneira muito trágica que não é um desafio fácil. A razão alemã tem um lastro de predestinação divina que o filósofo Fichte definiu bem em 1807, quando contrapôs o alemão ao estrangeiro desta forma: o alemão está para o estrangeiro como o espírito está para a matéria, como o bem está para o mal. Perante isto, qualquer transigência é sinal de fraqueza e de inferioridade. O próprio direito tem de ceder à força para que esta não enfraqueça. 

Quando, no começo da primeira guerra mundial, há quase um século, a Alemanha invadiu e destruiu a Bélgica, sob o pretexto falso de se defender da França, violou todos os tratados internacionais, dada a neutralidade daquele pequeno país (as agressões alemãs tendem historicamente a tomar como alvo inicial os países mais fracos). Sem qualquer escrúpulo, o chanceler alemão declarou no parlamento: "A ilegalidade que praticamos havemos de procurar reparar logo que tivermos atingido o nosso escopo militar. Quando se é ameaçado e se luta por um bem supremo, cada qual se governa como pode".

Esta arrogância não exclui alguma magnanimidade, desde que as vítimas se portem bem. Da nota que a chancelaria alemã enviou à chancelaria belga em dois de agosto de 1914 - um documento que ficará na história como um monumento de mentira e felonia internacionais - constam as condições 3 e 4 que rezam assim: 

"3. Se a Bélgica observar uma atitude benévola, a Alemanha obriga-se, de acordo com as autoridades do governo belga, a comprar contra dinheiro contado tudo quanto for necessário à suas tropas e a indemnizar quaisquer danos causados na Bélgica pela tropas alemãs. 4. Se a Bélgica se comportar de um modo hostil às tropas alemãs e se, especialmente, levantar dificuldades à sua marcha... a Alemanha será obrigada, com grande desgosto seu, a reputar a Bélgica como inimiga". 

Ou seja, se, como diríamos hoje, os belgas fossem bons alunos e se deixassem instrumentalizar pelos interesses alemães, o seu sacrifício, se bem que injusto, receberia uma hipotética recompensa. Caso contrário, sofreriam sem dó nem piedade. Como sabemos, a Bélgica, inspirada pelo Rei Alberto, decidiu não ser boa aluna e pagou por isso o elevado preço da destruição e dos massacres, uma agressão tão vil que ficou conhecida como a "violação da Bélgica".

Dada esta superioridade über alles, humilhar a arrogância alemã tem sempre envolvido muita destruição material e humana, tanto dos povos vítimas dessa arrogância como do povo alemão. Claro que a história nunca se repete e que a Alemanha é hoje um país sem poder militar e governado por uma vibrante democracia. Mas três factos perturbadores obrigam os restantes países europeus a tomar em conta a história. Em primeiro lugar, é perturbador verificar que o poder económico alemão está hoje convertido em fonte de uma ortodoxia europeia que beneficia unilateralmente a Alemanha, ao contrário do que esta quer fazer crer.

Também em 1914 o governo imperial pretendia convencer os belgas de que a invasão alemã do seu país era para seu bem, "um dever imperioso de conservação", e que " o governo alemão sentiria vivamente que a Bélgica reputasse [a invasão] como um ato de hostilidade", como se escreve na infame declaração já referida. Em segundo lugar, são perturbadoras as manifestações de preconceito racial em relação aos países latinos na opinião pública alemã. Vem à memória o antropólogo racista alemão, Ludwig Woltmann (1871-1907) que, inconformado com a genialidade de alguns latinos (Dante, Da Vinci, Galileu, etc.), procurou germanizá-los. Conta-se, por exemplo, que escreveu a Benedetto Croce para lhe perguntar se o grande Gianbattista Vico era alto e de olhos azuis.

Perante a resposta negativa, não se desconcertou e replicou: "seja como for, Vico deriva evidentemente do alemão Wieck". Tudo isto parece hoje ridículo, mas vem à memória sobretudo tendo em mente o terceiro fato perturbador. Um inquérito realizado há pouco mais de um ano aos alunos das escolas secundárias alemãs (entre 14 e 16 anos de idade) revelou que um terço não sabia quem fora Hitler e que 40% estavam convencidos de que os direitos humanos tinham sido sempre respeitados pelos governos alemães desde 1933.

Stiglitz: AUSTERIDADE LEVA A EUROPA AO SUICÍDIO




O prêmio Nobel da Economia Joseph Stiglitz diz que nunca houve um programa de austeridade que tivesse sucesso num grande país. Como alternativa, ele propõe reorientar o investimento público, utilizando plenamente instituições como o Banco de Investimento Europeu.

Esquerda.net - Carta Maior

O economista Joseph Stiglitz disse à agência Bloomberg nesta semana que a Europa caminha para o suicídio devido às políticas de austeridade. “Nunca houve um programa de austeridade que tivesse sucesso num grande país”, afirmou.

Para o prêmio Nobel da Economia, se a Grécia fosse a única parte da Europa a aplicar a austeridade, as autoridades poderiam ignorá-la. Mas se essa política abrange França, Reino Unido e outros países europeus, as consequências econômicas são terríveis.

Stiglitz avalia a estagnação econômica leva aos níveis de desemprego politicamente inaceitáveis e que fará crescer os déficits, justamente uma das origens da crise.

O exemplo da Espanha, com 50% de desemprego jovem, é uma demonstração que “o que se está a fazer é destruir o capital humano, criando uma juventude alienada”.

O economista defende a reorientação para o investimento público, utilizando plenamente instituições como o Banco de Investimento Europeu.

O economista norte-americano tem sido um grande crítico das políticas aplicadas na Europa. Em artigo publicado no início ano no jornal alemão Handelsblatt, ele declarou que o “o risco real para a economia mundial está na Europa”.

“Se o Banco Central Europeu assume que a continuação das políticas de austeridade é condição para o financiamento, só vai piorar a condição do paciente”, considerou na ocasião.

Joseph Stiglitz afirmou ainda que a moderada acalmia que se seguiu ao anúncio do Banco Central Europeu (BCE) do mecanismo de compra ilimitada de dívida é apenas “um paliativo temporário”.

Fotos: st 

NÃO, O EURO NÃO ESTÁ EM CRISE




LIDOVÉ NOVINY, PRAGA – Presseurop – Imagem Arcadio

Não acredite na “mitologia moderna”, segundo a qual a moeda única se encontra à beira do colapso. O verdadeiro problema é que o número de perdedores, os países menos competitivos, é cada vez maior.


A alegada crise do euro dura há já vários anos. Tornou-se um fenómeno persistente, ao ponto de a “crise do euro” se ter instalado como uma rubrica permanente em alguns órgãos de informação ocidentais. À semelhança da política nacional, da economia, da meteorologia e do desporto.

A crise inscreveu-se na consciência coletiva como um fenómeno persistente. Podemos encarar as coisas de um ponto de vista positivo: vejam, cidadãos, uma crise sem precedentes na História e o euro aguenta-se. Os nossos grandes políticos sabem levar a cabo ações eficazes. São os nossos salvadores! Devíamos responder aos seus pedidos prementes e dar-lhes mais poderes. Mais Europa, isto é, mais Bruxelas, mais Comissão Europeia, mais Parlamento Europeu, etc. Só uma Europa unida será capaz de enfrentar o desafio da crise do euro! Devemos consumar a integração!

Tudo isto não passa de uma mitologia moderna. Um conto moderno que pretende justificar ideologicamente a incrível expansão do poder público ao nível das autoridades de Bruxelas, não eleitas, e dos governos dos Estados-nação. Um conto que serve para legitimar o processo contínuo de centralização do poder.

Mas, argumentarão alguns, a crise não é de modo algum uma lenda. Poderia sê-lo?

É, sim. Na sua forma cristalizada, a crise do euro é pura ficção. Para começar, uma moeda não pode estar em crise. Pode registar uma inflação elevada, mas não é esse o caso do euro, nem nunca foi. Pode registar flutuações da taxa de câmbio nos mercados internacionais. Mas não se trata de modo algum de uma crise: é um fenómeno absolutamente normal.

Ninguém pode ser expulso da zona euro

No que se refere à inflação, não há crise alguma. O mesmo se pode dizer, se considerarmos a evolução da cotação do euro. O euro tem continuado forte, nos últimos anos, espantosamente forte, para os não especialistas. Contudo, isso não tem mistério algum: a poderosa balança comercial da Alemanha mantém o euro forte. Poderá falar-se de crise, neste aspeto? Absurdo.

Sobre a zona euro não paira qualquer ameaça de colapso. Nunca pairou, nem por um instante. É preciso compreender como funciona o mecanismo da zona euro. Ninguém pode ser excluído dela. Nenhum Estado-membro pode ser expulso dela contra sua vontade. Nem mesmo na hipótese de falsificação dos dados estatísticos ou de incumprimento de pagamento, nem mesmo que os seus cidadãos decidam decorar o rosto de Angela Merkel com o bigode de Hitler. (Foi precisamente o que aconteceu na Grécia… E o país não foi excluído.)

Todos os Estados-membros são livres de abandonar a zona euro. Mas, até agora, nenhum quis fazê-lo. Porque a saída da zona euro implicaria logicamente a saída da UE. E isso significaria sair da zona de livre circulação de pessoas, bens e capitais e, por conseguinte, perder as poucas vantagens bem reais e indubitáveis que a adesão à UE oferece.

Eis o motivo pelo qual nem a Grécia quis abandonar a zona euro. Tal como Chipre.

Ninguém pode ser expulso da zona euro e ninguém quer sair dela. Fim da história. Não é de temer nenhum risco de colapso. Os eurocéticos regozijam-se em vão e os euro-otimistas assustam-se inutilmente. O euro está para durar. Não se pode dizer por quanto tempo, mas as uniões monetárias do século XIX funcionaram durante décadas. De um modo geral, só desapareceram com a guerra.

Lista dos ganhadores esgotada

O euro não está em crise. Em contrapartida, muitos dos seus utilizadores estão. As economias da Europa latina, em especial, precisariam urgentemente de uma moeda mais fraca, para aumentarem a competitividade dos seus produtos e para se tornarem destinos turísticos com preços mais acessíveis.

Os Estados-membros não podem, por princípio, desvalorizar a moeda. Ao contrário das uniões monetárias do passado, o euro proíbe essa possibilidade. Assim quiseram os artífices da ideia de uma moeda europeia comum. O seu grupo era dominado por responsáveis políticos que não consideravam a desvalorização da moeda como ferramenta padrão da política económica, mas praticamente como concorrência desleal – em suma, um golpe baixo contra os vizinhos com moeda forte.

Na visão dos pais do euro, a concorrência entre Estados-membros deveria ser exercida através do trabalho, da produtividade, da qualidade e da inovação. Uma bela ideia. Só que não se pensou no que fazer com os perdedores.

E, hoje, a maioria dos países da zona euro está prestes a perder a partida. Habituada a ter uma moeda forte, a Alemanha, cujos bancos não criaram uma bolha de crédito, sai vencedora. O mesmo é válido para a Áustria. E também para o Luxemburgo, o centro financeiro do continente.A situação de Malta, outro centro financeiro, é boa. Tal como a da Eslováquia, embora talvez seja prematuro avaliá-la, uma vez que este país entrou recentemente na zona euro. A lista dos ganhadores fica assim praticamente esgotada. A própria Finlândia deixou de estar em condições absolutamente ideais.

Renamo condena desarmamento de ex-guerrilheiros que escoltavam secretário-geral




MMT – APN - Lusa

Maputo, 03 mai (Lusa) - A Renamo, principal partido da oposição moçambicana, considerou hoje "provocação grosseira à estabilidade do país" o desarmamento de 15 ex-guerrilheiros quando escoltavam o seu secretário-geral, argumentando que têm estatuto de polícias.

Na quinta-feira, a polícia moçambicana desarmou os ex-guerrilheiros afetos à guarda presidencial do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, qualificando de "tarefas desviadas" a proteção ao secretário-geral do partido, Manuel Bissopo, em Manica, no centro do país.

Em declarações hoje aos jornalistas, o porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, contestou a atuação da polícia, lembrando que "o Acordo Geral de Paz no capítulo V, ponto três, número oito" prevê que "a Renamo será responsável pela segurança pessoal imediata dos mais altos dirigentes" do partido.

O comandante provincial da polícia em Manica, Francisco Almeida, disse que o Acordo Geral de Paz determina que os guardas são para "exclusiva proteção" do líder da oposição da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), pelo que estavam a ser "usados" fora do previsto ao acompanharem Manuel Bissopo.

"Decorreu a operação de desarmamento dos homens da Renamo, armados e uniformizados, que circulavam sob alegação de estar a proteger o secretário-geral do partido. O que está preconizado é que a única figura que tem por obrigação andar com os seus homens armados é o líder Afonso Dhlakama, dai que tivemos que repor a ordem", disse Francisco Almeida, garantido não ter havido resistência e troca de tiros.

Contudo, para Fernando Mazanga, o Acordo Geral de Paz, que pôs termo a 16 anos de conflito armado no país, refere que "o Governo da República de Moçambique concederá estatuto de polícia aos elementos da Renamo encarregados de garantir aquela segurança".

"Os pronunciamentos e atitudes do comandante provincial só podem demonstrar que a polícia, ou ele, está ao serviço do partido governamental e tem ódio da Renamo", disse Fernando Mazanga.

Em contacto hoje com a Lusa, Raul Domingos, ex-número dois e negociador chefe do Acordo Geral de Paz da parte da Renamo, considerou legítima a reclamação do maior partido da oposição moçambicana relativa ao documento assinado na capital italiana, Roma.

"Reconheço o que a Renamo diz, é um dos pontos que não foi posto em prática e agora querem dizer que já está ultrapassado", afirmou Raul Domingos.

A Renamo insurgiu-se também contra as declarações do governo de Moçambique que, nas conversações de quinta-feira, solicitou o partido da oposição a encontrar advogados para libertar os ex-militares detidos em Muxungué, Gôndola e Nampula.

"Ficamos mais preocupados ainda quando o governo deu ordens para a polícia prender os militantes da Renamo, reunidos na sua sede, a tratarem assuntos da Renamo em Muxungué, e quando exigimos a sua libertação, o Governo, na voz do ministro (José) Pacheco, chefe da delegação do governo às negociações com a Renamo, nos remete para advogados, como se se tratasse de crime", disse Fernando Mazanga.

Renamo quer que ONU devolva armas usadas durante guerra civil em Moçambique




MMT – JMR - Lusa

Maputo, 03 mai (Lusa) - A Resistência Nacional de Moçambique (Renamo) vai solicitar às Nações Unidas a devolução das suas armas, entregues ao governo moçambicano após o fim do conflito armado em 1992, disse hoje o porta-voz da força política.

Fernando Mazanga disse, em declarações a jornalistas, que "estão a correr os trâmites legais para entregar a carta à ONU", uma forma de pressão para busca de uma solução ao conflito político-militar que se vive em Moçambique.

A Renamo acusa o governo de Maputo de estar a usar as armas devolvidas contra militantes do principal partido da oposição moçambicana.

"As armas da Renamo foram entregues às Nações Unidas. As Nações Unidas entregaram estas armas à Frelimo e são estas que nos estão a combater. Já que as coisas estão neste pé de sermos combatidos por aquelas armas que foram nossas, exigimos às Nações Unidas que nos devolvam as nossas armas também para nos defendermos", disse Fernando Mazanga.

Na quinta-feira, a polícia moçambicana desarmou, em Manica, centro de Moçambique, 15 ex-guerrilheiros afetos à "guarda presidencial" do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que exerciam funções de proteção do secretário-geral do partido, Manuel Bissopo.

A Renamo considerou a ação da polícia uma "provocação grosseira à estabilidade do país", lembrando que o Acordo Geral de Paz, assinado na capital italiana, Roma, concedeu estatuto de polícia àqueles homens.

O comandante provincial da polícia em Manica, Francisco Almeida, disse que o Acordo Geral de Paz determina que os guardas são para "exclusiva proteção" do líder da oposição da Resistência Nacional de Moçambique", pelo que estavam a ser "usados" fora do previsto ao acompanharem Manuel Bissopo.

Citado hoje pela imprensa moçambicana, Manuel Bissopo considerou que "a Renamo está em desvantagem desde o Acordo de Roma", pois, entregou todas as armas que usava durante o conflito armado de 16 anos, ficando "apenas com 150 armas".

"Mas as mesmas armas estão a ser usadas pela polícia para hostilizar a Renamo, então estamos em conversações com a ONU para que nos devolva as armas", precisou Manuel Bissopo.

Na quinta-feira, o Governo de Moçambique e a Renamo retomaram a ronda negocial sobre a situação político-militar no país, com o maior partido da oposição moçambicana a exigir a presença de facilitadores internacionais, nomeadamente os da União Europeia, para mediarem o conflito.

O próximo encontro ainda não foi agendado.

GOVERNO DA GUINÉ-BISSAU DIZ QUE HÁ LIBERDADE DE IMPRENSA, sindicato discorda




MB – APN - Lusa

Bissau, 03 mai (Lusa) - O secretário de Estado da Comunicação Social do Governo de transição na Guiné-Bissau, Rogério Dias, negou hoje que haja censura ou limitação de liberdade de imprensa ou de expressão no país, como alega o sindicato dos jornalistas.

Falando na abertura de uma jornada por ocasião do Dia da Liberdade de Imprensa, que se assinala hoje, organizada pelo Sinjotecs (Sindicato de Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social), o governante rejeitou categoricamente as apreciações feitas pelo presidente do sindicato, Mamadu Candé.

De acordo com Candé, é negro o quadro da situação de liberdade de expressão e de imprensa na Guiné-Bissau, sobretudo a partir do golpe de Estado de 12 de abril de 2012, com os jornalistas a serem ameaçados e censurados nas suas atividades.

"Estamos convictos de que nem as ameaças, nem as perseguições nos farão virar as costas à nossa nobre missão de informar e formar sempre pautando pelo respeito escrupuloso dos princípios éticos e deontológicos que regem a nossa profissão", afirmou o presidente do Sinjotecs.

O secretário de Estado da Comunicação Social negou estas alegações de Mamadu Candé, considerando mesmo que há mais liberdade de expressão na Guiné-Bissau desde o golpe de Estado.

"Vendo as múltiplas abordagens feitas à situação do país, as formas como os profissionais de comunicação social têm tratado os assuntos da nossa sociedade, chegaremos facilmente a conclusão de que, de facto, não tem faltado a liberdade de imprensa no nosso país", defendeu Rogério Dias.

"Tem havido, ao longo desse tempo, uma ou outra situação que não tem abonado para a plenitude da liberdade de imprensa, refiro-me a um estágio de vivência máxima de liberdade de imprensa, mas é utópico acreditar que a liberdade de imprensa deve ser exercida a cem por cento", sustentou Dias.

"Nós não conhecemos uma sociedade onde a liberdade de imprensa é vivida a cem por cento", acrescentou ainda o governante, reforçando que os profissionais de comunicação social "podem exercer a liberdade de imprensa desde que esse exercício não colida com os valores fundamentais da sociedade".

Para Rogério Dias, a liberdade de imprensa não pode pôr em causa a unidade nacional, a soberania, a paz e a estabilidade do país. "O regime saído do golpe de Estado é pela abertura à liberdade de imprensa", notou Rogério Dias.

EMPRESA ESTATAL DE COMUNICAÇÕES DA GUINÉ-BISSAU PODE FECHAR, alerta sindicato




FP – APN - Lusa

Bissau, 03 mai (Lusa) - A empresa da Guiné Telecom/Guiné Tel, do Estado da Guiné-Bissau, tornou-se inviável e pode fechar em breve se o governo não tomar medidas, alertou hoje o sindicato da empresa.

Em conferência de imprensa, o presidente do sindicato, David Mingo, afirmou que os funcionários estão preocupados com a "situação difícil da empresa" e sem entender por que razão "o governo lhes virou as costas".

O responsável lembrou que o governo anterior ao golpe de Estado de 12 de abril tinha negociado um fundo (mais de 10 milhões de euros) com o Banco Oeste Africano de Desenvolvimento (BOAD) para fazer o saneamento e valorização da empresa para depois a privatizar.

De acordo com David Mingo, foram pagas as dívidas da empresa mas o restante dinheiro para investimento nunca chegou a ser disponibilizado e está num banco, à ordem do governo e do BOAD. Hoje, disse, "a empresa está num estado de desprezo" e nem dinheiro tem para comprar combustível ou equipamentos.

O sindicato, disse, tem alertado o governo desde janeiro mas apenas tem recebido promessas de que o problema será solucionado "em breve". Segundo o sindicalista, o governo nomeou um presidente do conselho de administração que recebe mais do que recebia o anterior, e em vez de um vogal nomeou dois, também com salários mais elevados.

"Estamos à beira de fechar as portas, não temos condições para funcionar", disse David Mingo, que não sabe o que o governo, "o maior devedor da empresa", quer fazer.

Dicoliof Sanhá, porta-voz do sindicato, disse também na conferência de imprensa que a empresa não tem capacidade para suportar gastos em gestores que ganham mais de mil euros por mês e que é preciso que "o governo ponha mão rapidamente na empresa", sob pena de ela fechar já no fim do mês.

"O governo não quer resolver o problema de uma empresa que é cem por cento dele", acusou.

A Guiné Telecom (rede telefónica fixa) e Guiné Tel (rede móvel) são empresas detidas exclusivamente pelo Estado guineense. Foram criadas mediante acordo entre o Estado guineense e a Portugal Telecom, que saiu da Guiné-Bissau em 2009. Desde 2004 que a empresa tem dificuldades técnicas e financeiras.

A 22 de julho de 2011 o então primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, anunciou que o governo estava a trabalhar no saneamento e revalorização do património da Guiné Telecom para seguidamente privatizar a empresa.

A UCCLA E A APICULTURA CONTRA A POBREZA NA GUINÉ-BISSAU




Valorização da Apicultura nas Regiões de Bafatá e Gabu 

Inauguração de exposição fotográfica

Terá lugar no próximo dia 6 de Maio, às 18.30 horas, no Centro Cultural Português, em Bissau, a inauguração da exposição de fotografias sobre a Valorização da Apicultura no Leste da Guiné-Bissau (Regiões de Bafatá e Gabu), num projeto da UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa), Federação Nacional dos Apicultores de Portugal, Instituto Politécnico/Escola Superior Agrária de Bragança e Aprodel.

Projeto financiado pela União Europeia/Delegação junto da República da Guiné-Bissau, Camões - Instituto da Cooperação e da Língua e Governo da Guiné-Bissau.

No mesmo dia, pelas 17.00 horas, terá lugar uma palestra subordinada ao tema “A Apicultura no contexto do desenvolvimento rural”, conduzida pelos presidentes da Federação Nacional de Apicultores de Portugal e da Associação de Apicultores do Leste da Guiné-Bissau.

A exposição irá estar patente ao público de 6 a 16 de maio.

Dados adicionais:

Projeto, realizado entre março de 2010 e abril de 2013, que pretendeu contribuir para valorizar a apicultura como recurso económico na luta contra a pobreza nas Regiões de Bafatá e Gabu. Procurou-se dinamizar a Fileira Apícola, incentivando as comunidades locais a um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, através do reforço da capacidade produtiva dos apicultores, da introdução de tecnologias adequadas de processamento dos produtos e do desenvolvimento de oportunidades comerciais e de mercado.

Deste modo foi criada uma associação de apicultores e pequenas organizações sectoriais (9 agrupamentos), dotada de recursos técnicos e materiais, envolvendo um total de 200 apicultores; a marca “Badjudessa”; reforço de capacidades; dotação de instalações; unidade industrial e equipamentos produtivos.

Informação da UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa

Rua de São Bento, n.º 640
1250-222 Lisboa
Telefone: + 351 213 845 600

Portugal: A FADIGA PRESIDENCIAL




Manuel Maria Carrilho – Diário de Notícias, opinião

A crise tende a multiplicar os impasses, os impasses tendem a aprofundar a crise. Assim se adensa, tanto na vida das pessoas como na das nações, o carrossel de todos os dramas. E o pior que nestas situações pode acontecer é ficar-se preso na teia do que Gregory Batteson designou uma vez como o "double bind".

Trata-se de um dilema que coloca uma pessoa ou uma comunidade perante mensagens ou exigências conflituantes, de tal modo que bloqueia qualquer saída, dando origem a comportamentos paradoxais. É o que acontece quando um professor diz a um aluno "para não ser tão obediente" - ele deve obedecer-lhe desobedecendo ou desobedecer-lhe obedecendo?

Aníbal Cavaco Silva já tinha revelado tendência para a criação deste tipo de situações paradoxísticas, colocando frequentemente os portugueses perante dilemas semelhantes, ao declinar variações discursivas que consistem em acentuar vivamente uma perspetiva para, logo depois, apontar no sentido oposto.

Foi assim que, depois de denunciar com vigor a espiral recessiva que ameaçava o País, veio defender sem equívocos a política que a provocou e os protagonistas que a incentivaram. Que, depois de denunciar a incompetência da troika, do seu memorando e do seu acompanhamento, veio exigir e aplaudir o seu cego cumprimento. Que, depois de denunciar a desorientação e a inação europeias e os seus custos, veio apelar à submissão aos seus mais contraproducentes ditames...

Que, no dia da comemoração da democracia instaurada no 25 de Abril, veio fazer a apologia da sua inutilidade, aconselhando o País a preparar-se para acolher mais ou menos de joelhos os imperativos do novo poder global, de matriz financeiro-especulativa, que hoje corrói todos os regimes democráticos.

Só faltava mesmo a cereja no bolo: e ela apareceu com a insólita aposta de fazer o País caminhar para o consenso através da intensificação dos antagonismos e em apelar à convergência político-partidária estimulando a desconfiança na democracia!

Este passo é, todos o reconheceram, dificilmente compatível com as funções de representação nacional, de mediação institucional e de pedagogia política que deveria caracterizar o exercício presidencial. Não admira por isso que, com esta espiral paradoxística de Cavaco Silva, o País dê crescentes sinais de um novo tipo de fadiga, a fadiga presidencial...

É que há, no bizarro apelo ao consenso do Presidente da República, dois problemas: um de timing e outro de conceito. O de timing remete-nos para o ano de 2009, e para a incompreensão da gravidade da crise que era já então uma evidência, e que devia ter dado lugar a um pedagógico esforço de abertura e de realismo.

A situação deveria ter levado o Presidente da República a procurar então uma solução governamental maioritária, dado que um governo minoritário vive quase sempre num registo de preocupação diária com a sua sobrevivência, o que o torna necessariamente débil e fugaz, como mais uma vez se viu!...O Presidente da República deixou passar a oportunidade, como depois deixaria passar outras...

O que nos leva ao segundo ponto, o do conceito. O consenso remete sempre ora para uma identidade de valores ora para um acordo de objetivos. Mas nem num caso nem no outro se trata de dados adquiridos ou inequívocos, sobretudo numa comunidade em crise, como hoje acontece.

É justamente por isso que o consenso exige uma magistratura presidencial extremamente trabalhosa e exigente do ponto de vista da comunicação e da pedagogia . Eleito por sufrágio direto dos portugueses, autónomo em relação aos partidos, livre das pressões do curto prazo e do imediato, é dele que se espera uma atenção ao essencial que permita criar os laços e estabelecer as relações que as políticas partidárias hoje dificilmente conseguem tecer.

Para o fazer não basta, todavia, jurar a constituição perante o Parlamento. Exige-se mais, requere--se um desígnio, uma visão, um sinal que atraia e focalize a hoje tão disputada atenção dos cidadãos. Exige-se proximidade, afeto, cumplicidade, conversa - o contrário do estilo mestre-escola, em que Cavaco Silva se especializou.

É onde Cavaco Silva mais tem falhado. A sua reação à generalizada crítica que o seu discurso do 25 de Abril suscitou diz realmente tudo: " depois não digam que eu não avisei!", comentou. Na verdade, o seu magistério foi sempre estritamente funcional, burocrático, minimalista, no limite vertiginosamente apolítico!...Uma im- prudência porque, como a política tem horror ao vazio, mais tarde ou mais cedo os acontecimentos tinham de o colocar de novo na arena político-partidária. Foi o que aconteceu com o discurso do 25 de Abril.

Cavaco Silva não só falhou o alvo do seu apelo ao consenso, como perdeu o "momentum" em que o podia fazer com autoridade e eficácia. Resta-lhe agora, aos olhos dos portugueses, vacilar - para usar os termos do filósofo Jean-François Lyotard - entre o litígio e o diferendo: enquanto o primeiro pode ficar pela discordância mais ou menos acentuada, já o segundo conduz ao conflito e à guerra. O tempo o dirá.

Portugal: FERREIRA LEITE AVISA QUE SACRIFÍCIOS NÃO VÃO DAR RESULTADO – na TVI24




Patrícia Viegas - Diário de Notícias

Manuela Ferreira Leite, ex-ministra das Finanças e ex-líder do PSD, teceu ontem duras críticas ao Documento de Estratégia Orçamental (DEI) 2014-2017 e ao ministro das Finanças Vítor Gaspar no seu espaço de comentário na TVI24.

"Trata-se de um documento de natureza teórica, que pouco acrescenta àquilo que gostaríamos de saber sobre o nosso futuro. Poderia ser uma tese de doutoramento e que aquilo que lhe faltava para ser uma verdadeira tese de doutoramento é que tem um modelo teórico sem nenhuma adesão à realidade. Não há um facto concreto que caiba dentro do modelo que está ali desenhado", disse, em vésperas de o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho falar ao país, numa comunicação que está marcada para as 20.00.

A ex-ministra das Finanças e ex-candidata a primeira-ministra considerou na sua intervenção que o DEO mais parece um exercício feito "de pernas para o ar", feito em concordância "com os objetivos que a 'troika' impôs" e, em seguida, "construíram-se os indicadores de forma a encaixar" neles."É preciso ter uma varinha mágica para transformar uma abóbora numa carruagem. Está bom para contar aos meus netos mas não para nos se dito a nós", acrescentou, no comentário semanal que tem naquela estação de televisão.

"Não estou nada convencida de que seja exequível aquilo que estão a dizer que vão fazer. Podem anunciar, podem amedrontar, podem criar ainda mais espírito de recessão, podem afundar psicologicamente as pessoas, mas resultados não vão ter nenhuns. Não é por essa via que vou ficar preocupada", referiu, manifestando alguma descrença em relação às medidas levadas a cabo pelo Governo do PSD-CDS/PP.

Manuela Ferreira Leite sublinha ainda que não considera adequado que o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, tenha falado mal de Portugal à 'troika': "Não me parece correto que o ministro das Finanças tenha transmitido a instâncias internacionais a ideia de que todos foram uns incompetentes e uns irresponsáveis até à data e que isto agora é que é o caminho certo".


Portugal: Fenprof quer demissão "urgente" do Governo que protege crimes de banqueiros





O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, defendeu hoje a demissão "urgente" do Governo que protege os "crimes de banqueiros, especuladores e alguns governantes", e comete crimes sociais, como os cortes na educação.

Na sessão de abertura do 11º Congresso Nacional de Professores, que começou hoje em Lisboa, Mário Nogueira classificou de "criminosos" os cortes na educação e alertou para a chegada de mais más noticias, ao início desta noite, quando forem anunciadas as medidas destinadas a conseguir novos cortes da despesa do Estado.

"Já seria criminoso cortar na educação e no conjunto das funções sociais do Estado mais 4 mil milhões de euros", afirmou o secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), Mário Nogueira, lembrando que os cortes vão rondar os seis mil milhões e que os professores "não o podem aceitar".

Perante uma plateia de 650 delegados de todo o país, Mário Nogueira lembrou que o congresso é "soberano" e é dali que vão sair novas formas de luta, mas deixou a sua posição: "Não podermos aceitar tal corte. Para proteger crimes de banqueiros, de diversos especuladores e até de alguns governantes, não podemos admitir que o Governo cometa os crimes sociais que comete e só há uma forma de o parar: demitir urgentemente este Governo, exigindo do Presidente da República a convocação de eleições antecipadas", defendeu Mário Nogueira.

O secretário-geral da Fenprof voltou a defender a demissão do ministro da Educação, que acusa de não ter poder para tomar decisões, recordando uma reunião recente em que Nuno Crato terá admitido que, afinal, a mobilidade especial também seria aplicada aos professores, mas que os horários de trabalho iriam manter-se nas 35 horas semanais.

Hoje, vários jornais falam no aumento das 35 para 40 horas semanais para os funcionários públicos, como uma das medidas que deverá ser anunciada.

"Se isso acontecer, para que serve ter um ministro que não manda, que não governa, que não decide, que mente cada vez que fala porque a realidade imposta pelo Governo é diferente? Nós precisamos de quem governe a sério e com seriedade na educação. Nós precisamos de quem saiba aquilo que vai fazer. Nós precisamos de outro ministro, de outra equipa ministerial, de gente séria à frente da Educação. Nós precisamos de uma ministro da Educação para Portugal, que não temos".

Convidado especial do Congresso, o reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, defendeu que, "em tempos tão duros como os de hoje, ninguém tem o direito de ficar em silêncio".

"É tempo de dizer não. Não à degradação da escola pública. Não à mobilidade dos professores. Não a um país sem futuro. Como dizia Sophia de Mello Breyner: 'Perdoai-lhes, senhor, porque eles sabem o que fazem'", afirmou o reitor que tem sido uma voz crítica das políticas governamentais.

 "Os economistas da inevitabilidade tudo têm tentado para nos obrigar a recuar", acusou Sampaio da Nóvoa, recordando afirmações de Passos Coelho que considerou que a gratuiticidade da escola obrigatória é um "direito" que "só existe na medida da possibilidade e se houver condições para isso. Se deixou de ser possível, temos de ver como é que o recuo é feito".

Perante milhares de professores, o reitor reagiu à afirmação: "Como é que o recuo é feito?!? Lê-se, relê-se e não se acredita. Só há uma resposta possível: Não haverá recuo. Não voltaremos atrás".

"Não voltaremos atrás, porque não podemos prescindir de nada quanto à valorização da escola e dos professores, porque é aqui que estão as condições para um Portugal futuro que não seja apenas a repetição do Portugal passado", lembrou o reitor da Universidade de Lisboa.

O encontro começou com um vídeo com mensagens de várias personalidades, entre as quais a escritora Lídia Jorge, antiga professora, que lembrou que "o povo é o que a sua escola pública for".

Portugal: A CAMINHO DO ABISMO COM MAIS UM PEC DEBAIXO DO BRAÇO




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

Ao princípio da noite de hoje Passos Coelho vai anunciar as medidas de corte na despesa a aplicar até 2016. O enunciado deve ser genérico e trabalhado para não gerar um excesso de stresse ao cidadão comum, deixando-o até com sábias dúvidas sobre o que se quis dizer neste ou naquele ponto, seja pela habitual incompetência técnica seja por matreirice politica.

Em concreto, esperam-se cortes nas pensões, despedimentos ou negociações de saída na função pública. Como é bom de ver, não se esperam medidas criminais contra quem urdiu as PPP, quem planeou um sistema de saúde que transfere para privados milhares de milhões ou quem sugeriu ou subscreveu swaps no valor de 3 mil milhões, ou seja, meio BPN.

A intervenção de Passos Coelho deve também passar ao lado das medidas que o Orçamento Rectificativo deste ano vai ter de integrar para tornear os vetos do Tribunal Constitucional.

Espera-se, portanto, que o chefe do governo pormenorize alguns aspectos do mais recente PEC que teve de engolir. Há neste PEC uma diferença relativamente aos anteriores: o nome. Passou a chamar-se Documento de Estratégia Orçamental. Quanto à sua substância é igual, pois agrava a austeridade, somando mais à que já existe e criando condições para a tempestade social perfeita, com consequências imprevisíveis, se porventura os portugueses deixarem de ser o povo moldado por Salazar e voltarem ao temperamento da República inicial.

Uma leitura mesmo não exaustiva deste documento permite com facilidade detectar um conjunto de dados que são totalmente impossíveis de concretizar.

E como se não bastasse a base de cálculo errada (deve ser o tal excel do professor Rogoff), é altamente improvável que esteja correcta noutros campos.

Atente-se em dois casos. As reformas aos 65 anos acrescidas do factor de sustentabilidade podem de facto ter o efeito contraproducente de agravar o desemprego. A degradação do Serviço Nacional de Saúde que está em curso pode ter efeitos negativos na esperança de vida. Bastaria isso e lá iriam as contas de Gaspar. Só que esse, entretanto, já estará sentado algures numa cadeira do BCE ao lado de Constâncio, um génio da supervisão bancária.

Há outra contradição insanável no plano, porque contraria os objectivos de crescimento que Santos Pereira tenta desgraçadamente proclamar.

Para recuperar, Portugal tem de facto de conseguir mais rendimento disponível para estimular o consumo interno, porque apostar nas exportações numa Europa em recessão é pura e simplesmente uma utopia. Quanto aos mercados mais longínquos, como os de Angola e da América Latina, são de facto viáveis, mas é preciso que as empresas obtenham garantias de pagamento atempado.

Como se vê, todos os indícios apontam para a manutenção da rota errada. Há dias Manuela Arcanjo pôs o dedo na ferida como ninguém. Foi na RTP, onde acusou Vítor Gaspar de não ter coragem, porque se a tivesse teria começado por atacar os grandes interesses e a despesa que eles impuseram. Tem toda a razão. A Vítor Gaspar faltou peito para os lóbis mas sobra-lhe para os indefesos. E agora conduz-nos para o precipício de mão dada com Passos Coelho e com Portas a reboque.

Soares diz que governo sofre de “insensibilidade moral” e compara-o a Hitler e Mussolini




Catarina Correia Rocha – Jornal i

Mário Soares afirmou, numa coluna de opinião publicada hoje no “Público”, que o executivo de Passos Coelho é “anticonstitucional” e que, apesar de ter sido eleito, “Hitler e Mussolini também foram e isso não os impediu de produzir os estragos que são conhecidos”.

O ex-presidente da República escreve ainda que o governo sofre de “insensibilidade moral” e que os ministros estão “agarrados ao poder como as lapas às rochas, não podem sair à rua, apesar de rodeados por seguranças” e que esta é uma situação “verdadeiramente alarmante, intolerável e a que nunca tínhamos assistido antes.”

Intitulada “O Dia do Trabalhador”, a crónica critica também o ministro dos Negócios Estrangeiros: “O Paulinho das feiras pensará que é tão ou mais responsável que os outros ministros do governo a que pertence, que pode voltar a dar beijinhos às peixeiras e a fazer-lhes promessas? Julgará que as mulheres dos mercados e das feiras são parvas?”, questiona Soares.

O ex-presidente da República, refere-se a Passos Coelho como o “grande demagogo” e escreve que “cada vez que fala diz coisas diferentes e que tem prometido tudo e o seu contrário, ignorando milhares de portugueses”. Soares deixa ainda uma pergunta: “Em que país vive este homem que ignora as pessoas, só sabe – e mal - falar de dinheiro e dó diz aos portugueses coisas contraditórias que já ninguém de bom senso acredita?”

Soares remata, afirmado que “o governo está paralisado há muito tempo. Não tem rumo nem sabe o que dizer e o que faz”.

Portugal: Dezenas de reformados interrompem plenário cantando “Grândola, Vila Morena”




Jornal i - Lusa

Várias dezenas de reformados e pensionistas manifestaram-se hoje nas galerias do plenário da Assembleia da República cantando "Grândola, Vila Morena", de Zeca Afonso, após ter sido discutida uma petição pelo aumento destas prestações.

Depois da presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, ter dado por terminada a discussão da petição apresentada pela presidente da Associação de Pensionistas e Reformados (APRE), Maria do Rosário Gama, as várias dezenas de pessoas que ocupavam uma das galerias levantaram-se cantando a senha da revolução do 25 de Abril de 1974 e empunhando camisolas negras dizendo "não somos descartáveis".

"Este não é o lugar de manifestações e eu pedia aos senhores que saíssem das galerias (...) Não ajuda à democracia o que os senhores estão a fazer", afirmou a presidente do Parlamento.

Os trabalhos parlamentares estiveram interrompidos durante cerca de quatro minutos, enquanto vários agentes da PSP encaminhavam os manifestantes para a saída.

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