quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Há mais mortes em Guantánamo sob governo Obama do que com Bush, diz ex-prisioneiro

 


Agência Pública, Londres – Opera Mundi
 
Em entrevista a Julian Assange, Moazzam Begg, preso no Afeganistão em 2002, critica políticas norte-americanas
 
Desde o início da chamada Guerra ao Terror, ofensiva norte-americana iniciada em 2001, centenas de prisioneiros foram levados à base de Guantánamo, onde permanecem encarcerados sem acusação formal e direito à defesa.

O britânico Moazzam Begg, intelectual muçulmano detido sob suspeita de ser integrante da Al Qaeda, é um deles. Preso em 2002 no Afeganistão, só foi libertado três anos depois, sob muita pressão do Reino Unido. Jamais foi acusado formalmente de terrorismo.

Ao sair de Guantánamo, Begg se juntou ao advogado Asim Qureshi para fundar a Cagepriosioners, organização que defende o direito ao processo legal para prisioneiros detidos na guerra contra o terrorismo.

“O que você tem que entender é que, até onde os muçulmanos sabem, eles estão sob ataque em países ao redor do mundo todo. Há centenas de milhares de pessoas morrendo”, diz Asim Qureshi, em entrevista concedida a Julian Assange durante sua prisão domicliar, no interior da Inglaterra. ”E se você olhar o conceito de jihad no contexto atual, ele diz que, como muçulmanos, temos o direito de nos defendermos. Não tem sentido dizer que as pessoas que estão sendo mortas por ocupações, domínios coloniais, racismo, não devem se defender e devem continuar levando tapas, sendo estupradas…”
 
Julian pergunta, então, se esta “defesa” significaria resistência militar. “Claro”, responde o advogado, ponderando que as “armas” da Cageprisoners são o lobby e as campanhas.
 
Para Moazzam Begg, que hoje é um reconhecido defensor de direitos humanos, a grande diferença na guerra ao terror entre as administrações Bush e Obama foi a seguinte: “Eu costumava dizer que Bush era o presidente do governo em que as detenções extrajudiciais estavam acontecendo. Mas o Obama é o presidente do governo em que as mortes extrajudiciais estão acontecendo. Então, Obama prometeu uma mudança, disse que a mudança tinha chegado à América. E é isso: a mudança é de detenções extrajudiciais para mortes extrajudiciais”.

O projeto “O Mundo Amanhã” foi produzido pelo
WikiLeaks em parceria com o canal RT, da Rússia. A publicação foi autorizada pela Agência Pública.

A transcrição da entrevista em vídeo também pode ser lida
aqui.
 

GRÉCIA: POR QUE PUBLIQUEI A LISTA LAGARDE

 


The Guardian, Londres – Preseurop, imagem AFP
 
Em 2010, a chamada "lista Lagarde", que identifica mais de 2000 gregos com grandes fugas a impostos, foi entregue ao Governo grego. Mas nada foi feito. Kostas Vaxevanis, chefe de redação da revista Hot Doc, foi recentemente preso por publicá-la. Para ele, é um sintoma da corrupção que grassa na Grécia.
 
 
"Quanto mais leis tem um país, mais corrupto é", costumava dizer o historiador romano Tácito. A Grécia tem muitas leis. Tantas, na verdade, que a corrupção pode viver em grande segurança. Um clube exclusivo de gente poderosa envolve-se em práticas ilegais, depois usa as leis necessárias para legalizar essas práticas, concedendo-se amnistias, e, no final, não há meios de comunicação que exponham o que realmente aconteceu.
 
No momento em que escrevo, as atribulações de uma revista independente grega, a Hot Doc, que eu chefio, estão a ser debatidas em todo o mundo. A publicação de uma lista de supostos titulares de contas bancárias suíças e a minha posterior prisão provocaram uma tempestade. Mas não nos meios de comunicação gregos. Há alguns meses, a Reuters e a imprensa britânica revelaram os escândalos envolvendo bancos gregos. Os meios de comunicação gregos também não escreveram nada nessa altura. O espaço que deveria ter sido dedicado a análises desses escândalos foi ocupado por anúncios patrocinados pelas mesmas pessoas que causaram a falência dos bancos gregos.
 
O caso Lagarde, na Grécia, é apenas uma expressão extrema da situação que se vive na imprensa grega. Em 2010, Christine Lagarde [diretora do FMI] entregou ao então ministro das Finanças, George Papaconstantinou, uma lista de gregos que tinham contas bancárias no exterior. Parte era "dinheiro sujo" – dinheiro que não terá sido tributado ou precisava de ser “lavado”. Numa sucessão turbulenta de acontecimentos, Papaconstantinou admitiu ter perdido os dados originais, mas conseguiu fazer chegar outra cópia ao seu sucessor, Evangelos Venizelos, que já admitiu tê-la visto, mas até agora ainda não teve oportunidade de apreciá-la. Em suma, a lista continua sem ter sido devidamente investigada.
 
Corredores sombrios do poder corrupto
 
Nestes dois anos, a questão da identificação de pessoas que se presume terem contas bancárias na Suíça tem envenenado a vida política grega, com chantagens políticas e financeiras a decorrer nos corredores sombrios do poder corrupto. Foi neste contexto que a Hot Doc publicou 2059 nomes de gregos que supostamente têm contas bancárias na Suíça, sem especificar os montantes dos seus depósitos nem qualquer outra informação pessoal.
 
E então, com a máxima hipocrisia, os poderes aperceberam-se da questão. O Ministério Público de Atenas saiu do seu acantonamento e ordenou a minha prisão imediata. É invocada a lei sobre dados pessoais como base para a acusação. Na realidade, porém, não estão envolvidos dados pessoais – apenas o facto de certos indivíduos terem conta num determinado banco. Nem sequer alegámos que esses indivíduos fossem culpados, apenas pedimos uma investigação.
 
As relações com os bancos são realizadas em público, não em segredo. A existência de uma conta bancária não é, portanto, um dado pessoal. Dados pessoais seriam o montante e o tipo de transações. Na Grécia, os bancos enviam por correio envelopes com os respetivos logótipos, onde encerram detalhes sobre transações de clientes; por outras palavras, declaram a sua relação com os clientes. No entanto, a publicação de uma simples lista de nomes e um pedido de investigação foram considerados exposição de dados pessoais.
 
Justiça grega pisca o olho e abana a cabeça
 
Na mitologia grega antiga, a justiça é apresentada como sendo cega. Na Grécia moderna, ela apenas pisca o olho e abana a cabeça. O estudo da lista Lagarde é altamente revelador. Editores, empresários, armadores, todo o sistema de poder aparece envolvido em transferências de dinheiro para o estrangeiro. E isto é informação de apenas um banco. Enquanto isso, na Grécia, as pessoas andam pelos caixotes à procura de comida.
 
A crise na Grécia não foi causada por toda a gente. E nem todos estão a pagar a crise. O clube exclusivo e corrupto do poder tenta salvar-se a si próprio, ao mesmo tempo que finge fazer esforços para salvar a Grécia. Na realidade, estão a exacerbar as contradições da Grécia, enquanto a Grécia oscila à beira de um precipício.
 
Se, na Bíblia, os pecadores "coam o mosquito e engolem o camelo", na Grécia, os poderes pecadores atuais sugam as pensões e engolem listas – para as fazer desaparecer, evidentemente. São as listas dos seus amigos, conhecidos, favoritos e companheiros de trapacice.
 
No país que, como gostamos de recordar, deu à luz a democracia, esta tornou-se uma criação nova e estranha. Os responsáveis certificam-se de que o direito de voto faz as vezes de democracia, negando a democracia na maneira como abusam dos direitos que os eleitores lhes deram. E a justiça continua dominada pela política.
 
Contexto
 
Processo com dimensão política?
 
Kostas Vaxevanis foi preso e libertado em 28 de outubro, um dia depois da publicação, na sua revista, de mais de 2000 nomes de pessoas que depositaram dinheiro no banco HSBC, na Suíça. É a chamada "lista Lagarde", que foi buscar o nome à ex-ministra francesa da Economia [Christine Lagarde, atual presidente do FMI], por ter sido ela a apresentar o documento às autoridades gregas em 2010, num CD.
 
O diretor da Hot Doc foi presente ao tribunal de Atenas no dia 29, acusado de violar a lei sobre a publicação de dados privados; mas o julgamento foi adiado para 1 de novembro. Os seus advogados anunciaram que tencionam demonstrar a dimensão política do caso. Segundo o diário de Atenas Kathimerini, este adiamento deve também permitir que algumas das pessoas mencionadas na lista sejam arroladas como testemunhas.
 

GUERRA NA EUROPA É “INEVITÁVEL”, diz Vasco Lourenço

 

Expresso - Lusa
 
O capitão de Abril defende que Portugal deve sair do euro e que a Europa não escapa à destruição do Estado Social.

O "capitão de Abril" Vasco Lourenço considera que uma guerra na Europa é inevitável, se esta se continuar a "esfrangalhar", e defende a rápida saída de Portugal do Euro, preferencialmente em conjunto com outros países na mesma situação.

"A Europa vai esfrangalhar-se, vem aí a guerra inevitavelmente", disse, referindo-se à "destruição do estado social" e à "falta de solidariedade que está a haver na Europa".
 
O presidente da Associação 25 de abril, em entrevista à agência Lusa, recordou que a Europa tem atravessado o maior período de paz da sua história, desde a Segunda Guerra Mundial, o que só foi possível graças à conquista pelos cidadãos do direito ao Estado social, à proteção, à saúde, à educação e à segurança social.
 
Saída atempada da UE
 
Recorrendo à fábula da rã que é cozida sem dar por isso, porque está dentro de uma água que vai aquecendo aos poucos, Vasco Lourenço não tem dúvidas de que é preferível a rutura do que "deixarmo-nos cair no abismo para onde este Governo e a Europa nos estão a atirar".
 
Como alternativa aponta a saída atempada e programada da União Europeia e do euro, manifestando esperança de que haja condições para Portugal ser capaz de se ligar a outros países nas mesmas circunstâncias e tentarem encontrar soluções coletivas.
 
"Se possível seria ideal sairmos com outros países, porque as dificuldades serão muito maiores se sairmos isolados. Agora se houver um conjunto de países que estão em dificuldades que se unam e concertem a sua saída do euro, é capaz de ser muito melhor e dá-nos a possibilidade de darmos a volta por cima".
 
Reconhecendo que não será fácil conseguir essa articulação, Vasco Lourenço mostra-se convicto de que muito provavelmente os outros países em situação semelhante à portuguesa estarão a discutir o mesmo tipo de possíveis saídas.
 
"É preciso juntar esforços e chegar à conclusão que todos teremos a ganhar se unirmos esforços dos vários países contra quem está neste momento a ocupar-nos não militarmente, mas financeira e economicamente", disse.
 

Portugal: Deputados saem sob insultos do Parlamento com ajuda da polícia

 


Fabíola Maciel – Público, com foto Miguel Manso
 
No momento em que a votação do Orçamento do Estado para 2013 na generalidade terminou na Assembleia da República (AR), um grupo de manifestantes foi para a lateral do edifício e impediu a saída dos deputados.
 
Terminado o debate sobre o OE2013, os deputados foram impedidos de usar as habituais saídas da AR. Perto de duas centenas de manifestantes barraram as saídas laterais do Parlamento, em Lisboa, e gritaram “vergonha”, “demissão” e “gatunos”.

Os veículos foram desviados pelos agentes da polícia para a lateral direita da AR, em direcção à Calçada da Estrela. Com as duas saídas do lado esquerdo bloqueadas, os deputados foram obrigados a passar pela rampa da parte da frente do Parlamento, que apenas é utilizada em cerimónias oficiais e em paradas.

Em frente ao Parlamento estão centenas de manifestantes da CGTP desde perto das 15h, hora marcada para o início do protesto. Perto das 16h20, juntou-se ao grupo a marcha de protesto da Frente Comum dos Sindicatos dos Trabalhadores da Administração Pública e do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), afecta à Intersindical, que tinha partido cerca de uma hora antes do Marquês de Pombal, empunhando bandeiras pretas.

Fonte das forças policiais disse ao PÚBLICO que o corpo policial foi reforçado em comparação com a
última grande manifestação, a 15 de Outubro. Um reforço que é visível nos cordões policiais montados na periferia de todo o edifício. No local está também o treinador dos cães de patrulha.

Vários petardos rebentaram à frente do Parlamento. Num tom menos violento, os manifestantes entoaram Grândola, Vila Morena, canção de José Afonso que serviu de senha na Revolução dos Cravos, ainda a meio da tarde.

Com o cair da noite, os manifestantes derrubaram as vedações que se encontravam a proteger a escadaria do Parlamento, onde o corpo de intervenção da PSP formou dois cordões de protecção ao edifício cerca das 18h30. Há objectos a serem arremessados para a escadaria e é frequente o rebentamento de petardos. Os cães da Polícia foram levados para a linha da frente.

Já depois das 19h, os manifestantes atearam uma fogueira em frente à AR. Fizeram-na no mesmo sítio em que, a 15 de Outubro, se fez outra. Nessa altura, o protesto acabou numa carga policial. Agora, eram mais os petardos que se ouviam rebentar e mais as pessoas de cara tapada.

O contingente policial posicionado na escadaria da Assembleia da República (AR) foi reduzido pouco depois das 21h, numa altura em que apenas algumas dezenas de pessoas continuavam concentradas em frente ao parlamento, de forma mais ordeira.
 

Mais lidas da semana