terça-feira, 9 de outubro de 2012

ALIENAÇÃO À MODA DOS EUA

 


Em novo episódio do ataque à democracia, eleições norte-americanas escondem da sociedade exatamente o que ela mais precisaria saber
 
Noam Chomsky – Outras Palavras - Tradução: Gabriela Leite e Antonio Martins
 
Nossos políticos mostram uma estraordinária vontade de sacrificar as vidas de nossos filhos e netos por ganhos a curto prazo. No momento em que as eleições para a Presidência chegam ao momento decisivo, é útil indagar como as campanhas políticas estão lidando com os temas mais cruciais que enfrentamos. A resposta é: ou muito mal, ou simplesmente não tratam destes assuntos. Sendo assim, surgem algumas questões importantes: por que? E o que podemos fazer em relação a isso?
 
Existem dois problemas de importância fundamental, porque o destino da espécie está em jogo: o desastre ambiental e a guerra nuclear. O primeiro está regularmente nas primeiras páginas. Em 19 de setembro, por exemplo, Justin Gillis escreveu uma reportagem para o New York Times sobre como o derretimento do gelo do Oceano Ártico cessou por esse ano, “mas não sem antes derrubar seu recorde anterior — desencadeando novas preocupações sobre o ritmo acelerado nas mudanças da região.” O derretimento está se dando de modo muito mais rápido do que era previsto por modelos matemáticos sofisticados e pelos últimos relatórios da ONU sobre o aquecimento global.
 
Novos dados indicam que o gelo deve desaparecer durante o verão até 2020, com consequências severas. Pesquisas estimam que o gelo desaparecerá completamente por volta do ano 2050. “Mas os governos não responderam à mudança com a urgência necessária para limitar as emissões de efeito estufa,” escreve Gillis. “Ao contrário, sua resposta principal tem sido planejar a exploração dos agora acessíveis minerais do Ártico, incluindo a extração de mais petróleo” — isso é, acelerando a catástrofe. A reação demonstra, novamente, uma extraordinária vontade de sacrificar vidas das nossos filhos e netos pelo curto prazo.
 
Ou, talvez, uma vontade igualmente notável de fechar nossos olhos, para que não vejamos o perigo iminente. Não é só. Um novo estudo do Monitor da Vulnerabilidade Climática verificou que “as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global estão reduzindo a produção econômica mundial em 1,6% ao ano, e provocarão a duplicação de certos custos estratégicos nas próximas duas décadas”. O estudo foi amplamente divulgado em outros países, mas os norte-americanos foram poupados de tais notícias perturbadoras. As plataformas dos partidos Democrata e Republicano sobre assuntos climáticos foram analisadas na edição de 14 de setembro da revista Science.
 
Num caso raro de ação comum, os dois partidos propõem que tornemos o problema mais grave. Em 2008, ambas as plataformas dedicavam alguma atenção às políticas do governo diante da mudança climática. Agora, o tema quase desapareceu da plataforma republicana — que, no entanto, pede que o Congresso “aja rapidamente” para evitar que a Agência de Proteção Ambiental (EPA, em inglês) — criada pelo ex-presidente republicano Richard Nixon em dias mais sãos — regule a emissão de gases do efeito-estufa. E devemos abrir o Refúgio Ártico do Alaska à perfuração, para tirar “vantagem de todos os recursos que Deus ofereceu aos americanos”. Não podemos desobedecer o Senhor, afinal de contas. A plataforma também sustenta que “devemos restaurar a integridade científica de nossas instituições de pesquisa e eliminar incentivos políticos relacionados à pesquisa desenvolvida com recursos públicos” — um código para referir-se à ciência do Clima.
 
Tentando escapar do estigma de ter se preocupado com mudança climática há alguns anos, Mitt Rommey, o candidato republicano, declarou que não há consenso científico sobre o tema. Portanto, deveríamos apoiar mais debate e investigações — mas não ações, exceto as que tornam o problema mais sério. Os democratas mencionam, em sua plataforma, que há um problema, e recomendam trabalharmos “em direção a um acordo para definir limites às emissões, com outras potências emergentes”.
 
Porém, o presidente Barack Obama enfatizou que os EUA devem conquistar cem anos de independência energética empregando extração por fratura hidráulica (fracking) e outras tecnologias — sem se perguntar o que este tipo de prática provocará no planeta, em cem anos. Há, portanto, diferenças entre os dois partidos: dizem respeito a quão entusiasticamente os ratos devem marchar até o abismo. Um segundo grande tema, a guerra nuclear, também está nas primeiras páginas todos os dias, mas de uma forma que escandalizaria um marciano observando fatos estranhos na Terra.
 
A ameaça atual está, de novo, no Oriente Médio, especificamente no Irã — ao menos segundo o Ocidente. No próprio Oriente Médios, os EUA e Israel são considerados ameaças muito maiores. Ao contrário do Irã, Israel recusa-se a permitir inspeções ou a assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). Possui centenas de ogivas nucleares e sistemas avançados de mísseis, além de uma longa história de violência, agressão e desrespeito ao direito internacional, graças a apoio norte-americano incessante. Se o Irã está tentando desenvolver armas nucleares, os serviços de inteligência dos EUA não sabem. Em seu último relatório, a Agência Internacional de Energia Atômica afirma que não pode demonstrar “a ausência de material e atividades nucleares não-declaradas no Irã” — um rodeio em que a instituição condena o país, como Washington exige, ao mesmo tempo em que reconhece não poder acrescentar nada às conclusões da inteligência norte-americana.
 
Portanto, deve-se negar ao Irã o direito de enriquecer urânio, que é assegurado pelo TNP e endossado pela maior parte do mundo — inclusive o movimento dos países não-alinhados, que acabam de se reunir em Teerã. A possibilidade de que o Irã desenvolva armas nucleares sobressai na campanha eleitoral (o fato de Israel já tê-las, não…). Duas posições se contrapõem. Os Estados Unidos deveriam declarar que atacarão, caso o Irã alcance capacidade de desenvolver armas nucleares, como dezenas de outros países? Ou Washington deveria manter a “linha vermelha” mais indefinida? A segunda posição e a da Casa Branca; a primeira é exigida pelos falcões israelenses — e aceita pelo Congresso norte-americano.
 
O Senado acaba de votar, por 90 x 1, em favor do apoio a Israel. Está ausente do debate a alternativa óbvia para mitigar ou eliminar qualquer ameaça que o Irã possa representar. Basta estabelecer uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio. A oportunidade está ao alcance da mão: uma conferência internacional sobre o tema irá se reunir em alguns meses para trabalhar por este objetivo, apoiado no mundo todo — inclusive, por uma maioria de israelenses. O governo de Telaviv, no entanto, anunciou que não participará, até que haja uma acordo de paz na região, algo inatingível enquanto Israel persistir em suas atividades ilegais nos territórios ocupados da Palestina. Washington aferra-se à mesma posição, e insiste que Israel deve ser excluído de tal acordo regional.
 
Podemos estar caminhando para uma guerra devastadora, talvez nuclear. Há caminhos diretos de superar esta ameaça, mas não serão adotados exceto se houver ativismo social em larga escala, exigindo que se aproveite a oportunidade. Isso, no entanto, é muito improvável, enquanto tais temas permanecerem fora da agenda — não só a do circo eleitoral mas também a da mídia e do debate nacional mais amplo. As eleições são feitas pela indústria de relaços públicas, cujo principal afazer é a publicidade comercial. É concebida para subverter os mercados, criando consumidores desinformados que tomam decisões irracionais — o oposto exato de como se supõe que os mercados funcionariam. As vítimas, porém, não estão obrigadas a obedecer. A passividade costuma ser o caminho mais fácil — porém, quase nunca, o honroso.
 

Portugal: A LIÇÃO DO CONGRESSO

 


Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues
 
Enquanto as mais altas individualidades faziam uma celebração privada do 5 de Outubro, duas mil pessoas, vindas de todo o País, reuniram-se, durante 10 horas, na Aula Magna, em Lisboa, no Congresso Democrático das Alternativas. Só isto já é extraordinário: duas mil pessoas perderam o seu feriado, num fim de semana prolongado com bom tempo, para discutir política. Sem que nenhum partido o tivesse mandado fazer. Por si. Fora da capital, foram elas que se organizaram e se juntaram para pagar as camionetas que as trouxeram. O Congresso foi pago, até ao último cêntimo, com contributos dos congressistas.
 
As pessoas que estiveram na Aula Magna, e nas cinco sessões temáticas que se realizaram, eram pessoas que raramente se podem encontrar juntas. A esmagadora maioria sem partido, muitas dos vários partidos de esquerda. Gente de todas as idades, de todo o País, com e sem experiência política.
 
Não foram ali para protestar. Nem sequer foram ali para falar de Passos Coelho. Foram para pensar no dia seguinte a Passos Coelho. Porque sabem que esse dia só valerá a pena se para ele houver uma alternativa credível e praticável. Não foram falar de coligações ou estratégias eleitorais. Foram falar do conteúdo da política. De soluções.
 
Antes de mais, para discutir como nos veremos livres de um memorando que sufoca a nossa economia, o emprego, as contas públicas e a democracia. Como se renegoceia a dívida e que efeitos a denúncia do memorando e essa renegociação podem ter. Os positivos e negativos, sem esquecer ou ignorar qualquer um deles, mas recusando a chantagem do medo. E como se pode lidar com esses efeitos. Depois, o que se tem fazer com um sistema político obviamente bloqueado. Por fim, o querem dos serviços públicos, das leis laborais, da economia. Não me estenderei, por agora, nestes pontos. Eles estão nos documentos do Congresso (http://www.congressoalternativas.org/p/documentacao.html) e não devo ser eu a fazer interpretações sobre uma declaração discutida, emendada e aprovada. Resultado de centenas de contributos escritos por especialistas e não especialistas, num processo democrático exemplar. Mais tarde, com a coisa mais digerida, tentarei ir aos temas. Até porque o Congresso me ajudou, como terá ajudado a outros, a sedimentar umas posições e a alterar outras.
 
Poucas vezes, na minha já razoável experiência política, vi pessoas saírem de um acontecimento deste género tão satisfeitas. Com dúvidas sobre o que acontecerá depois disto. O que será feito com o seu trabalho. Mas satisfeitas. Porque não foram ali ouvir um comício com frases feitas. Porque não assistiram a um momento de aclamação de líderes ou de unanimismos. Ouviram opiniões de economistas que defendem caminhos diferentes para chegar ao mesmo sítio. Ouviram políticos que costumam estar de costas voltadas. E, muito mais importante, ouviram outros cidadãos sem notoriedade mediática e com percursos sociais, profissionais e políticos diferentes que tinham coisas pensadas para dizer. Não meros desabafos. Propostas. Umas bem estruturadas, outras nem por isso. Mas todas nascidas nas suas cabeças e não resultado de qualquer diretiva partidária.
 
Os que organizaram este congresso, tivessem ou não partido, tomaram uma decisão: não hostilizariam nenhum partido à esquerda, não pediriam autorização para fazer as coisas como fizeram a nenhum partido à esquerda. Mostraram respeito e exigiram respeito. E deixaram claro que este congresso era dos congressistas e para o País, e não para alimentar a agenda partidária de ninguém. As pessoas sentiram isto. Coisa rara: não se sentiram usadas. E corresponderam.
 
Uma das coisas que mais me impressionou é que, tirando um incidente isolado e imediatamente contrariado de forma clara pela generalidade da plateia, toda a gente fez um enorme esforço para não repetir as guerras de sempre entre as capelinhas da esquerda. Nos debates e votações notava-se um esforço real de procurar, no respeito pela opinião dos outros, os denominadores comuns. Sabendo que eles não são, nunca podem ser, a opinião exata de cada um. É um exercício difícil, mas muito pedagógico para todos. E ao corresponderem a este desafio não deixaram qualquer espaço de manobra aos que ali quisessem fazer ajustes de contas. Recusaram propostas que impedissem a convergência. E recusaram, com uma votação esmagadora, a proposta de transformar aquilo numa associação política para criar um partido. Não era a isso que vinham.
 
Aquelas duas mil pessoas deram, naquele feriado de sol, uma enorme lição a muitos dirigentes políticos. Sem precisarem de lhes dizer nada. Apenas pelo exemplo. Porque não ficaram à espera de ninguém para começar um processo de convergência na construção de uma alternativa, deixando claro que não estão dispostas a esperar pelo entediante jogo de xadrez a que a vida partidária tantas vezes se dedica. Porque souberam dialogar, mostrando que é muito mais o que as une do que o que as separa e que é possível que uma conversa comece pelo conteúdo da política e não pela distribuição de lugares ou pela enésima revisitação de todas as guerras passadas. Porque participaram democraticamente nas decisões, como cidadãos e não mais do que cidadãos, recusando a menorização a que tantas vezes têm sido sujeitas. Porque recusaram o populismo contra os partidos e a democracia, mostrando que o País não é um enorme "Fórum TSF". Porque foram exigentes com a sua própria participação naquele congresso, recusando o papel de meros clientes de ofertas eleitorais. E a satisfação das pessoas era consigo próprias e não com um novo chefe ou um salvador. Mostraram o que muitos já deviam ter percebido: que podem mais, aguentam mais, do que a pura propaganda. Até aguentam a dúvida, a incerteza das escolhas que fazem, a responsabilidade de as fazer.
 
Não deixou de ser, no entanto, perturbante ver como a comunicação social (sendo justo, nem toda), sobretudo a televisiva, não conseguiu sair do esquema do costume. Naquele congresso, para muitos jornalistas, só contavam as personalidades. E, acima de tudo, as personalidades dos partidos. A partidocracia é um hábito que a comunicação social alimenta e que alimenta a preguiça da comunicação social. E a generalidade da comunicação social não conseguiu sair das pessoas do costume, das conversas do costume, dos esquemas do costume. Não percebeu o que ali se passou. Estava fora do seu esquema mental. E ali passou-se, sabe quem lá esteve, uma coisa completamente nova. Que nunca tinha, com esta dimensão e este grau de abrangência e participação, sido feita na nossa democracia.
 
Não me interpretem mal. Não só não acho que os partidos sejam um problema para a democracia, como acho que são centrais para a sua saúde. Mas até eu, que sou militante de um, sei que não chegam. E que sem a participação ativa e democrática dos cidadãos, militantes ou não de qualquer partido, os partidos se viram para dentro e tratam apenas da sua própria sobrevivência.
 
Quando digo que aquelas duas mil pessoas deram uma lição a muitos dirigentes políticos, não é porque tenham agido contra eles. É porque mostraram como se pode fazer. Que os dirigentes políticos de esquerda - porque era obviamente nesse espaço político que o Congresso se situava - tenham tomado notas. Não das perdas ou dos ganhos. Mas da forma e do conteúdo. Melhores notas do que as da maioria dos jornalistas que lá estiveram.
 
Declaração de interesses: sou membro da Comissão Organizadora e Comissão Executiva do Congresso Democrático das Alternativas.
 

Portugal: "Governo está moribundo e ninguém o toma a sério", diz Mário Soares

 

i online - Lusa
 
O antigo presidente da República, Mário Soares, considerou hoje que “o governo está moribundo e ninguém o toma a sério”, num artigo assinado no Diário de Notícias, onde pediu uma intervenção do atual chefe de Estado, Cavaco Silva.
 
“Aproxima-se o momento em que não pode continuar a fazer discursos vazios e que será obrigado a tomar decisões. A não ser que se demita também”, afirmou Mário Soares num artigo de opinião assinado no DN sob o título “Uma semana difícil”.
 
Considerando que o governo está moribundo e que já ninguém o leva a sério, o antigo presidente acredita que nesta altura, mais do que eleições, Portugal precisa de um novo primeiro-ministro.
 
“Sou democrata e sei bem que não há democracia sem eleições. Mas há momentos em que as eleições não se justificam porque não resolverão nada e podem antes complicar muito a situação”, assinalou.
 
Como exemplo, Mário Soares apontou o caso da Itália, onde o presidente da República, Giorgio Napolitano, substituiu o ex-primeiro-ministro Sílvio Berlusconi pelo chefe de governo atual, Mário Monti.
 
“Conseguiu, com a habilidade política e a inteligência que toda a gente lhe reconhece, ver-se livre de Berlusconi e nomear um primeiro-ministro, Mário Monti, com o acordo do parlamento, mas sem eleições”, explicou.
 
No mesmo texto, Mário Soares criticou o silêncio de Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros, exigindo a sua demissão.
 
“Portas, por mais que goste de ser ministro, e ao que parece gosta muito, não pode continuar a sê-lo, sem perda total da sua dignidade e prestigio. Deve demitir-se quanto antes. As sondagens mostram o seu partido a descer abaixo do PCP e do Bloco de Esquerda e ele próprio, antes tão popular, a descer igualmente nas sondagens”, destacou.
 

ESPEREM UM POUCO, QUE EU DIGO A UM JORNAL ESPANHOL

 


Henrique Raposo – Expresso, opinião, em Blogues
 
No discurso do 5 de Outubro, escondido da populaça, o Presidente da República optou por falar de um tema importante, mas que - já aqui o disse várias vezes - nada tinha a ver com a delicada situação em que vivemos.
 
Algumas pessoas fizeram-me ver que o chefe do Estado prefere trabalhar nos bastidores, não proferindo uma palavra que possa incendiar, ainda mais, a frágil situação política em que vivemos. Achei o argumento fraco, mas enfim...
 
Eis senão quando, numa entrevista ao jornal económico 'Expansión', o mesmo Cavaco Silva revela o seu pensamento sobre a atual crise: Entre outras coisas acertadas, disse que se tem de ouvir o povo; que a política fiscal vai ter um efeito recessivo e que os empresários não têm expectativas positivas.
 
Ou seja, o que podia ter dito numa cerimónia oficial do Estado português, reservou para o dizer numa entrevista a um jornal estrangeiro. É curioso. Mais do que curioso, é feio.
 
Tenho, até, uma ou duas palavras para classificar este comportamento. Se fosse como o Presidente, di-las-ia quando um jornal espanhol quisesse saber a minha opinião. Como não sou, digo-as já: falta de tino e desorientação.
 
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Portugal: GOVERNO PREPARA 50 MIL DESPEDIMENTOS NA FUNÇÃO PÚBLICA

 


"É o maior despedimento coletivo em Portugal"
 
Agência Lusa, publicado por Patrícia Viegas – Diário de Notícias
 
Redução de 50% de funcionários públicos
 
O secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos, afirmou hoje, em Coimbra, que a redução de 50% dos contratados a prazo no setor público, anunciada segunda-feira pelo Governo, constitui "o maior despedimento coletivo que se verificou em Portugal".
 
"Estamos perante o maior despedimento coletivo que se verificou em Portugal no que respeita à administração pública e também ao setor privado. A redução da despesa do Estado não se faz reduzindo trabalhadores, o mesmo é dizer, reduzindo serviços públicos no que respeita à sua qualidade e quantidade", afirmou, em declarações aos jornalistas durante a 'Marcha contra o Desemprego'.
 
Em causa está a proposta enviada na segunda-feira aos sindicatos que representam os trabalhadores da função pública, na qual se prevê a saída do Estado de 50% dos trabalhadores com contrato a termo, a antecipação para 2013 do aumento da idade da reforma para 65 anos, a redução para metade do pagamento por hora extraordinária (atualmente cifrada em 50% do valor por inteiro, e que passa para 25%), e o pagamento de ajudas de custo por deslocação apenas a partir de 20 kilómetros, e não a partir de 5, como atualmente, entre outras.
 
Para o líder da CGTP-IN, "o que está em marcha é um ataque contra os trabalhadores da administração pública mas, acima de tudo, contra os serviços públicos e os direitos das próprias populações que poderão ser gravemente afetadas por esta medida".
 
Arménio Carlos anunciou que no sábado a central sindical vai apresentar mais quatro medidas para reduzir a despesa do Estado, nomeadamente através da rejeição dos contratos das parcerias público-privadas e do fim dos benefícios fiscais da banca.
 
Ao discursar na Praça 8 de Maio, junto da Câmara de Coimbra, o secretário-geral da CGTP-IN disse que, ao apresentarem este "pacotão monumental de impostos", os "responsáveis -- o PM e o Ministro de Estado -" só têm "de pedir desculpa aos portugueses e abandonar o Governo".
 
Também presente na iniciativa, que mobilizou hoje centenas de pessoas na passagem por Coimbra, o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores, Mário Nogueira, disse que esta redução dos contratados deverá afetar entre 10 mil a 15 mil docentes.
 
"É uma espiral que não tem fim, o Governo, um dia destes, não tem professores para nas escolas continuar um trabalho indispensável", considerou, afirmando que "o que está em causa é o desmantelamento do Estado social".
 
*Título PG
 

Portugal: O DIA DA COBARDIA

 


Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues
 
5 de Outubro de 2012. Enfiadas no Pátio da Galé as principais figuras do Estado de um País destroçado celebram, pela primeira vez na história da democracia, a implantação da República, longe do povo. É a imagem de um poder político cercado e isolado.
 
O Palácio de Belém, ao contrário do que é habitual, foi fechado. O Presidente justificou o encerramento do palácio por razões financeiras. Mas todos sabiam que a razão era outra: medo de um povo em fúria. No dia 5 de Outubro de 2012 o poder político celebrou a sua própria cobardia.
 
Perdido algures na Europa, o mesmo primeiro-ministro que faltou ao encontro em Roma com os países intervencionados e em dificuldades, comparceu numa irrelevante reunião entre os Estados "amigos da coesão". Um primeiro-ministro sem rumo, sem aliados externos e odiado pelo seu próprio povo.
 
O Presidente da Câmara, o mesmo que quando a derrota em eleições era provável se esquivou a concorrer à liderança mais do que garantida do Partido Socialista, fez um discurso de oposição. Que teve como principal resultado exibir a absoluta nulidade do líder formal do maior partido da oposição. Uma oposição bloqueada.
 
Na varanda dos Paços do Concelho, perante uma Praça do Município deserta e guardada, o Presidente hasteava a bandeira nacional ao contrário. A República de pernas para o ar. Apesar de não ter tido, como é evidente, qualquer responsabilidade no lapso, a simbologia daquele momento era impossível de ignorar: um País ocupado pelo inimigo pede auxílio.
 
Assim se celebrou, pela última vez em feriado, a implantação da República. Quando um dia alguém escrever sobre estes tempos trágicos, deverá começar por descrever aquele dia. Quando o divórcio entre um poder político acossado e um povo humilhado foi tão esmagadoramente exibido.
 

DIA DE TRIBUTOS A CHE GUEVARA EM CUBA

 

 
Havana, 8 out (Prensa Latina) - Cubanos de todas as gerações prestarão homenagem hoje a um dos principais paradigmas das juventudes, Ernesto Guevara, no aniversário 45 de seu assassinato.
 
O guerrilheiro, conhecido mundialmente pelo apelido de Che, ainda vive nesta ilha nas palavras de ordem das crianças que desde todas as escolas aspiram ser como ele, em livros de história, nas palavras escritas em muros de parques e edifícios.
 
Também podemos encontrar o Che entre os retratos de familiares falecidos de qualquer casa cubana.
 
Guevara aqui é um exemplo para os mais jovens e um homem admirável, correto, humilde e inteligente para muitos que lhe conheceram neste país onde lutou por uma revolução, ocupou altos cargos de governo, dirigiu o Banco Nacional e o Ministério de Indústrias, construiu família e amigos.
 
Nas escolas cubanas, professores e estudantes evocarão nesta segunda-feira seu pensamento crítico e a vocação internacionalista que o levou ao Congo e à Bolívia com o fim altruísta de libertar outros povos.
 
Naquele país sul-americano caiu ferido em combate em 8 de outubro de 1967, seus inimigos não esperaram muito para assassinar o herói e expor seu cadáver como um troféu.
 
No entanto, nunca se atreveram a especificar o lugar onde sepultaram o corpo, talvez porque temem mais os mortos do que os vivos e como presumia Mario Benedetti: Che é o mais nascedor de todos.
 
Cuba chorou pelo jovem rebelde, o trabalhador incansável, o pai, o filho, o amigo, enquanto a imagem do médico combatente internacionalista se expandia pelo mundo como ícone que já não tem época porque podemos encontrar em qualquer continente.
 
A cada 8 de outubro os cubanos rendem tributo à memória do legendário Guerrilheiro Heróico, cujo restos, achados em 1997, descansam desde então em um mausoleo na cidade de Santa Clara, na região central deste país que o admira.
 

CHE 45 ANOS DEPOIS

 

Martinho Júnior, Luanda
 
A passagem do Che por África deve ser relembrada por todos os povos africanos, pelos povos de todo o mundo, por que marca a ânsia de libertação das nações surgidas da rota dos escravos e da colonização do continente, como marca a aspiração à adopção duma lógica com sentido de vida, em alternativa à lógica do capitalismo, com todo o seu cortejo de desequilíbrios, assimetrias, injustiças, tensões, conflitos e guerras.
 
A 9 de Outubro de 2012 assinala-se a data do assassinato do Che na Bolívia, relembrando-se seus feitos, sua memória e sobretudo o seu legado que é tão expressivo no presente.
 
Che revive onde a luta contra a opressão não terminou, onde se constrói a paz e o socialismo, onde se aprofunda a democracia em proveito de mais cidadania, mais participação e mais justiça social.
 
Che revive na América Latina como em África, como ainda em todo o mundo, agora muito em particular, quando a crise do capitalismo faz com que uma aristocracia financeira mundial surgida principalmente com a Revolução Industrial, se impõe de forma tão brutal e hegemónica, de forma tão desprezível para com a humanidade e o próprio planeta.
 
Che acabou de reviver nas últimas eleições na Venezuela Bolivariana…
 
Eis o texto publicado no Página Um (Zip, Zip nº 44), no início de Junho de 2010, quando o Congo perfazia 50 anos de independência.
 
Nota prévia:
 
Junho de 2010 é o mês que a República Democrática do Congo completará 50 anos de “independência” melhor, a continuação do “pacto colonial” mediante uma contínua ingerência e a fabricação de agentes capazes de “construir” os “jogos africanos” da conveniência do que considero “aristocracia financeira mundial”, uma casta de banqueiros e industriais colocados “acima” da “vontade” das potências, instrumentalizadas todas elas em proveito dos seus interesses.
 
Por isso vou recordar ao longo dos próximos ZIP ZIP e em retrospectiva, os textos que foram publicados no desaparecido semanário “ACTUAL” de Luanda, que são o resultado das minhas pesquisas sobre o Congo após 30 de Junho de 1960 e de acordo com uma lógica que nada tem a ver com a do capitalismo, mas procuram ser fieis à linha de pensamento de Patrice Lumumba, do Che, de Amilcar Cabral, de Agostinho Neto, de Tomas Sankara, de Laurent Kabila…
 
A história contemporânea do Congo interessa a toda a África e à humanidade, mas particularmente a Angola pois a evolução da situação nos dois países foi-se sempre inter-relacionando e inter-influenciando.
 
No momento em que o capitalismo neo liberal alastra em África, a história transporta elementos preciosos de análise sobre a continuidade do “pacto colonial” após as “independências”.
 
Os textos vou reproduzir mantendo tanto quanto possível a redacção original e sem notas em rodapé. (continua)
 
 

Angola: GOVERNO GARANTE RESOLVER OS PROBLEMAS DA ÁGUA E DA LUZ

 

TPA, com foto
 
O Governo da Província de Luanda vai apoiar as acções do Executivo para melhorar gradualmente o abastecimento de água e energia eléctrica à população, garantiu ontem o governador Bento Bento.

Ao discursar na cerimónia da sua apresentação aos funcionários do Governo Provincial, autoridades tradicionais e religiosas, para o novo mandato, Bento Bento referiu que as dificuldades no fornecimento de água e de energia eléctrica exigem dos funcionários destes sectores “total empenho”.

O Governo Provincial vai apoiar a execução do programa de impacto social de Luanda, intensificar o combate à pobreza, o programa de investimentos públicos, melhorar a gestão dos hospitais municipais, postos médicos e os centros escolares.

O governador anunciou um novo modelo de contrato com as empresas operadores de limpeza, baseado num sistema de área limpa e uma rigorosa fiscalização.

Petrolífera "BP" vai investir dez mil milhões de dólares em Angola

 

TPA, com foto
 
A Petrolífera BP prevê investir nos próximos dez anos cerca de 10 mil milhões de dólares em Angola, declarou ontem (segunda-feira) o vice-presidente da multinacional, Paulo Pizarro.
 
Na informação prestada durante uma visita que os inventores e criadores angolanos efectuaram na sede da empresa, Paulo Pizarro afirmou que a BP já investiu desde a sua instalação em Angola cerca de 15 mil milhões de dólares e prevê dobrar o montante nos próximos 10 anos, pelas reservas petrolíferas do país e devido a sua estabilidade económica e social.
 
Disse ter parcerias com as empresas nacionais por formas a gerar mais empregos e receitas para a economia.
 
A BP opera o bloco 18 e o 31 entrará em funcionamento nos próximos dias. Tem participações nos blocos 19 e 24 com a Sonangol, no 15 com a Esso e no 17 com a Total.
 
Está ainda em outros novos blocos na bacia do Kwanza, nomeadamente, 20, 25 e 26, num portfólio que faz da empresa a maior exploradora de petróleo em Angola.
 
No portfólio da BP a nível do mundo Angola está entre os três primeiros países em termos de importância, numa escala de mais de cem países em que está instalada.
 

Angola: ESTADOS UNIDOS RECUSAM RECEBER GEORGE CHICOTY

 


Luanda e Washington atravessam período baixo
 
 
Lisboa - A Secretária de Estado norte americana, Hillary Clinton recusou, em finais de Setembro, um pedido formulado, a partir de Luanda, pelo Ministro das Relações Exteriores, George Chicoty, a solicitar uma audiência que teria lugar em Nova Iorque a margem da Assembléia Anual das Nações Unidas.
 
O departamento de Estado apresentou como justificativa da “recusa da audiência”, questões de agenda de Hillary Clinton relacionadas a assuntos correntes. O Ministro angolano acabou por não se deslocar aquele país, mas entretanto, Hillary Clinton recebeu no passado dia 28 de Setembro, no Waldorf Astoria Hotel, em Nova Iorque, os Presidentes do Ruanda e da República Democrática do Congo, Paul Kagame e Joseph Kabila. Ambos foram, igualmente, atender a Assembleia das Nações Unidas.
 
A actual frieza dos Estados Unidos em relação a Angola - agora mais clara com a negação do pedido de audiência - é interligada a conduta que estes passaram a ter no seguimento da realização das eleições gerais de 31 de Agosto, ao qual manifestam dúvidas quanto a sua integridade.
 
As autoridades angolanas, por outro lado, gostariam de ter dos Estados Unidos uma declaração de reconhecimento quanto a eleição do Presidente José Eduardo dos Santos no recente pleito eleitoral. Porém, semanas após a confirmação dos resultados eleitorais por parte da CNE, o regime de Luanda envidou movimentações com recursos a chantagens económicas que em Washington foram interpretadas como "pressão" para “um reconhecimento mais explicito” das eleições angolanas.
 
O tema foi objecto de uma reunião entre os responsáveis da Casa Branca e do Departamento de Estado norte-americano dias após a tomada de posse de JES ficando agora decidido que não farão quaisquer declaração relativa as eleições em Angola para além da já emitida logo a seguir ao pleito eleitoral em que os “EUA dão parabéns à CNE e exortam a rápida investigação e resposta às queixas sobre as eleições”.
 
As relações entre Luanda e Washington são caracterizadas, em meios com conhecimento do assunto, como estando atravessar o período mais baixo, depois daquele atravessado na era da administração Reagan. As contas da embaixada angolana naquele país continuam encerradas por suspeitas de lavagem de dinheiro; o senado americano leva a cabo (agora temporariamente suspensas) uma investigação sobre certas transações financeiras angolanas ao qual se estimam que retomarão depois das eleições presidências de Novembro próximo.
 
O Presidente norte-americano, Barack Obama, aprovou uma directiva para África, com menção especifica para a Angola, dando prioridade a programas de promoção da democracia e boa governação. A referida directiva, segundo estimativas, terá maior impacto se Obama ganhar o segundo mandato presidencial do pleito que se avizinha. Em caso de derrota do mesmo, há a convicção em círculos competentes em Washington de que as autoridades angolanas terão de recorrer a "lobbies" para se aproximar da futura administração do actual candidato republicano Mitt Romney.
 
Desde a subida de Barack Obama ao poder, os Estados Unidos da América adoptaram uma política de pressão contra os lideres políticos mundiais que se fazem eleger com recurso a métodos extra-eleitorais. Em consequência disto tem alterado o seu relacionamento nas relações internacionais. Para o caso especifico de Angola, o “staff” da administração Obama é citado como estando a revelar uma conduta de saturação em relação as autoridades angolanas que tem a fama de ser “um dos regimes mais corruptos do mundo caracterizado pela violência, nepotismo e autoritarismo”.
 

Grécia: ANGELA MERKEL NÃO FARÁ MILAGRES

 


I Kathimerini, To Vima - Presseurop
 
Atenas preparou-se para uma “visita crucial de Merkel”, anuncia o Kathimerini. A chanceler alemã é muito esperada, a 9 de outubro, para a sua primeira visita de trabalho na capital grega desde o início da crise. Mas enquanto o Governo grego a quer convencer a acelerar a entrega, pelo FMI, de uma tranche de ajuda internacional de €31,5 mil milhões e de estender por dois anos o prazo para reequilibrar as contas públicas, a imprensa grega não espera nenhuma reviravolta política.
 
 
Os alemães têm dois problemas sérios. Um é a maneira extremamente negativa com que a opinião pública vê a Grécia e quem a forja. Merkel fez um enorme esforço para inverter esse clima. […] Durante a sua visita, evidentemente, terá a opinião alemã no espírito, e principalmente os eurocéticos que ainda não a seguem. O segundo grande problema é o facto de que mesmo que a Grécia tenha feito grandes cortes na sua despesa pública, continua atrasada em matéria de reformas estruturais. […] A sua mensagem aos líderes gregos será clara: façam progressos rápidos e impressionantes e eu vos recompensarei. […] Mas não podemos esperar soluções mágicas. […] A visita de Merkel trará seguramente uma certa estabilidade à posição da Grécia na zona euro, mas não podemos esperar milagres.
 
De facto, acrescenta o editorialista Dimitri Danikas em To Vima, “nada de essencial mudou” apesar do gesto da chanceler:
 
Podem cortar-me a mão se esta visita relâmpago não for um novo ato de uma peça de teatro. Até que a zona euro estabeleça a sua defesa, Merkel representa uma comédia dizendo que a Grécia é um país europeu e que é por isso que ela decidiu manter-nos vivos. Esta visita é simbólica. Por um lado, está completamente desiludida com o imobilismo grego e finge que nos quer na União Europeia. E, por consequência, no euro. Por outro, nós fingimos que mudamos. É uma peça de teatro em vários atos, com muitas medidas de austeridade e que tem como título “uma morte lenta sem anestesia”.
 

GREGOS PROTESTAM CONTRA VISITA DE MERKEL

 

i online - Lusa
 
A chanceler alemã chegou hoje às 11:30 (hora de Lisboa) ao aeroporto de Atenas, quando alguns manifestantes se começavam a concentrar no centro da capital grega para protestar contra a visita de Angela Merkel de apoio ao governo.
 
O primeiro-ministro conservador grego, Antonis Samaras, esperava a chanceler, que deve manifestar solidariedade ao país e o compromisso da permanência na zona do euro.
 
Trata-se da primeira visita de Angela Merkel desde o início da crise da dívida em 2010 e da "cura de austeridade" imposta à Grécia.
 
Na praça Syntagma, local de encontro de contestatários no centro de Atenas, podiam ver-se, entre os grupos de manifestantes, cartazes com a suástica nazi e com as palavras "Indesejável" e "Fora com os imperialistas".
 
A maioria dos manifestantes deve concentrar-se diante do Ministério das Finanças, respondendo a um apelo das duas centrais sindicais gregas, a GSEE e a Adedy.
 
Um outro grupo foi convocado pelo principal partido da oposição, o Syriza (esquerda radical), cujo líder Alexis Tsipras deve discursar ao lado do presidente do "partido irmão" alemão, Die Linke. Uma delegação deste participa na concentração, centrada na crítica das receitas liberais da chanceler.
 
A visita de Merkel mobilizou mais de seis mil polícias para garantir a segurança em Atenas.
 

Passos Coelho: O VERDADEIRO PROBLEMA DE PORTUGAL

 


João Lemos Esteves – Expresso, opinião, em Blogues
 
Após cumprir as nossas obrigações académicas na faculdade onde leccionamos, voltamos hoje à escrita diária sobre a política portuguesa aqui no EXPRESSO. Desde o nosso último texto, muito se passou, com relevância, na política nacional. Confesso que, secreta e timidamente, mantive a esperança de que, face à contestação dos portugueses, o Governo iria recuar na questão da TSU - e nunca mais se voltaria a falar nesse assunto. Passos Coelho iria virar a página - iniciando um novo ciclo mais pensado para o crescimento da economia, retomando, desta forma, a confiança que os portugueses (mais por demérito da oposição do que por mérito do Governo) já nutriram por este executivo. Mas não. Nada disso.
 
O final da semana passada foi verdadeiramente horrível para o Governo. Passos Coelho, num jantar com empresários, limitou-se a lamentar a não aceitação pelos portugueses da medida da TSU - que, deduzimos, Passos Coelho continua a considerar uma medida genial. Ora, o Primeiro-ministro de um país que se confronta com uma gravíssima situação financeira, num jantar de empresários, opta por "fazer queixinhas" dos portugueses? Num ambiente em que poderia falar, finalmente, de medidas para promover o crescimento da economia, de proferir palavras de incentivo aos protagonistas da economia portuguesa (com os trabalhadores), de marcar um prazo para - aleluia! - anunciar a implementação das suas pseudo- "reformas estruturais", o Primeiro-ministro diz que a sua grande medida é uma medida que ele deixou cair? Isto é surreal e absurdo. O Primeiro-ministro ultimamente só nos tem brindado com declarações absurdas e sem sentido.
 
Dir-se-á que foram dias menos felizes. Que foram frases irreflectidas. Não, lamento: não foram. O ponto verdadeiramente preocupante (direi angustiante) na atitude de Passos Coelho é o facto de revelar o seu estado de espírito: Passos Coelho está zangado com os portugueses. Está a fazer pirraça e quer vingar-se dos "ignorantes" que não perceberam os méritos da sua medida social e economicamente desastrosa. Ora, como é que um Primeiro-ministro, que entrou numa fase de acusar os portugueses pelo falhanço político do Governo que lidera e se encontra zangado com o povo do Estado que conduz politicamente, poderá continuar no seu cargo? Como é poderá ser um factor de união, estabilidade e estímulo aos portugueses se se limita a chamar ignorantes (por interposta pessoa) aos que efectivamente sentem o pulsar da economia - empresários e trabalhadores? Como? Não é possível. Já houve um corte definitivo entre os portugueses, Passos Coelho e o Governo. E quem exerce a função mais alta, tem de retirar consequências políticas dos falhanços do seu trabalho: Passos não reúne condições objectivas para ser Primeiro-ministro de Portugal. E ele já o percebeu. Passos está a pedir aos portugueses para ser demitido.
 
É verdade: Passos Coelho anda a "esticar a corda" nos seus discursos - e vai continuar a fazê-lo - para ver se cria uma situação insustentável e vitimizar-se. Passos Coelho, ingénuo politicamente como é, considera que há uma maioria silenciosa que apoia as suas políticas, incluindo a TSU. Porém, essa maioria é uma ficção. Não existe. Passos Coelho não vai perder uma oportunidade para elogiar a TSU e dizer mal dos portugueses: eu não quero ter um Primeiro-ministro assim.
 
Com efeito, entendo que Cavaco Silva vai ter de actuar: Passos Coelho está a adoptar uma atitude de "menino teimoso", cheio de manias, do que uma atitude de estadista (que tanto precisamos neste momento!). Esta parece-me a constatação que se impõe da realidade da vida política portuguesa. A remodelação do Governo - verdadeiramente crucial! - deveria começar pela substituição do Primeiro-ministro. O PSD deveria ser, pois, agora (como já foi em tantos momentos da nossa História) um partido responsável, que coloca Portugal acima de tudo.
 
 

“Daqui a um ano teremos o mesmo problema que agora”, adverte Augusto Mateus

 

Público - Lusa
 
Economista alerta para necessidade de investimento
 
O economista Augusto Mateus diz que, a concretizarem-se as medidas de austeridade anunciadas e se o Governo não corrigir a sua estratégia, daqui a um ano Portugal estará com os mesmos problemas que tem hoje.
 
O que está anunciado [para o Orçamento de 2013] significa que, grosso modo, daqui a um ano teremos o mesmo problema que temos agora e que dará aos portugueses uma desesperança total”, lamenta o economista em entrevista à Lusa.

“Estaremos a perceber que, apesar de aumentarmos muito as taxas dos impostos, os impostos arrecadados não vão crescer aquilo que se pensava e, ao não crescerem aquilo que se pensava, vão precipitar em baixa aquilo que é um não cumprimento das metas de défice traçadas”, assegura o professor universitário, que foi ministro da Economia quando António Guterres (do PS) era primeiro-ministro.

O Governo anunciou no dia 3 “um enorme” aumento de impostos, nas palavras do ministro das Finanças, com especial incidência no IRS, com uma redução de escalões de oito para cinco e a criação de uma sobretaxa de 4%. Foram ainda anunciadas mexidas de agravamento no IRC e nos impostos sobre o consumo.

Risco de espiral depressiva dentro de seis meses

Este “é o momento de tornar a estratégia completa” revendo “o grau de inteligência da austeridade, sobretudo na redução do impacto negativo sobre as variáveis chave e a variável chave é o investimento privado”. Mas também é o momento para o Governo levar a cabo “políticas de competitividade e de promoção do investimento”, diz.

Se nada for feito nesse sentido, Augusto Mateus alerta que “entraríamos num ponto de rotura no sentido de que seria irreversível que a economia portuguesa se ajustasse mais abaixo do que pode ajustar. Em que os sacrifícios e a destruição de valor fossem mais longe do que deveria ou poderia ir”.

“Ainda não estamos aí, mas lá chegaremos se nos próximos seis meses, sensivelmente no fim do primeiro trimestre de 2013, não tivermos sido capazes de corrigir esta estratégia. Seguramente aí estaremos no início de uma espiral depressiva e de um crescimento ainda mais significativo do desemprego e de uma situação muito difícil para as empresas e para a sociedade portuguesa no seu conjunto”.
 
Questionado sobre se o país chegar à necessidade de reestruturar a dívida, responde: “Reestruturações de dívidas, coisas mais radicais, serão inevitáveis se isto descarrilar, mas por agora basta corrigir o que está errado, do lado da inteligência na austeridade, e completar do lado de uma estratégia económica verdadeira onde a austeridade e a estratégia financeira possam entrar e ter o seu lugar”.

Redução do défice externo “não é sustentável”

Por outro lado, Augusto Mateus considera que a redução do défice externo, embora seja “positiva”, “não é sustentável”, acrescentando que “no discurso do Governo há a sobrevalorização dos aspectos financeiros”, porque “é só nisso que o Executivo pensa”.

A redução do défice externo tem sido o facto mais destacado pelo Governo para se justificar quando diz que o programa de ajustamento está a correr de forma positiva.

As últimas estimativas do Governo mostram que o saldo da balança de pagamentos e de capital vai registar um valor positivo em 2013 depois de registar um défice de 8,4% do PIB em 2010.

O economista explica as razões desta melhoria e começa por lembrar que “as exportações têm mantido uma dinâmica interessante”. Mas recorda que “o essencial deste ajustamento está na violentíssima compressão do investimento e na violenta compressão do consumo”.

O antigo ministro recorda que Portugal vai “investir este ano menos de 30 a 35% do que investiria se mantivesse o nível de investimento que alcançou em 2000, 2001. É uma coisa colossal. E como não se investiu, não se importa o que é necessário para os investimentos”. Depois, “o consumo privado este ano vai cair um pouco mais de 6%”, prossegue.

Logo, a queda do défice externo “tem o seu quê de artificial essa redução do défice externo. São resultados positivos que valorizo, mas têm de ser interpretados e sobretudo não são sustentáveis”.

Passando do défice externo para o défice orçamental, Mateus regista que foram feitos cortes importantes na despesa, mas lembra que o essencial, a reforma do Estado, continua por fazer.
 

Portugal: O ESTADO VAI EMAGRECER A COMER MAIS?

 


Henrique Monteiro – Expresso, opinião, em Blogues
 
Não deixa de ser curiosa a forma reverencial como em Portugal se olha para o Estado, ao mesmo tempo que se tem um enorme desprezo pela vida dos seus cidadãos.
 
Primeiro, faz-se um enorme barulho porque o Estado é grande de mais. Precisa de emagrecer! Mas logo de seguida, os mesmos que o afirmavam fazem uma cura de emagrecimento à custa... de "um enorme" aumento de impostos. É como uma dieta à base de um enorme aumento de calorias.
 
Mas não se ficam por aqui as curiosidades. O líder da CGTP, Arménio Carlos, indignado com o aumento do IRS, recomenda que... se aumente o IRC! Ou seja, que haja mais impostos, dá ele de barato, mas que seja à custa das empresas.
 
E o mesmo faz o resto da esquerda. Não quer mais impostos, mas não quer reduzir os custos do Estado. Outros apontam para a extinção de institutos, fundações e outras gorduras do género, esquecendo, como assinalava Miguel Sousa Tavares, que isso corresponde ao despedimento de dezenas de milhares de funcionários, o que teria a imediata condenação dos mesmos que querem cortes "nas gorduras".
 
É por isso que o ministro Vítor Gaspar pode dizer, com aquele ar santificado, que pretende "suavizar o aumento de impostos". O que está a mais na frase é a palavra aumento, mas curiosamente as pessoas parecem aceitá-la.
 
A carga fiscal em Portugal, porém está no seu limite máximo. E não é só, como dizem (bem) alguns economistas, pelo facto de ser contraproducente aumentar mais as taxas. É porque já é imoral o peso que o Estado tem no saque dos rendimentos privados. Só é possível que se aumentem alguns impostos se o intuito for baixar outros e melhorar a redistribuição de riqueza.
 
O que é preciso dizer é que o Estado tem de viver com menos, porque não pode consumir uma parte tão grande da riqueza gerada no país. Porém, está a acontecer o inverso. O Estado saca cada vez mais dinheiro para pagar as suas dívidas, impedindo os cidadãos de cumprir os seus próprios compromissos. Não é por acaso que cada vez mais pessoas têm de entregar as suas casas ou carros que não puderam pagar. Apesar disso, continuam a entregar ao Estado somas astronómicas de impostos, seja em IRS, em IMI, em IVA ou em taxas sobre a gasolina e um sem número de outros bens.
 
O Estado está a arruinar os seus cidadãos para se salvar a si mesmo. E isso é imoral!
 
Twitter: @HenriquMonteiro https://twitter.com/HenriquMonteiro
 
 

Portugal: MÁRIO SOARES DIZ QUE PORTAS DEVE DEMITIR-SE “O QUANTO ANTES”

 

Romana Borja-Santos - Público
 
O histórico socialista Mário Soares considera que “o Governo está moribundo e ninguém o toma a sério”, e sugere que Paulo Portas deixe de ser ministro rapidamente.
 
No seu espaço de opinião semanal no Diário de Notícias, o ex-Presidente da República diz que tanto Paulo Portas, como o CDS-PP ficaram “sem saber o que dizer e fazer” perante o anúncio do aumento de impostos e refere um “silêncio envergonhado”. “Portas, por mais que goste de ser ministro, e ao que parece gosta muito, não pode continuar a sê-lo, sem perda total da sua dignidade e prestígio. Deve demitir-se o quanto antes. As sondagens mostram o seu partido a descer, abaixo do PCP e do Bloco de Esquerda”, acrescenta o socialista.

Para Mário Soares, “o Governo está moribundo e ninguém o toma a sério”. Mas o ex-líder socialista rejeita um cenário de eleições antecipadas, sugerindo antes uma intervenção presidencial, dando o exemplo do Presidente italiano que se “livrou” de Berlusconi e nomeou Mario Monti como primeiro-ministro. “Há momentos em que as eleições não se justificam porque não resolverão nada e podem antes complicar muito a situação”, afirma. “Aproxima-se o momento em que [Cavaco Silva] não pode continuar a fazer discursos vazios e que será obrigado a tomar decisões. A não ser que se demita também. Dada a crise profunda do Governo é ao Presidente que compete actuar, por muito que lhe custe”, lê-se na crónica de Soares.

Ainda a propósito das últimas medidas do Governo, Soares lamenta que o recuo de Passos Coelho nas mudanças na taxa social única não signifiquem que tenha “finalmente compreendido que era necessário mudar de rumo”. “Pelo contrário. Resolveu pôr o ministro das Finanças a dizer na Assembleia, com a sua voz tão peculiar, que os impostos vão aumentar imenso e em conjunto a vida dos portugueses – com destaque para a classe média – ia piorar muito. Que falta de sensibilidade política e de vergonha”, afirma. E acrescenta que “a própria troika teme, seriamente, pelo que pode acontecer ao nosso país, no plano social, dado o desespero e a violência crescente nos portugueses”.

O histórico socialista lamenta, ainda, a forma como foram conduzidas as cerimónias do 5 de Outubro, nas quais “o Presidente Cavaco Silva teve a ideia peregrina de excluir o povo da cerimónia”. “Um 5 de Outubro sem povo não faz sentido nenhum. É próprio de uma ditadura, não de um regime que ainda se diz democrático. (...) Quando os governantes (quer sejam ministros, secretários de Estado ou o Presidente da República) manifestam medo do Povo – e fogem dele – algo vai muito mal”, conclui, no mesmo jornal.

Ainda assim, Soares sublinha que “sem partidos não há democracia” e critica algumas das campanhas anti-partidárias que têm sido feitas, reforçando que os “movimentos cívicos não substituem partidos” e devem antes contribuir para melhorar a sua acção.
 

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