quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O IMPASSE VENEZUELANO E O FUTURO

 


Oposição brinda câncer de Chávez com champanhe francês e tenta tomar poder que urnas negaram. Para maiorias, vêm novos desafios
 
Juan Carlos Monedero - Tradução Inês Castilho – Outras Palavras
 
Já há gente na oposição venezuelana argumentando que, se Chavez não vencer a doença, quem deve ocupar a presidência é o candidato derrotado Capriles. Sua lógica democrática é tão consistente quanto seu interesse pelos pobres, antes da chegada de Chavez. Há também os que acreditam que podem ir até os militares, sem mais, e convidá-los a dar um passo fora da Constituição.
 
Esquecem que nos quarteis venezuelanos já não se veem cenas de West Point nem imagens de marines matando vietnamitas, mas retratos de Bolívar ou Che Guevara. Outros andam fuxicando para ver se têm a sorte de que alguém próximo ao presidente dê um passo a favor da oposição, voltando a esquecer que, se existe hoje na Venezuela um mandato transcendente, é o pedido de unidade lançado pelo presidente a caminho da mesa de operação.
 
Como sempre, aí estão os meios de comunicação (80% deles, é bom lembrar, nas mãos dos inimigos do processo) julgando ser o principal partido de uma oposição cujo único acordo é tirar Chavez do Palácio de Miraflores. A enfermidade do presidente desenha hoje um sorriso em suas faces de bons católicos, apostólicos e romanos convencidos de que, depois de ter sido dado por desaparecido durante décadas, uma hora isso há de ser verdade.
 
Ontem tentaram fazer de uma mensagem do Twitter um acontecimento mundial. A proximidade do Natal aviva seu amor. Mas sua aposta, #RIPChávez, ficou muito distante do #BuenaVibraPaChávez que bombou no Twitter, deixando claro, aos que se atrevem a esquecer, que Chávez tem com o seu povo o tipo de relacionamento daqueles que saíram juntos do buraco e nunca se traíram. Quando você acredita que o poder lhe pertence por direito de nascença, não se acostuma nunca a ver o outro na cadeira presidencial. E, se a ira o confunde, seu juízo fica nublado.
 
Essas estratégias se repetem desde o início do governo bolivariano. “Não joguem com o amor de um povo. Menos ainda com o amor de um povo que foi maltratado durante tantos anos (…) Oposição: muito cuidado com o que faz.” A advertência é de Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional, e político com grande ascendência entre os militares venezuelanos. Desde que Chavez surgiu, a oposição desesperada não teve dúvida de usar qualquer tipo de estratégia, em cada momento, para tentar levar, fora das urnas, o que não teve condições de ganhar nas eleições mais limpas e transparentes da América Latina (como reconheceram os presidentes dos tribunais eleitorais da América Latina e o Centro Carter, norte-americano).
 
Esse não é um atributo exclusivo da direita venezuelana (recordemos os golpes de Estado de Franco, Pinochet, Videla; a caça às bruxas de McCarthy para acabar com os democratas, nos EUA; o papel dos Contra na Nicarágua; a guerra suja, inclusive contra Felipe González – que era, no fundo, um dos seus – e um grande etecétera), mas na pátria de Bolivar eles exageram. Ali testaram, sem êxito, todos e cada um dos métodos que, ao longo da história latino-americana, serviram para tirar do governo os presidentes desobedientes disso que, antes da queda do Muro de Berlim, chamava-se imperialismo. E é aí, nesse fracasso, que nasceu a comunhão de Chávez com seu povo.
 
Com sua enfermidade, Chavez não fez como Mitterrand – que escondeu a doença do povo francês. Muito pelo contrário, apresentou-se como candidato às eleições informando que estava abatido pelo câncer. O povo lhe deu um apoio espetacular, e com uma participação histórica de eleitores, 80,48%, teve 11 pontos de vantagem sobre seu opositor (8.191.132 a 6.591.304 de votos). Obama teve 3,4 pontos de vantagem sobre Romney. As tentativas de esquecer esse resultado não ajudam ninguém, especialmente a oposição. Mas eles só se miram no espelho da mídia que financiam.
 
Contudo, o reaparecimento de células malignas no mesmo lugar das operações anteriores não pode ser ignorado. Em uma ação de urgência, Chavez apontou Nicolás Maduro, atual chanceler e vice-presidente, como a pessoa que deveria tomar as rédeas do processo revolucionário no caso de um desenlace fatal impedi-lo de tomar posse em janeiro. O artigo 233 da Constituição, parágrafo segundo, é claro: “Quando se produzir a falta absoluta do presidente eleito ou presidenta eleita antes de tomar posse, se procederá a uma nova eleição universal, direta e secreta, dentro dos trinta dias consecutivos seguintes. Enquanto se elege e toma posse o novo presidente ou a nova presidenta, o presidente ou presidenta da Assembleia Nacional se encarregará da Presidência da República.
 
Como em tantas outras vezes, Chavez pensou mais na Venezuela do que em sua vida pessoal. Há decisões que poderiam ter sido tomadas de forma mais fluida, se tivessem tido um prazo maior – mas a verdade é que recarregar as baterias de um país na mira dos Estados Unidos não é tarefa simples. Hoje podemos pensar que ele poderia ter feito um esforço menor na campanha, mas sabemos também que isso seria uma opção somente quando o que conta é a sua saúde, e não a do país. A mensagem de Chavez, acompanhada do semblante abatido do pessoal do seu governo – uma cena própria da última ceia –, teve um efeito demolidor de quem pensa em termos de História. Chavez disse a quem quis escutar: “entro na sala de operações, mas não sei se saio dela. Quero que o processo em direção ao socialismo siga seu rumo. E a pessoa adequada para alcançar isso é Nicolás. Quero que todo o povo, militares, partidos, conselhos comunitários, funcionários, governo deem um exemplo de unidade em torno do vice-presidente, no caso de haver eleições e eu já não estar aqui. Vou lutar para voltar, mas, se não for esse o caso, vocês sabem claramente qual é o meu desejo”.
 
Ordem constitucional garantida
 
Somente os que passaram anos desejando ou tramando a morte de Chavez estão adiantando a análise. Não há grande bondade em pretender dar por ocorrido o que não aconteceu. O que se pode dizer, então? A ordem constitucional está garantida na Venezuela. Os critérios jurídicos vinculados à ausência do presidente são de uma clareza meridiana e o apoio a essa ordem constitucional, tanto do povo como do exército, não tem a menor fissura. Não há nenhuma razão, exceto as más intenções, para questionar aquilo que está bem regulamentado na ordem legal venezuelana. Além do que continua sendo certo que o melhor para a Venezuela e para a América Latina é que, em 10 de janeiro, Hugo Chavez tome posse de seu cargo como presidente.
 
Nos dias que antecederam a operação do presidente, pareceu sensato legitimar politicamente a opção por Nicolás Maduro expressa por Chavez. Para ele, os órgãos políticos devem colocar-se em marcha – especialmente o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), mas sem esquecer as outras forças que apoiam o processo. O carisma do presidente Chavez serve para passar a Maduro seu compromisso com a Venezuela socialista, como aconteceu com Lula e Dilma Rousseff. Convém, portanto, respeitar os procedimentos correspondentes, ainda mais quando se pensa que Maduro vem se perfilando há tempos como sucessor natural de Chavez.
 
A figura de Nicolás Maduro experimentou nos últimos anos um enorme crescimento político – como ocorreu com Evo Morales, Rafael Correa ou Cristina Kirchner. Em qualquer caso, os cenários que poderiam abrir-se com a ausência de Chavez no primeiro plano da cena política obrigam-no a elucidar alguns aspectos importantes, que Chavez resolveu com seu enorme prestígio pessoal.
 
Em primeiro lugar, deve deixar claros quais serão os canais por meio dos quais será executada a união cívico-militar (que é uma característica da Venezuela bolivariana). Em segundo, seria importante proceder a uma reconfiguração do PSUV, de modo que as diferentes sensibilidades existentes em todo projeto político – e que na ausência de Chavez deverão se manifestar com mais força – encontrem seu espaço de expressão. Em terceiro lugar, há que dedicar muitos esforços para colocar em marcha o novo plano socialista (foi com ele que se ganharam as eleições), dando prioridade às exigências populares, aprofundando a eficiência governamental e permitindo que os problemas existentes encontrem espaços públicos de expressão, de modo a converter-se em formas populares de avaliação das políticas públicas (esta é uma das garantias da unidade popular).
 
Por último – e nisso Maduro tem muito caminho andado – é essencial que as diferentes formas de integração regional continuem avançando. O continente latino-americano deve a Chavez o fato de que tem hoje a maior integração de toda a sua história. A ALBA (Aliança Bolivariana para as Américas), o Mercosul, a CELAC (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos) são espaços que devem aprofundar-se, ao invés de desacelerados. Todas essas questões têm o selo de Chavez. Por essa razão, ele chegou para ficar. Há líderes que marcam a História e, por mais esforço que se faça, não morrem nunca.
 
Seja qual for o desenlace físico – o melhor é ver Chavez colocar a faixa presidencial no início de 2013 –, a tarefa de todas e todos os venezuelanos é fazer um esforço semelhante ao de 2002. Naquele ano, a mesma oposição que agora brinda o câncer com champanhe francês deu um golpe de Estado que foi derrotado pelo povo. Agora, trata-se de assumir a responsabilidade que corresponde a todos e a cada um nesse cenário complicado. Chavez fez o mais difícil. A Venezuela hoje tem pátria. Mas os inimigos continuam à espreita. É agora, mais do que nunca, que Chavez e o povo têm de ser um só. Um povo que converta sua tristeza em ferramenta política para aprofundar a transformação socialista da Venezuela contra todos os ventos do neoliberalismo. Esses ventos de que ela se liberou e, agora, a velha Europa está começando a conhecer.
 

LULA DA SILVA PEDE QUE EUROPA NÃO RETROCEDA NAS CONQUISTAS SOCIAIS

 


FYB – ARA – Lusa, com foto
 
O ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva apelou hoje à União Europeia para não retroceder nas suas conquistas sociais e no Estado providência, que demoraram décadas para serem alcançados, ao discutir a crise económica.
 
"Vocês não podem permitir em nenhum momento que haja um retrocesso nas conquistas que fizeram durante décadas, e pelas quais o Brasil e outros países estão a lutar hoje. Nós lutamos para conquistá-las, vocês, para não perdê-las", disse Lula da Silva em Barcelona, onde recebeu o 24.º Prémio Internacional Catalunha.
 
O ex-Presidente brasileiro recebeu o prémio como reconhecimento do seu trabalho no Governo do Brasil, onde a sua política de crescimento motivou a surgir uma nova classe média e favoreceu a divisão mais igualitária da riqueza.
 
Lula da Silva realçou que a luta da Europa pelas conquistas sociais "por muito tempo foi exemplo para muitas pessoas".
 
Sobre a União Europeia, o ex-Presidente brasileiro afirmou que o bloco está mais unido do que nunca, mas que possui defeitos.
 
"Isso não pode levar ao desespero, é um momento para muita reflexão e muito debate", vincou.
 
Lula da Silva afirmou ainda que o desenvolvimento mundial deve ser resultado de um proceso de todos os continentes, pasando pela inclusão dos pobres na economía dos seus países e dos países pobres na economia mundial.
 

ONU ADMITE IDENTIFICAR NARCOTRAFICANTES E CRIMINOSOS NA GUINÉ-BISSAU

 

PDF – ARA – Lusa, com foto
 
O Conselho de Segurança das Nações Unidas admitiu hoje desencadear meios de identificação e recolha de informação sobre narcotraficantes e criminosos internacionais operacionais na Guiné-Bissau.
 
A informação consta de uma declaração pública do Conselho, divulgada hoje nas Nações Unidas, cuja versão inicial foi circulada no início da semana por Portugal entre os restantes membros, após um 'briefing' pelo representante cessante do secretário-geral em Bissau, Joseph Mutaboba.
 
Na mesma linha do último relatório secretário-geral da ONU, a declaração expressa "séria preocupação" com indicações de aumento de tráfico de droga no país desde o golpe de Estado em abril, apelando aos líderes militares para demonstrarem "maior compromisso com os esforços internacionais" anti-narcotráfico, em particular assegurando o "total funcionamento" das agências responsáveis.
 
Os países-membros declaram a sua "disponibilidade para considerar formas de garantir a recolha de dados adicionais sobre a identidade e atividade dos envolvidos no tráfico de droga e crime organizado na Guiné-Bissau".
 
No seu último relatório sobre a situação na Guiné-Bissau depois do golpe de Estado, Ban Ki-moon reitera o pedido ao Conselho para que seja estabelecido um painel de peritos para investigar a atividade e identidade dos envolvidos no tráfico de droga e crime organizado, face ao agravamento da situação.
 

Guiné-Bissau: PRESIDENTE DA CNE TOMOU POSSE, MISSÃO CONJUNTA VAI A BISSAU

 


Novo presidente da comissão eleitoral da Guiné-Bissau tomou posse
 
13 de Dezembro de 2012, 15:45
 
Bissau, 13 dez (Lusa) - O novo presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau, Rui Nené, tomou hoje posse, apesar da polémica suscitada por um conjunto de pequenos partidos que questionam a sua nomeação para o cargo.
 
Em declarações aos jornalistas momentos após ter sido empossado pelo presidente do parlamento, Rui Nené disse ser normal a contestação de que tem sido alvo por parte de os partidos signatários de Pacto de transição.
 
"A crítica em democracia é normal, desde que seja bem fundamentada", observou Rui Nené, que a partir de hoje substituiu formalmente Desejado Lima da Costa como presidente da CNE. Lima da Costa faleceu recentemente em Portugal, vítima de doença.
 
Os partidos que contestam a nomeação de Rui Nené depositaram na quarta-feira no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) um pedido de impugnação da eleição do juiz para o cargo de presidente da CNE.
 
Para o grupo, constituído por partidos que apoiam o Governo de transição, formado na sequencia do golpe de Estado de 12 de abril, a eleição de Rui Nené, decidida no Parlamento, "não obedeceu aos critérios plasmados no pacto de transição e nem ao acordo politico que regem o período de transição", em curso na Guiné-Bissau.
 
Rui Nené minimiza as críticas à sua nomeação, lembrando ser um magistrado de carreira e quadro sénior do STJ, pelo que toda sua ação enquanto presidente da CNE será desenvolvida no respeito à lei.
 
O novo presidente da CNE diz que já pediu a suspensão de mandato enquanto juiz conselheiro do STJ e consequentemente não ira ocupar o cargo de vice-presidente do órgão para o qual foi eleito pelos seus pares no mesmo dia em que foi indigitado presidente da comissão eleitoral.
 
O presidente do Parlamento, Ibraima Sory Djaló afirmou, por seu lado, que a eleição de Rui Nené para presidente da CNE "obedeceu aos critérios legais" e que este irá substituir Lima da Costa e "prosseguir com o excelente trabalho" desenvolvido pelo defunto presidente do organismo eleitoral.
 
MB //JMR.
 
Lusa/Fim
 
Missão conjunta da comunidade internacional na Guiné-Bissau entre 16 e 21 deste mês
 
13 de Dezembro de 2012, 17:29
 
Bissau, 13 dez (Lusa) - Uma missão de representantes de várias organizações internacionais vai estar na Guiné-Bissau entre 16 e 21 deste mês para se inteirar da situação do país, disse hoje Ovídeo Pequeno, representante da União Africana (UA).
 
Representante permanente da UA na capital guineense, Ovídeo Pequeno falava aos jornalistas à saída de uma audiência com o procurador-geral da Guiné-Bissau, Abdu Mané, a quem, disse, foi informar da chegada e dos objetivos da missão.
 
De acordo com o diplomata de origem santomense, a missão, liderada pela União Africana, será integrada por representantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), União Africana, União Europeia e Nações Unidas.
 
De acordo com Ovídeo Pequeno, a decisão da deslocação da missão à Guiné-Bissau foi tomada numa reunião realizada no princípio deste mês em Adis-Abeba, sede da União Africana.
 
"A missão vem ver com as autoridades de transição, com a sociedade civil, com o povo em geral, com os movimentos sociais do país, as possibilidades de se ter uma dinâmica local sobre aquilo que se está a passar e apresentar recomendações que possam servir de base a um trabalho harmonizado da comunidade internacional", defendeu Pequeno.
 
Questionado sobre se terá abordado com o procurador-geral guineense as alegadas denúncias de abusos dos direitos humanos na Guiné-Bissau, como tem sido referido pela comunidade internacional, o diplomata da UA disse que não.
 
"A minha visita era para conhecer institucionalmente o procurador-geral da Republica e também falar-lhe da missão", vincou Ovídeo Pequeno, rejeitando a fazer uma análise à situação atual do país.
 
"A mim não me compete fazer uma análise da situação do país, estamos a preparar a vinda da missão, depois quando ela chegar vai fazer a análise política daquilo que se está a passar", sublinhou o representante da UA em Bissau.
 
A Guiné-Bissau é governada há oito meses por um governo e um Presidente de transição, ambos designados na sequência de um golpe de Estado militar ocorrido em 12 de abril. Com exceção da CEDEAO, a quase totalidade da comunidade internacional recusou reconhece as novas autoridades.
 
MB //JMR.
 

Portugal: FILHOS DE QUEM?

 


Fernando Dacosta – Jornal i, opinião
 
Ao dar o título “A Menina É Filha de Quem?” ao seu último romance (agora galardoado pelo Pen Club), Rita Ferro ironizava com uma das nossas características mais possidónias: o pretensiosismo social, ou seja, a snobeira da burguesia indígena.
 
Romances, comédias, enredos, folhetins estão cheios de tão provincianíssima avidez; pertencer à classe bem tornou-se objectivo de fatias crescentes de portugueses, a alcançar sem olhar a meios nem ardis. Meios e ardis que, a bem dizer, se resumem à cama, na respeitável variante do casamento, cerimónia adorada por todas as instituições.
 
Ao ver-se enevoada pela República e pela penúria, a velha aristocracia voltou-se para os novos-ricos e para os dirigentes políticos com as suas proles de militantes, apoiantes, cantantes, insaciáveis no abichar de tachos e arranjinhos.
 
À pala da democracia, tal superstrutura (o chamado centrão) tudo domina, tudo trafica há mais de 30 anos. Os lugares de privilégio pertencem-lhe em exclusivo: vejam-se os apelidos (sonantes) dos escolhidos para as posições de conforto ainda existentes, escolhidos não por competências mas por lóbis – de famílias, de partidos, de associações discretas, de clubes secretos, de apadrinhamentos oblíquos e iníquos.
 
Não são já precisas princesas reais, bastam vedetas róseas; não são mais necessários soberanos coroados, chegam padrinhos engalanados.
 
Nas suas memórias, Raul Brandão dizia que a república portuguesa era a melhor imitação da monarquia existente na Europa – por isso não havia necessidade de as alterar, de as referendar (às duas), mereciam-se uma à outra.
 
Escreve à quinta-feira
 

Portugal: CONVERSA FIADA, UGT VENDE-SE POR 15 EUROS, JERÓNIMO-CAVACO

 


Manifestação da CGTP recebe ministro em Matosinhos e contesta “conversa fiada
 
Uma manifestação da CGTP recebeu hoje à entrada da Exponor, em Matosinhos, o ministro da Economia, antes da apresentação da iniciativa “Portugal Sou Eu”, que classificaram como “conversa fiada”.
 
O coordenador da União de Sindicatos do Porto (USP) da CGTP, João Torres, afirmou à Lusa que era uma “ação simbólica relativamente ao ministro e ao Governo”, acrescentando que o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, “é um caso de estudo, desde que descobriu que os problemas do país se resolviam com o pastel de nata”.
 
Em relação ao programa “Portugal Sou Eu”, hoje lançado com o objetivo de promover a produção nacional junto das empresas e dos consumidores, João Torres disse que não passava de “’show-off’", uma outra iniciativa do tipo dos pastéis de Belém, conversa fiada”.
 
Já na sequência da apresentação do programa, questionado pelos jornalistas sobre o protesto sindical, Álvaro Santos Pereira respondeu que “esta é uma iniciativa para todos. Não é uma iniciativa do Governo, da Associação Empresarial de Portugal (AEP), da Associação Industrial Portuguesa (AIP), do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI) ou da Confederação dos Agricultores Portugueses (CAP)”.
 
“Os problemas do país não se resolvem com iniciativas deste género”, afirmou João Torres, lembrando, ainda, a intenção do Governo de reduzir as indemnizações em caso de despedimento de 20 para 12 dias por ano de trabalho, que considera ser um “roubo”.
 
TDI // MSF - Lusa
 
UGT reivindica aumento do salário mínimo para 500 euros a partir de janeiro
 
O secretário-geral da UGT, João Proença, anunciou hoje que vai propôr ao Governo o aumento do salário mínimo nacional para 500 euros a partir de 01 de janeiro de 2013.
 
A proposta da UGT vai ser apresentada ao Governo e aos parceiros sociais na reunião de concertação social, na sexta-feira.
 
O Governo de José Sócrates assinou em 2006 um acordo com os parceiros sociais que previa o aumento gradual do salário mínimo de modo a que este fosse fixado nos 500 euros a 01 de janeiro de 2011.
 
Atualmente, o salário mínimo nacional é de 485 euros.
 
SMS // MBA - Lusa
 
Jerónimo de Sousa reitera oposição ao Orçamento e ao Governo em audiência com Cavaco Silva
 
O secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, transmitiu hoje ao Presidente da República a "profunda preocupação" do PCP face à situação do país e reiterou a oposição ao Orçamento do Estado para 2013.
 
"Quisemos transmitir ao Presidente da República a nossa profunda preocupação em relação ao agravamento da situação do país, no plano económico e social", afirmou Jerónimo de Sousa, em declarações aos jornalistas, no final de uma audiência de cerca de uma hora com Cavaco Silva, no Palácio de Belém.
 
Acompanhado dos membros do secretariado do Comité Central do PCP Francisco Lopes, Manuela Pinto Ângelo e Jorge Cordeiro, Jerónimo de Sousa recusou adiantar, por "uma questão ética", quais foram as respostas do Presidente da República face às questões colocadas na audiência.
 
"Não me quero precipitar em juízos de valor, em interpretações que poderiam ser abusivas", justificou.
 
Na reunião, que durou mais de uma hora, Jerónimo de Sousa transmitiu também a "necessidade de uma política alternativa" que comece pela renegociação da dívida, pela valorização do aparelho produtivo, dos salários e das pensões.
 
Por fim, Jerónimo de Sousa disse que manifestou a Cavaco Silva a opinião do PCP de que o Orçamento do Estado para 2013 "não deveria ser aprovado" porque "pela sua natureza e conteúdo, colide com os fundamentos da Constituição da República Portuguesa".
 
Tal como defendeu no Congresso do PCP, a 30 de novembro, Jerónimo de Sousa defendeu junto do Presidente da República que o Governo PSD/CDS-PP "não está em condições de continuar a governar o país, que é um Governo do passado" e "merece ser demitido".
 
"E, naturalmente, caso isso aconteça, deve-se dar a palavra ao povo através de eleições antecipadas", acrescentou.
 
SF // SMA - Lusa
 

Angola - Cabinda: SECTOR DA SAÚDE EM CONDIÇÕES DEPLORÁVEIS

 

José Manuel – Voz da América
 
Nas unidades periféricas visitadas pela Voz da América são visíveis as carências
 
Em Cabinda cresce o descontentamento com o nível dos serviços prestados nas maiores unidades sanitárias da província.

O caso mais gritante é o do hospital provincial de Cabinda com carências a nível das infra-estruturas e falta de equipamentos para análises clinicas especializadas.


Esta situação tem levado a população a socorrer-se dos vizinhos Congos onde os níveis de assistência médica são maiores.

Nas unidades periféricas visitadas pela Voz da América são visíveis as carências. No hospital do Chinga por exemplo, nos arredores da cidade de Cabinda não existe até uma simples fita para o exame de glicemia.

Em função deste quadro preocupante do sector, o vice-governador provincial para o sector social esteve de visita a algumas unidades hospitalares em busca de soluções.
Alberto Paca disse que “os problemas do sector são sérios e exigem uma intervenção urgente”.

Alberto Paca disse ainda que “a inoperância da rede periférica dificulta a intervenção da maior unidade hospitalar da região”.


 

Angola: CHICOTI NA ACP, MAIS CINCO ANOS PARA DESMINAGEM, ANGOLA-ESPANHA

 


Georges Chicoti representa o chefe de Estado na cimeira da ACP
 
 
O ministro angolano das Relações Exteriores, Georges Chikoti, deixou está em Malabo, Guiné Equatorial, onde representa o presidente da República, José Eduardo dos Santos, na Cimeira dos Chefes de Estado de África, Caraíbas e Pacífico (ACP).
 
O chefe da diplomacia angolana esclareceu que a nível dos ACP o trabalho é conjunto e portanto as decisões saídas da Cimeira, que decorrerá de 13 a 14 de Dezembro, serão adoptadas por intermédio de uma declaração conjunta, que será publicada no final dos trabalhos.
 
A delegação, encabeçada por Georges Chikoti, é integrada pelo ministro do Planeamento, Job Graça, e por altos funcionários do Ministério das Relações Exteriores.
 
A comitiva tem o regresso previsto para sábado (15).
 
Prorrogado para mais cinco anos o período de desminagem em Angola
 
TPA
 
O pedido intermédio de extensão de cinco anos solicitado por Angola para a continuação das operações de desminagem e asseguramento das zonas minadas, foi aceite pelos Estados Partes à Convenção de Ottawa, durante a sua 12ª reunião que hoje terminou em Genebra (Suíça).
 
Angola, que ratificou a Convenção em Julho de 2002, pediu a extensão para poder cumprir com os artigos n°5.1 e 5.2, que obriga os Estados signatários a identificar as áreas sob sua jurisdição e controlada ou suspeitas de conter minas anti-pessoal, a destruir e garantir segurança nos locais minados até 1 de Janeiro de 2013, dez anos após a sua entrada em vigor.
 
A decisão contida nas resoluções da reunião expressa a vontade de Angola prosseguir os seus esforços de cumprir da melhor forma todas as suas obrigações sobre a destruição de minas anti-pessoal, como foi evocado pelo presidente da Comissão Inter-Sectorial de Desminagem e Assistência Humanitária (CNIDAH), Santana André Pitra « Petroff », no seu discurso.
 
Na sua explanação indicou que " o forte desejo do povo angolano de ver Angola sem minas, fez com que isso se transformasse também num dos objectivos estratégicos do Executivo angolano ".
 
Assegurou que " Angola vai executar um conjunto de actividades técnico - administrativas, logístico-operativos, para identificar de forma clara os resultados alcançados e determinar o desafio remanescente ".
 
Angola e Espanha estabelecem consultas bilaterais
 
TPA
 
Os ministros angolano das Relações Exteriores, Georges Chicoti, e espanhol dos Assuntos Exteriores e Cooperação, José Manuel Garcia Margallo Y Marfil, rubricaram ontem, quarta-feira, em Luanda, um Memorando de Estabelecimento de Consultas Bilaterais.
 
A assinatura do documento, que visa institucionalizar um mecanismo de consultas e avaliação regular da cooperação bilateral entre os dois países, aconteceu no edifício sede do Ministério das Relações Exteriores após conversações oficiais.
 
O ministro angolano das Relações Exteriores referiu que ele permitirá consultas entre os dois países sempre que necessário e possível, sobre várias matérias no âmbito das relações internacionais.
 
Este documento vai permitir que os dois países trabalhem de maneira afincada, sempre que necessário e, particularmente, no âmbito das Nações Unidas , onde estão representados, argumentou o ministro angolano.
 
De igual modo, irá permitir que possam trabalhar para ajudar a campanha da Espanha ao Conselho de Segurança.
 

PRESIDENTE TIMORENSE INAUGURA ESCOLA MAGALHÃES EM DÍLI

 

MSE – HB - Lusa
 
Díli, 13 dez (Lusa) - O Presidente de Timor-Leste, Taur Matan Ruak, inaugurou hoje em Díli, a Escola Magalhães, doada pelas empresas portuguesas JP - Inspiring Knowlegde e CAPA para contribuir para a educação de crianças timorenses.
 
Taur Matan Ruak agradeceu a "grande iniciativa para as futuras gerações de Timor-Leste" e pediu aos mais jovens para aproveitarem a oportunidade.
 
O Presidente timorense agradeceu também o apoio à educação e formação de crianças timorenses concedido pelas duas empresas.
 
A escola, com quatro salas de aula, uma sala de professores, instalações sanitárias e recreio, tem capacidade para 80 alunos e está equipada com 20 computadores Magalhães por sala, quadros interativos e mobiliário escolar.
 
O estabelecimento de ensino foi construído no terreno das Madres Canossianas de Díli, que ficaram responsáveis pela gestão da escola.
 
"Ao fim de um ano conseguimos colocar a escola em pé", afirmou à agência Lusa Luís Almeida, diretor de marketing da JP - Inspiring Knowlegde.
 
O projeto surgiu na sequência de um desafio lançado pelo antigo Presidente timorense José Ramos-Horta, durante uma visita que os dois administradores daquela empresa realizaram a Díli, em março passado.
 
"A escola será um importante contributo para que Timor-Leste possa concretizar uma das suas principais metas: cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas para a Educação", afirmou Jorge Sá Couto, citado em comunicado divulgado à imprensa.
 
Os administradores da empresa - Jorge Sá Couto e João Paulo Sá Couto - não estiveram presentes na inauguração da escola por motivos de doença.
 
A empresa CAPA - Engenharia e Construções Pré-Fabricadas exporta para 15 países do mundo e tem fábricas em Portugal, Angola e Moçambique.
 
A JP-inspiring knowledge é uma empresa portuguesa dedicada à criação e comercialização de soluções tecnológicas.
 
O seu produto mais conhecido é o computador Magalhães.
 
Na cerimónia de inauguração da escola, também esteve presente o antigo Presidente José Ramos-Horta, que agradeceu às madres Canossianas por terem cedido o terreno e às empresas portuguesas por terem concretizado o seu desafio.
 

Directora do GCCC defende escutas telefónicas e gravação para investigar corruptos

 

MOÇAMBIQUE
 
 
Maputo (Canalmoz) - A directora do Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC), Ana Maria Gemo, defendeu nesta quarta-feira, em Maputo, a introdução de técnicas de investigação inovadoras, tais como as escutas telefónicas, gravação de voz e imagem, seguimento, entre outras medidas, como formas necessárias para a luta contra a corrupção efectiva no país.
 
“Entendemos que técnicas de investigação inovadoras, tais como as escutas telefónicas, gravação de voz e imagem, seguimento, entre outras, são necessárias para a luta contra a corrupção de forma efectiva”, disse aquela magistrada do Ministério Público.
 
Contudo, Maria Gemo lamentou o facto de a alínea f), do número 1 do artigo 40-H, da Lei número 14/2012, de 8 de Fevereiro, conceder competências aos magistrados do GCCC para a realização de escutas telefónicas, mas tal não ocorrer neste momento porque o recurso a estas escutas depende da aprovação da lei adjectiva, no caso concreto do Código Penal.
 
Num outro desenvolvimento, a directora do Gabinete Central de Combate à Corrupção, órgão de jurisdição da Procuradoria-Geral da República (PGR), afirmou que o país não tem falta de instituições para combater a corrupção com níveis que continuam a crescer.
 
“Nem existe falta de instituições para o efeito, pois as instituições da Administração Pública existentes ou do sector privado têm capacidade para combater a corrupção a seu nível”, considerou Ana Maria Gemo falado durante a 1ª Sessão do Conselho Coordenador da Procuradoria-Geral da República, que terminou ontem em Maputo.
 
De acordo com a directora-geral do GCCC, o problema que entrava o combate à corrupção em Moçambique “poderá estar com aqueles dirigentes que mesmo perante os apelos para combater a corrupção, ignoram a implementação de leis, perpetuando práticas ilícitas nas instituições públicas geradas pela impunidade”.
 
“No esforço de combate à corrupção, as instituições devem ser lideradas por entidades comprometidas com a causa e capazes de responsabilizar os funcionários corruptos”, advertiu Ana Gemo.
 
A fonte enumerou ainda outros factores que comprometem o combate à corrupção no país. Disse, por exemplo, que a forma como alguns crimes de corrupção são praticados coloca às instituições judiciárias enormes problemas na produção de provas.
 
A isso, segundo Ana Gemo, acresce o facto de esses actos assumirem hoje um carácter cada vez mais complexo.
 
Na opinião de Ana Gemo, torna-se determinante para o sucesso da investigação a utilização de equipas multissectoriais integrando não só magistrados, como também peritos das aéreas de auditoria e inspecção.
 
“Outrossim, estas condições de base para o fortalecimento do GCCC estão dependentes da disponibilização atempada de recursos financeiros necessários para diversos tipos de despesa.
 
Desde logo, a admissão de quadros qualificados, prevenção, investigação e instrução criminal”, referiu a fonte.
 
Inclusão de módulos sobre corrupção nas escolas
 
Por outro lado, a directora do Gabinete Central de Combate à Corrupção propõe, como forma de prevenção, a inclusão de módulos sobre a corrupção nos currículos escolares do sistema de ensino moçambicano, criação de núcleos anticorrupção nas instituições públicas, a criação de uma política de prevenção do crime de corrupção, entre outras medidas.
 
Na componente repressiva à corrupção, Ana Gemo propõe a redução da impunidade, a adopção de auditores ao GCCC.
 
Parece não haver vontade para travar a corrupção
 
Por seu turno, o ex-procurador-geral adjunto, Dr. Afonso Antunes, mostrou dúvidas quanto à vontade política existente no país para se combater a corrupção.
 
“Parece não haver vontade de combater a corrupção. A saída a conta-gotas da lei anticorrupção não ajuda em nada. A Assembleia da República devia aprovar a lei na totalidade e não em parcelas como está a fazer”, disse Afonso Antunes, actualmente um dos assessores do PGR, Augusto Paulino.
 
Ele acusou a inoperacionalidade e falta de colaboração da Inspecção do Ministério do Interior, órgão que politicamente tutela a Polícia da República de Moçambique (PRM).
 
“A inspecção do Ministério do Interior não funciona, está inactiva e não colabora na denúncia de actos de corrupção que envolvem os agentes da Polícia nas nossas estradas”, afirmou Antunes acrescentando que “há Polícias que nem são trânsitos, mas exercem essa função nas estradas com objectivos claros de extorquir os cidadãos, sobretudo os automobilistas”.
 
“Se a inspecção do Ministério do Interior funcionasse, teria brigadas nas estradas para neutralizar esses elementos da Polícia”, concluiu o magistrado, propondo que se crie uma lei de prevenção ou que desencoraja o crime de corrupção, como a que existe em Hong Kong, que já provocou o suicídio de alguns Polícias.
 
“Essa lei refere, por exemplo, que qualquer agente da Polícia que tenha bens superiores ao que ganha na corporação, deve ser considerado corrupto. Perante isso, a lei provocou muitos suicídios e foi desencorajando a prática da corrupção ou algo parecido. E nós podemos fazer isso se houver vontade”, disse.
 
Sobre os agentes da Polícia envolvidos em actos de corrupção nas estradas, um procurador que participou do Conselho Coordenador da PGR ido de Nampula, propôs a introdução de agentes do Ministério Público e da Polícia à paisana nos autocarros de transportes de passageiros que são as maiores vítimas, para a neutralização dos que exigem e recebem subornos.
 
“Proponho a introdução de agentes à paisana nos autocarros para combater a corrupção dos agentes de trânsito e outros nas estradas que recebem subornos dos automobilistas. Essas investigações deviam ser feitas por agentes que não são do território onde trabalham, mas, sim, solicitados de outros pontos”, disse a fonte adiantando que “se a investigação for feita por agentes da mesma área, não avança porque se conhece”.
 
“Tivemos um caso em que recebemos denúncia de um cidadão de que tinha combinado com um agente do Ministério Público que estava a lhe pressionar para pagar suborno. Mandamos os nossos agentes e quando chegaram no local apanharam o agente que quando lhes viu virou e cumprimentou-os apertando a mão como colegas. O cidadão ficou triste e MP não conseguiu as provas. Acredito que se fosse um agente desconhecido teríamos o neutralizado”, concluiu. (Bernardo Álvaro)
 

BRASIL E MOÇAMBIQUE JUNTOS

 

Rádio Moçambique
 
Os velhos macacos africanos suscitam a impressão de serem testemunhas de tempos imemoriais. Segundo a crença, eles proporcionam bênção. Não à toa os macacos são uma das poucas espécies preservadas em Moçambique, e é sob a sua sombra que decisões são tomadas, negócios são fechados e pedidos são feitos. A crendice tem ajudado os moçambicanos a superar enormes adversidades. É que o país esbanja riqueza natural, mas convive com indicadores socioeconômicos nada auspiciosos.
 
O país está entre os cinco piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, de 0,47, convive com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de US$ 450, a expectativa de vida é de 52 anos, 66% da população é analfabeta e, para completar o quadro, mais de 10% dela têm o vírus HIV.
 
Foi no século XV que os colonizadores portugueses desbravaram a costa oriental da África - durante a viagem de Vasco da Gama rumo à Índia. Recentemente, especialmente nos últimos dez anos, o quadro mudou. Moçambique vem sendo revisitado, só que agora por empresas brasileiras. Com projectos superiores a US$ 770 milhões, o Brasil tornou-se, este ano, o maior investidor estrangeiro, superando Portugal.
 
Exploração mineral, hidroeléctrica e aeroporto
 
A Vale do Rio Doce explora carvão mineral em Moatize. A Camargo Corrêa vai instalar uma hidroeléctrica no Rio Zambeze - Mphanda Nkuwa, a segunda maior da África. A Odebrecht está a construir o aeroporto internacional de Nacala, em Nampula. Depois da mineração e da infraestrutura, o agronegócio está a tornar-se a mais nova frente de actividade para os empresários brasileiros.
 
Assim como em Mato Grosso, a savana moçambicana deverá dar lugar a plantações de soja, milho e algodão, o "ouro branco". A diferença é que lá a terra pertence ao Estado, mas como o governo moçambicano está a ceder seis milhões de hectares a estrangeiros, o Brasil está de olho nessas áreas agricultáveis do outro lado do Atlântico.
 
“Moçambique é a bola da vez e ser brasileiro lá é uma vantagem competitiva. Agricultores individuais têm apresentado projectos para obter concessão de áreas de dez mil hectares, similares às propriedades do Mato Grosso. No caso de empresas, as terras pleiteadas chegam a 100 mil hectares”, comentou o director executivo da Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil-Moçambique (CCIABM), com sede em Minas Gerais, Rodrigo Coelho de Oliveira.
 
Aos olhos dos moçambicanos, a redescoberta do país pelo Brasil é vista como uma forma de apaziguar a miséria. Os investidores, por sua vez, estão ávidos mesmo é pela real possibilidade de expansão comercial e, sobretudo, esperam que o país seja uma espécie de trampolim para mercados mais pujantes, como é o caso da China.
 
A savana moçambicana é vista como "sob medida" para os agricultores brasileiros. A primeira razão é a semelhança climática com o cerrado. A segunda é que o programa de cooperação Pró-Savana, da Embrapa, repete o modelo Brasil-Japão, que mudou o cenário no Centro-Oeste brasileiro com a implantação de monoculturas voltadas à exportação.
 
“Estão a reproduzir exactamente a mesma fórmula do cerrado brasileiro. Calculamos as mesmas consequências futuras. Este modelo implica uma série de mudanças sociais em relação aos pequenos produtores rurais e cria para o país a dependência em relação ao preço de algumas commodities específicas, como a soja”, afirma a cientista política Ana Saggioro Garcia, doutora em relações internacionais pela PUC-Rio, comentando que outro foco de inquietação é a tão esperada geração de emprego. “Não há mão de obra local capacitada, o que faz as multinacionais importarem funcionários. E quem chega ganha salário mais alto do que os moçambicanos, o que gera bastante inquietação”.
 
A mudança na paisagem de Moçambique já está em curso. As machambas - como são conhecidas as roças familiares dos moçambicanos - já estão a disputar espaço com grandes plantações de florestas, especialmente eucaliptos e pinus. A previsão do governo do presidente Armando Guebuza é que, já no próximo ano, grandes produções agrícolas passem a mudar definitivamente o cenário do país.
 
“O nosso papel é desmistificar. Tudo está por ser feito e Moçambique ainda opera com espasmos de economia organizada. É um trabalho de formiguinha, de conhecimento”, afirma Shalom Confessor, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Moçambique, com sede no Espírito Santo, para quem as oportunidades se espalham do sector de pedras ornamentais ao da beleza feminina.
 
Há agricultores brasileiros, porém, que não acham o negócio tão bom assim. Acostumados a serem donos das terras, muitos se sentem pouco à vontade para cultivar áreas que, no fim das contas, não são da sua propriedade, embora possam actuar por um século. Alegam ainda a dificuldade de, sem título da propriedade, obter crédito para tocar lavouras dispendiosas, como a do algodão, que consome toneladas de pesticidas. No fim das contas, resta ainda preocupação com a estabilidade política do país.
 
Uma nova fronteira agrícola
 
A nova fronteira agrícola do mundo, Moçambique tem 36 milhões de hectares de terra arável, dos quais cinco milhões são explorados, sem contar as terras com potencial de irrigação. Nada menos que 80% da sua população, de 23 milhões de habitantes, vivem no campo, mas o modelo é o de agricultura de subsistência. Apenas 3% da produção agrícola é comercializada. O resultado é que o país não produz o suficiente para alimentar a sua população. Só de arroz, importa 360 mil toneladas por ano, o equivalente a cerca de 40% do que consome.
 
“O problema não é somente ambiental, mas também social. O modelo convencional de agricultura, dependente de insumos externos, como adubos e agrotóxicos, endivida pequenos agricultores”, avalia a agrônoma paulista Flávia Londres, que esteve em Moçambique, em outubro.
 
A discussão está a causar rebuliço no país. A União Nacional de Camponeses de Moçambique publicou, recentemente, uma carta analisando o Pró-Savana. Os agricultores reclamam de falta de informação e transparência dos governos envolvidos e questionam a expropriação de camponeses que vêm ocorrendo, criando levas de sem-terra que não existiam no país.
 
Não se pode negar que a chegada de empresas brasileiras e de outras nacionalidades acelera o crescimento econômico. Mas, para o pesquisador moçambicano Marques Rafael, a relação entre os dois países pode se converter num modelo de neocolonialismo:
 
“Antes, sabíamos quem eram nossos dominadores. Agora, o país está aberto a empresas e ao capital estrangeiro”.
 
A história de Moçambique está a ser reescrita e, segundo a Ernst & Young, os novos capítulos dessa história incluem "crescimento econômico, progresso, potencial e rentabilidade". A presença do Brasil em Moçambique está inserida nesta reviravolta.
 
Por Camila Nobrega e Cleide Carvalho (economia@oglobo)
 

Menor angolano-brasileiro abandonado em Maputo por traficante de droga

 

 
A história que a seguir narramos é de um menino que diz ter sido usado na comercialização e tráfico de droga, no caso o “crack”, um narcótico do grupo da cocaína, na República Federativa Brasil que veio parar em Maputo na companhia dum indivíduo que acabou o abandonado numa das estâncias hoteleiras da capital.
 
Julinho Mário Ângelo, 13 anos de idade, conta que saiu da Favela do Alemão, local de refúgio ou morada de traficantes na cidade de Rio de Janeiro, há sensivelmente um mês, com a intenção de conhecer o país, enganado por um jovem de 25 anos, reconhecido apenas por João.
 
Segundo narra, trata-se de um traficante de “crack” que terá usado o nome de Julinho para transportar cinco caixas de um produto que desconhece até à vizinha África do Sul, onde seria vendido a um cidadão daquele país.
 
“Nasci em Luanda. O meu pai Mário Ângelo é brasileiro e minha mãe angolana, Joana Abreu. Mudamo-nos para o Rio de Janeiro em 2007 onde conheci este meu amigo para quem vendia crack. O meu amigo averbou-me no seu passaporte e viajamos até Joanesburgo onde entregou caixas a um homem que lhe deu dinheiro e viemos a Maputo”, explica.
 
Já em Maputo, como explica Julinho, a dupla ficou hospedada num hotel até que João abandonou o menor alegadamente porque não tinha dinheiro para o seu regresso. Julinho procurou as embaixadas de Angola e Brasil sem obter qualquer resposta satisfatória, pelo facto de não ser portador de qualquer documento de identificação.
 
“O meu amigo prometeu que regressaríamos logo, mas ao chegarmos em Maputo disse que o valor não seria suficiente para duas pessoas e abandonou-me no hotel. Eu acho que ele me usou para transportar droga, porque as caixas vinham em meu nome”, lamentou.
 
O ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil, Nei Betencourt, disse ao Notícias que o caso de Julinho é de difícil intervenção por parte da instituição que representa pelo facto daquele ser apenas residente naquele país e não ter identificação.
 
“A nossa capacidade de acção é reduzida, se ele tivesse identificação tornaria o trabalho mais facilitado. Procuramos abrigo para ele, estamos a tentar localizar os pais para uma possível reintegração”, disse. A mesma ideia é partilhada pela representação angolana em Moçambique pela voz do seu adido de imprensa, Higino Piedade, para quem o rapaz não oferece informações que possam facultar a localização de qualquer parente.
 
Ao que apuramos, o menor foi encaminhado por três vezes à Acção Social, de onde veio a fugir. Ele alega não querer ficar em uma instituição, importando-se apenas em regressar ao Brasil. Julinho permanece na rua sem qualquer abrigo, à espera da confirmação da sua origem e seus pais, para que seja reembarcado quer seja ao Brasil, quer para Angola.
 
Com jornalnoticias.co.mz
 

Conselho Europeu: A EUROPA FEDERAL NÃO É PARA AGORA

 


Libération, Paris – Presseurop – imagem Nicolas Vadot
 
A última cimeira da União Europeia deste ano não vai avançar na senda de uma união económica e monetária mais estreita. Deve-se isso a Berlim e Paris, que chegaram a um acordo para abandonar o roteiro apresentado por Herman Van Rompuy. O debate sobre o futuro da União foi adiado para 2014, depois das eleições alemãs e europeias.
 
 
François Hollande e Angela Merkel acabam de pregar uma partida muito prejudicial à União Europeia. O par franco-alemão, por uma vez de acordo, decidiu ontem inviabilizar um debate estratégico sobre o futuro da Europa. Um debate adiado, suprimido ou mesmo banido.
 
Os Vinte e Sete tinham-se comprometido a adotar, antes do fim do ano, um “roteiro” político. Nele deviam constar as grandes etapas de uma “integração solidária” – para retomar uma expressão sibilina grata ao Presidente Hollande. Que solidariedade financeira, capacidade orçamental comum, controlo democrático?
 
Não se tratava de tomar decisões a respeito de tudo, nem de investir numa irresponsável fuga para a frente; pretendia-se apenas dinamizar todas as instituições da União e, sobretudo, abrir um vasto debate, às claras. Pelo menos por duas razões. A sobrevivência da zona euro depende disso: os Vinte e Sete só evitaram a catástrofe com decisões que foram dando passos no sentido da solidariedade financeira entre os Estados-membros, a cada cimeira apelidada de “última oportunidade”. Mas essa navegação à bolina – e é a segunda razão – foi feita sob pressão dos mercados, sem uma visão política e, sobretudo, nas costas da opinião pública.
 
Discordando quanto aos contornos de um novo federalismo europeu, franceses e alemães preferiram uma política de avestruz: Angela Merkel entra num período eleitoral e não quer correr nenhum risco, e François Hollande teme reacender velhas feridas dentro da sua maioria. Pare-se tudo!
 
Só que esta visão politiqueira baseia-se em premissas duvidosas, como se a crise estivesse definitivamente ultrapassada e as populações se pudessem contentar com uma austeridade de vistas curtas.
 
Visto de Portugal e Itália
 
Mais uma cimeira decisiva
 
“O Conselho Europeu de hoje e amanhã vai discutir um roteiro para reformar e completar a União Económica e Monetária, que será decisivo para ultrapassar a crise da zona euro”, escreve Maria João Rodrigues no Público. Segundo ela, depois de três anos em que as medidas adotadas estiveram sempre aquém do necessário, deixando a crise alastrar, estão finalmente em cima da mesa propostas de grande alcance, em cujo debate Portugal deve intervir ativamente […] por forma a reduzir a lógica intergovernamental nas tomadas de decisão, já que ela só favorece os países mais fortes. O chamado método comunitário, baseado na iniciativa da Comissão Europeia e valorizando o papel do Parlamento Europeu, é o método que melhor pode promover a igualdade dos Estados-membros e dos cidadãos europeus, hoje muito degradada.
 
“Esta é a última cimeira […] de um ano complicado encerrado pela UE numa atmosfera de grandes preocupações e incertezas sobre praticamente tudo. Sobre o seu futuro, a sua identidade, a sua integração ou o seu sonho federal”, escreve Enzo Bettiza em La Stampa. Para o editorialista italiano, a cimeira de 13 e 14 de dezembro continuará a dividir-se, durante as próximas 48 horas, em conversas de corredor e em discretas reuniões bilaterais. Após ter contornado o perigo grego e ter congelado por enquanto o défice espanhol, é na intimidade diplomática dos jantares privados que os principais protagonistas da cimeira, os franceses e os alemães, enfrentarão os dois principais “incidentes” que atualmente ameaçam a coesão da UE: a deriva política da Itália e a contestação eurocética e antiburocrática do Reino Unido.
 

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