sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Não há condições para eleições livres, justas e transparentes em Angola - UNITA




SIC NOTÍCIAS

Viana, Angola 16 dez (Lusa) - A UNITA manifestou hoje em Viana, arredores de Luanda, a sua preocupação de que as eleições gerais a realizar em 2012 em Angola não sejam "livres, justas e transparentes".

A preocupação consta do comunicado final do XI Congresso que a UNITA realizou entre terça-feira e hoje, que visou preparar o partido para aquelas eleições.

"O Congresso da UNITA manifesta a sua preocupação em relação ao ambiente político atual, destituído das condições necessárias para a realização de um pleito eleitoral livre, justo e transparente", refere o ponto 18 do documento, lido no final dos trabalhos.

E A EUROPA SE FOI. PARA ONDE MESMO?




Flávio Aguiar, Berlim – Opera Mundi

A maneira mais simples – e também a mais simplória – de interpretar o que aconteceu na última cúpula da União Européia, na semana passada, em Bruxelas, é dizer: “o Reino Unido está isolado”.

Não está. Em primeiro lugar, os Estados Unidos não vão deixar sua parceria preferencial (antiga metrópole) abandonada. Em segundo lugar, a opção do governo conservador de David Cameron é perfeitamente compreensível: jamais ele iria colocar sob a supervisão de Bruxelas (quer dizer, de Berlim e da França) a City londrina, seu centro financeiro. Um “Occupy Londres” dessa natureza é impensável. Em terceiro lugar, a situação da Europa continental é tão complicada quanto a britânica.

A imposição das balizas germânicas para gerir a crise provocou inúmeras frinchas e rachaduras – inclusive dentro da própria Alemanha. Hungria, Suécia e República Tcheca aderiram, mas condicionalmente a consultas a seus parlamentos. Os outros países também estarão sujeitos a consultas semelhantes. Até a Alemanha, cuja Suprema Corte determinou que qualquer acordo internacional dessa natureza deve ser submetido ao Bundestag.

A Dinamarca e outros países da UE, mas não da Zona do Euro, se submeteram, mas “rezingando”, como se diz no pampa. Mesmo nessa Zona as “adesões” não se deram sem “refugos”, para dizer o mínimo. Na própria França, este é o caso. A França (quer dizer, o governo de Sarkozy) nunca escondeu que prefere um “clube seleto” para decidir as políticas da moeda euro a essa colcha de retalhos em que a Zona do Euro acabou se transformando. Porém também não quer ver seu sistema bancário escrutinado por Bruxelas – ou seja – Berlim.

A hegemonia conservadora que rege o Consenso (ou a Corte) de Bruxelas não gosta de ser lembrada que deve olhar para os povos cujos destinos dirige: prefere dirigi-los sem vê-los. Mas desta feita uma coisa está cada vez mais evidente: o modo autocrático de gerir a crise gerou Europa afora mais ressentimentos do que reconhecimento. Um novo movimento semelhante ao de 1848, que momentaneamente implodiu a Europa da Santa Aliança restauradora, pode estar em preparo. Mas como naquela ocasião, quem pode acabar “levando” esse descontentamento é a direita, não a esquerda. Como, aliás, naquela ocasião, o próprio Marx previu.

Na Alemanha, as pesquisas de opinião revelam uma divisão: a última, feita pelo jornal sensacionalista Bild, mostra que metade do eleitorado acha que o país estaria melhor sem a UE, e que metade acha que não. O resultado (pelo menos na versão em que li) é impreciso, porque esse “eleitorado” é tratado “em bloco”: não se sabe que grupos apóiam o que, que faixa etária, classes sociais, regiões, etc. Mas de qualquer modo, é um sintoma das perplexidades cotidianas em que se navega por aqui.

O mais difícil de enfrentar, porém, é a falta de perspectivas, de alternativas. Há um consenso plúmbeo de que as coisas como estão são inevitáveis. Romper com a filosofia da austeridade? Impensável. Fazer o Banco Central Europeu comprar a dívida italiana ou a espanhola, ou outras menores, como a portuguesa ou a irlandesa? Impensável, porque isso seria “dar dinheiro para os indisciplinados”. A grega, então, nem se fala. Já basta o setor privado ter arcado com parte do prejuízo provocado por aqueles “irresponsáveis”.

Nos países em estado crítico, por sua vez, predomina um ressentimento cru antialemão. Na Grécia, muitos manifestantes carregam cartazes com efígies da chanceler Ângela Merkel envolta em suásticas, ou então com um capacete do exército alemão da I Guerra Mundial. Em termos de Europa, essas coisas nada têm de engraçadas. Além de um equívoco político de grandes proporções (e aqui não vai nenhuma apologia da política conservadora do governo alemão), manifestações como essa são sintoma de um desarrazoado ressentimento que acaba jogando água no moinho das direitas. Isso mostra que, por debaixo dos acordos de cúpula, grassa uma carência de propostas positivas para fazer os países enfrentarem a crise com criatividade.

O novo acordo de Bruxelas fez apenas jogar as opções decisivas para diante. Em março haverá uma reavaliação das cifras necessárias para o fundo de estabilização da moeda. O que isso quer dizer? Que, em março, Sarkozy e outros governantes vão continuar pressionando para que o Banco Central Europeu emita letras resgatáveis e intervenha no mercado comprando títulos das dívidas italiana e espanhola. E que o BCE vai continuar resistindo, a menos que a chanceler Merkel autorize o movimento. Até lá, a renovação das letras vincendas de Espanha e Itália – as de longo prazo – continuará altíssima, porque continuará a existência de dúvidas quanto à capacidade de serem honradas pelos devedores. E assim por diante.

Só haverá um fim para essa novela: ela está contida numa simples frase, mas essa sim, nada simplória.
"Só a volta a uma política de crescimento pode resolver os problemas da dívida dos países europeus e dos Estados Unidos".

Quem disse isso? Paul Krugman? Joseph Steglitz? Ricardo Carneiro? Saul Leblon? Lá no fim da lista, Flávio Aguiar? Não, embora todos eles (nós) pudéssemos ter dito.

Foi a companheira Christine Lagarde, diretora-presidenta do FMI, em visita ao Brasil, vejam só.

O tempora o mores.

*Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

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GALO ALIMENTADO A LAGOSTA NÃO VOA




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*

Isaías Samakuva foi hoje reeleito, pela segunda vez, como presidente da UNITA, maior partida da oposição em Angola, com 85,6% dos votos válidos, enquanto o seu adversário, José Pedro Cachiungo, não passou dos 11 por cento.

A proclamação dos resultados pelo presidente da comissão eleitoral, Alcides Sakala, levou ao rubro os mais de mil delegados presentes no congresso da UNITA, que aplaudiram efusivamente.

Continuo sem saber se qualquer reflexão que ultrapasse o círculo de bajuladores de Isaías Samakuva serve para aqueles que sobrevivem com mandioca ou, pelo contrário, para os que se banqueteiam com lagostas em Luanda.

Perante o anterior desastre eleitoral no país (e no próximo será pior), Samakuva baralhou tudo e voltou a dar para tudo ficar na mesma. Isso não impediu que voltasse hoje a ganhar as eleições internas.

Concluo, portanto, que ele é o líder que os militantes querem. Não creio, contudo, que seja a alternativa que os angolanos gostavam de ter.

Ninguém melhor, penso, do que Samakuva para saber se a UNITA vai conseguir viver sem comer. UNITA no sentido dos homens e mulheres que tinham orgulho no Galo Negro que transportavam no peito. Temo que, apesar da muita experiência, um dia destes se venha dizer, venha o MPLA dizer, que exactamente quando estava mesmo, mesmo quase a saber viver sem comer, a UNITA morreu.

A UNITA, ou seja – os seus dirigentes, teima em confundir as esquinas da vida com a vida nas esquinas. Continua a preferir ser assassinada pelo elogio do que salva pela crítica. E quando assim é... não há memória que a salve, nem mesmo a do Mais Velho.

Depois de perdida (embora com muita batota) a batalha das legislativas, continuo a pensar que a UNITA escolheu os seus “generais” para a “guerra” política baseada em critérios de parca consistência.

Continuo a pensar (e depois de ver Rafael Massanga Savimbi reforcei essa ideia) que se Jonas Savimbi fosse vivo, grande parte destes “generais” não passava de “cabos”. “Cabos” que, recorde-se, passarem a generais nas FAA e o ajudaram a matar.

E, para – apesar de tudo - meu penar, não sou o único (longe disso) a pensar assim. Sou, eu sei, dos poucos que publicamente assume esta tese. Tenho, no entanto, recebido testemunhos com chipala e nome, que comprovam que o Estado-Maior da UNITA continua a querer ganhar a “guerra” com “generais” que ao primeiro “tiro” vão para o outro lado da barricada ou, na melhor das hipóteses, levantam os braços, içam um pano branco e depenam o Galo Negro.

O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu, não vê e assim nunca verá na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba Gato, Alcides Sakala. Samuel Chiwale Jeremias Kalandula Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces e Elias Salupeto Pena.

De há muito que pergunto: Terá sido para isto que Jonas Savimbi lutou e morreu? E lá vou acrescentando: Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus muitos erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido.

Continuo a lamentar que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro.

Também é pena, importa continuar a dizê-lo, que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.

Se calhar também é de lamentar que figuras sem passado, com discutível presente e necessariamente sem futuro, queiram ter tudo à custa da desonra dos seus antepassados que deram tudo o que tinham, incluindo a vida, para dignificar os Angolanos.

Será que a UNITA não enterrou, depois da morte de Savimbi, o espírito que deu corpo ao que se decidiu no Muangai em 13 de Março de 1966?

Ao ouvir Rafael Massanga Savimbi dizer várias vezes que o Galo voa, lembrei-me novamente de algo que o Pai dele me disse, no Huambo, em 1975: “a UNITA, tal como Angola, não se define – sente-se”.

Foi do Muangai que saíram pilares como a luta pela liberdade e independência total da Pátria; Democracia assegurada pelo voto do povo através dos partidos; Soberania expressa e impregnada na vontade do povo de ter amigos e aliados primando sempre os interesses dos angolanos.

Foi de lá que também saíram teses sobre a defesa da igualdade de todos os angolanos na Pátria do seu nascimento; busca de soluções económicas, priorização do campo para beneficiar a cidade; liberdade, democracia, justiça social, solidariedade e ética na condução da política.

Alguém, na UNITA, se lembra hoje de quem disse: ”Eu assumo esta responsabilidade e quando chegar a hora da morte, não sou eu que vou dizer não sabia, estou preparado"?

Isaías Samakuva mostrou ao mundo que as democracias ocidentais estão a sustentar um regime corrupto e um partido que quer perpetuar-se no poder. E de que lhe valeu isso?

Depois da hecatombe eleitoral, provocada também pela ingenuidade da UNITA acreditar que Angola caminha para a democracia, Samakuva alterou os jogadores, a forma de jogar e promete, continua a prometer, melhores resultados.

Mas a verdade é que muitos desses craques que escolheu não conseguem olhar para além do umbigo, do próprio umbigo, e passaram os últimos anos a bloquear iniciativas válidas só porque partiam de outras pessoas. Ou seja, olharam para o mensageiro e não para a mensagem.

Habituaram-se à lagosta e esqueceram a mandioca. Daí que façam tudo para ter o marisco sempre à mesa, mesmo que ali ao lado haja angolanos a morrer à fome.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

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Angola: Isaías Samakuva reeleito como líder da UNITA por maioria de 85, por cento




Isaías Samakuva foi hoje reeleito, pela segunda vez, como presidente da UNITA, maior partida da oposição em Angola, com 85,6 por cento dos votos válidos, enquanto o seu adversário, José Pedro Cachiungo, não passou dos 11 por cento.

A proclamação dos resultados pelo presidente da comissão eleitoral, Alcides Sakala, levou ao rubro os mais de mil delegados presentes no congresso da UNITA, que aplaudiram efusivamente.

Os resultados totais da eleição do líder da UNITA revelam que dos 1143 inscritos votaram 1013 delegados, tendo Isaías Samakuva recolhido 868 votos e José Pedro Cachiungo 112. Houve ainda 29 votos em branco e quatro nulos.

O XI Congresso da UNITA chega ao fim, após quatro dias de trabalhos em Viana, nos arredores de Luanda, a capital, com o partido aparentemente unido e preparado para as eleições gerais de 2012 em Angola.

A sessão de encerramento iniciou-se com três horas de atraso relativamente ao previsto e nela estiveram presentes elementos de todos os partidos com representação parlamentar, incluindo do MPLA, partido no governo, e do corpo diplomático.

Antes de conhecidos os resultados, Isaías Samakuva disse que uma eventual vitória representará um "passo gigantesco" para que a UNITA vença as eleições gerais em 2012 e "governar Angola".

*Foto em Lusa

Comportamento do Governo é ignóbil e visa humilhar trabalhadores - CGTP e UGT



SMS - LUSA

Lisboa, 16 dez (Lusa) - A CGTP e UGT acusaram hoje o Governo de ter um comportamento "ignóbil" por ter enviado ao Parlamento a proposta de lei sobre o aumento da meia hora de trabalho diário, sem comunicar às confederações sindicais e patronais.

Esta tarde, numa reunião conjunta das duas centrais sindicais, na sede da CGTP, em Lisboa, esteve em discussão "aquilo que se consubstancia na proposta de lei que o Governo apresentou à Assembleia da República e cuja discussão pública, de uma forma provocatória e sendo uma tentativa clara de dar sinais de humilhação dos trabalhadores, vai estar em discussão pública no período de Natal e Ano Novo, até 19 de janeiro", afirmou Carvalho da Silva.

Em conferência de imprensa, o secretário-geral da Intersindical considerou que "esta é uma posição inaceitável e ignóbil, que tenta humilhar quem trabalha, é uma ausência total de sensibilidade e de sentido de responsabilidade do Governo, mas acima de tudo o problema são os conteúdos concretos da proposta".

Carvalho da Silva reforçou que se trata de "uma proposta de imposição de trabalho forçado, que parte de argumentos mentirosos no que diz respeito aos objetivos e impactos que isto tem sobre o emprego".

Referiu ainda que a proposta do aumento do tempo de trabalho "se sustenta numa falácia absoluta no que diz respeito aos argumentos económicos".

O secretário-geral da UGT, João Proença, afirmou, por seu turno, que a posição da central está em linha com a defendida pela Intersindical e enfatizou: "A proposta está de tal modo mal elaborada que tem de ser alterada na Assembleia da República".

João Proença condenou ainda o Executivo pelo facto de, "sem dar conhecimento aos parceiros sociais, avançar unilateralmente com a aprovação de uma proposta de lei que nunca foi discutida com os parceiros sociais e está totalmente fora do quadro da concertação social".

A proposta de lei que "estabelece um aumento excecional e temporário dos períodos normais de trabalho de trinta minutos ou de duas horas e trinta minutos por semana" foi aprovada a 07 de dezembro em Conselho de Ministros, uma medida que o Governo afirma ser aplicável durante a vigência do Programa de Assistência Económica e Financeira a Portugal.

Uma semana depois, ou seja, na quarta-feira, a proposta deu entrada no Parlamento, antes da discussão previamente agendada com os parceiros sociais para 22 de dezembro, em sede de concertação social.

De acordo com a proposta do Governo, o horário de trabalho será aumentado em meia hora por dia e em duas horas e meia por semana "sem acréscimo de retribuição". A medida aplica-se a todos os trabalhadores do setor privando e deixa de fora os trabalhadores de empresas públicas, bem como aos que são afetados pelos cortes salariais do Estado.

*Foto em Lusa

Portugal: Greve dos médicos terá consequências "catastróficas" - bastonário da OM



AL – SMM - LUSA

Lisboa, 16 dez (Lusa) - O bastonário da Ordem dos Médicos alertou hoje para as "consequências catastróficas" que a greve às horas extraordinárias poderá ter em serviços de saúde essenciais, como as urgências.

A partir das 08:00 de 02 de janeiro os médicos que aderirem à greve nacional não vão prestar trabalho extraordinário, segundo o pré-aviso hoje publicado pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM).

Em declarações à Lusa, José Manuel Silva salientou que esta é uma questão sindical, mas sublinhou a preocupação da Ordem dos Médicos com a previsível "desregulação de alguns serviços", sobretudo dos que dependem maioritariamente de horas extraordinárias, como é o caso das urgências.

"Esperemos que até lá haja bom senso. Com a reorganização dos serviços é possível reduzir as horas extraordinárias, melhorar a gestão e criar sinergias entre instituições sem por em causa o pagamento das horas extraordinárias a um preço minimamente justo", afirmou, acrescentando que a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte é disso um bom exemplo.

Segundo José Manuel Silva, há dois anos a ARS Norte conseguiu uma redução de 20% no pagamento de horas extraordinárias, sem contestação dos profissionais, o que se conseguiu graças à reorganização dos serviços, nomeadamente concentrando-os, sem os pôr em causa.

"Ao mesmo tempo, desde setembro que não são contratados mais profissionais de saúde, que era uma forma de reduzir as horas extraordinárias. Assim, o sistema descompensa", alertou.

O pré-aviso de greve hoje divulgado esclarece que os médicos fazem greve "como forma de protesto público contra a degradação do trabalho e contra a degradação do Estado social e do Serviço Nacional de Saúde (SNS), motivada por anos de despesismo incontrolado e doloso de sucessivos governos e legislaturas".

Após o início da greve, os médicos não irão prestar trabalho extraordinário, mas mantêm toda a sua restante atividade durante o período normal de trabalho diário e semanal".

De acordo com o pré-aviso de greve, esta forma de protesto foi decidida porque os médicos não aceitam, entre outras coisas, "que a remuneração das horas extraordinárias seja alterada unilateralmente por proposta do Governo e voto maioritário da Assembleia da República na lei do Orçamento do Estado para 2012".

Ao fazê-lo, o Governo rompeu "a contratação coletiva em vigor", mas ousou "exigir a efetivação de horas extraordinárias em números superiores aos limites legais e comunitários, acrescendo penosidade para os médicos e perigosidade para os doentes".

Os médicos "jamais aceitarão que medidas do Orçamento do Estado tenham como únicos destinatários os trabalhadores médicos, ousando uma perseguição direta e sem precedentes, hostilizando toda uma classe que suporta com estoicismo o único serviço público português que se compara internacionalmente, o SNS", segundo o pré-aviso.

*Foto em Lusa

BOAS FESTAS PARA OS DONOS DOS ESCRAVOS




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*

O Presidente da República (cada vez mais esclavagista) de Portugal desejou hoje aos escravos um ano de 2012 "tão bom quanto possível".

Cavaco Silva que, obviamente, continua a ter pelo menos três refeições por dia, reconheceu que na situação actual é difícil não pensar nos "cuidados redobrados do dia de amanhã".

Ou seja, os 800 mil desempregados, os 20 por cento de pobres e os outros 20 por cento que já nem pratos têm, devem começar a dividir o que não têm para que amanhã possam continuar a viver sem comer.

"Este ano vivemos o Natal com a preocupação da crise. Sei que é difícil, na situação actual, não pensar nos cuidados redobrados do dia de amanhã. Mas também sei que os portugueses estão determinados a lutar por um futuro melhor", afirma o chefe de Estado numa mensagem vídeo de boas-festas divulgada no 'site' da Presidência da República.

Não me parece complicado para quem, em termos vitalícios, só tem direito a 4.152 euros do Banco de Portugal, a 2.328 euros da Universidade Nova de Lisboa e a 2.876 euros de primeiro-ministro, compreender as dificuldades daqueles cidadãos que já nem sabem se têm barriga.

Sublinhando que o Natal é "a festa da família", Cavaco Silva refere que é precisamente na família que os portugueses podem encontrar os afectos que lhes dão força, a solidariedade que precisam nas horas difíceis e as alegrias que ajudam "a atravessar a vida".

E solidariedade não falta. Aliás, numa casa portuguesa fica sempre bem pão e água (ou farelo) sobre a mesa. A família, é claro, é sempre um bom apoio. Em cada vez mais casos, ninguém tem nada para repartir. Mas quem dá o que não tem e mais não é obrigado.

"Na família aprendemos a respeitar o outro, aprendemos os gestos que nos aproximam e nos ensinam que nenhum homem deve viver isolado, que, se dermos as mãos, vamos sempre mais longe", frisa o Presidente da República, que gravou a mensagem de boas-festas num dos períodos (entre refeições) de assumida solidariedade para com todos aqueles que gostavam de ter como prenda… uma refeição.

Ao lado do Presidente da República, Maria Cavaco Silva reforça a ideia, reconhecendo que "vamos precisar muito uns dos outros". Por isso, defende a mulher do chefe de Estado, "é necessário que o espírito solidário do Natal perdure para lá destes dias de boa vontade e de partilha".

A tese da família Cavaco é repetitiva. Já no dia 6 do mês passado, o Presidente da República de Portugal disse ter "grande esperança" que o espírito de solidariedade dos portugueses permita "demonstrar à Europa e às instituições internacionais" que o país "é capaz de ultrapassar as dificuldades", considerando que "os próximos tempos podem ser insuportáveis".

Se ele diz… é mesmo assim, mesmo considerando que nada tem a ver com o estado do país. Recém-chegado à vida das ocidentais praias lusitanas, Cavaco Silva aponta o rumo, mesmo mão estando ao leme. Se calhar há quem pense que Cavaco é co-responsável pelo afundanço do país e consequente adopção dos princípios esclavagistas. Mas não é. Ele dó foi primeiro-ministro de 6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995, e só venceu as eleições presidenciais de 22 de Janeiro de 2006 e só foi reeleito a 23 de Janeiro de 2011. Coisa pouca, portanto.

Cavaco Silva, à falta de algo mais respeitador dos cidadãos, ao "esforço de todos" e acrescenta que são extensas, eventualmente gregas, as dificuldades que esperam os portugueses.

"Os próximos tempos podem ser insuportáveis para alguns dos nossos concidadãos, em especial os reformados e os desempregados", disse o presidente da República, muito preocupado (segundo a interpretação dos jornalistas que o ouviram) com os "filhos de casais desempregados".

Cavaco Silva referiu as situações que resultam da perda do emprego, da quebra de rendimentos das famílias e da emergência de novos pobres, tendo feito uma referência explicita à "insuficiência alimentar" de alguns portugueses, sublinhando que conta com o empenho do poder do local e das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) para contornar as dificuldades.

“Insuficiência alimentar” revela uma desconhecida faceta de Cavaco Silva, a poesia. Dizer a quem passa fome que apenas padece de "insuficiência alimentar" é, digamos, uma poética forma de juntar à barriga vazia dos portugueses um atestado, em papel timbrado da Presidência da República, de menoridade ou estupidez.

"Tenho grande esperança no espírito solidário dos portugueses e na acção das câmaras municipais, que estão a ser chamadas a dar resposta a situações que resultam do desemprego, da queda do rendimento das famílias, da emergência de novos pobres e da acção das IPSS. Com esse espírito de solidariedade havemos de mostrar à Europa e às instituições internacionais que somos capazes de ultrapassar os nosso problemas", notou Cavaco Silva.

Ao nível político, o Presidente da República defende, reparem só na perspicácia de Cavaco Silva, um "diálogo frutuoso e construtivo" entre os que mandam e os que são voluntariamente obrigados a aceitar.

Certamente que, com diálogo e entendimento, a “insuficiência alimentar” dos que já só sonham com uma refeição será mais fácil de digerir. Estou memo a ver muitos portugueses a arrotar de satisfação depois de sonharem com um prato de comida.

Mesmo agora que estão esqueléticos como resultado da “insuficiência alimentar”, os portugueses continuam a achar que o seu fado é serem uma espécie de património imaterial que tudo deve fazer para agradar aos seus donos.

Talvez um dia acordem com a barriga de tal modo vazia a ponto de mostrem que estão fartos de quem em vez de os servir… só se serve deles. Não sei se isso acontecerá. Mas que, pelo menos em tese, os portugueses também têm direito à Primavera, isso têm.

É certo que em Portugal aumenta o número dos que pensam que a crise (da maioria, de quase sempre os mesmo) só se revolve ou a tiro ou elegendo um ditador. Até os militares sonham, embora em silêncio e com as paredes do cérebro insonorizadas, que essa é uma alternativa.

Mesmo que assim seja, se calhar os responsáveis pela tragédia (como é o caso, entre outros, entre muitos outros) de Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho e Paulo Portas, vão continuar a ter pelo menos três boas refeições por dia e chorudas pensões vitalícias.

Seja como for, começa mesmo a ser altura de os portugueses porem os seus políticos a pão e água ou, talvez, a farelo. Seria, aliás, uma boa forma de melhorar a “insuficiência alimentar”.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: O JOÃOZINHO NÃO É DO MPLA e ainda RICOS E MAL AGRADECIDOS

MEXIA MEXE-SE NA EDP?




NUNO CASTELO-BRANCO - AVENTAR

Os brasileiros e os chineses estão revoltados com aquilo que parece ser verdade: a EDP vai ser vendida aos alemães, apesar destes apresentarem a proposta de compra pelo menor valor. Os entusiastas de tudo o que venha de Berlim, tentam encontrar justificações de telejornal, como a “gestão cuidada, a inovação tecnológica”, ou rematando, a sempiterna “Europa”.

A verdade parece ser outra e não terá outro nome senão chantagem política – com as “fábricas da economia/PIB” como escondida ameaça – e da mais descarada. A inversão dos mercados deu nisto que se vê. Em troca dos bastante discutíveis favores de usura monetária nesta situação da crise financeira, os nossos parceiros da “U.E.” pretendem adquirir empresas a preço de saldo, controlando o apetecível mercado e podendo obter mais um posto na conquista pela total hegemonia. Experiência disso têm eles, não haja qualquer dúvida e o Diário de Notícias declara o Sr. Mexia como uma entidade que bem se tem mexido para dar o bolo à E.ON. O Jornal de Negócios chega ao ponto de afirmar que os alemães já prometeram a manutenção do esfalfante cargo na administração da EDP – afinal, também existe corrupção vinda da Deutschland – e assim, as más línguas dizem ser este o verdadeiro motor do mexido vorwärts de Mexia. Conhecendo-se os procedimentos da gente do Esquema vigente, não nos admiraríamos nada.

Escandalosamente ignorantes como somos nesta matéria técnica, não sabemos se as autoridades portuguesas têm qualquer tipo de visão acerca de uma estratégia energética para o país e qual a coordenação que poderia existir a longo prazo, entre Portugal e alguns países do mundo lusófono. Os fous d’amour pela Alemanha – país que sem reservas admiramos, mas que inegavelmente se encontra demasiadamente distante dos interesses nacionais de Portugal -, decerto darão tratos de polé à imaginação, sabendo-se que existem muitas e importantes empresas brasileiras e chinesas, tão ou mais aptas que as suas homólogas germânicas. A política deve agora imiscuir-se nos famosos “mercados” que nada mais são, senão política feita por quem não tem legitimidade popular para a fazer.

A autêntica loucura, é prosseguirmos no caminho do abandono dos nossos antigos mercados além-mar, insistindo no esquizóide monopólio europeu.

Politicamente, nem faz sentido qualquer tipo de aposta ou concurso. Pague o que pagar – e paga mais que os alemães -, o Brasil deve ter a prioridade. Parece-nos que a GALP concordará.

IMIGRANTES BRASILEIROS TÊM ÍNDICE ELEVADO DE PROTEÇÃO SOCIAL EM PORTUGAL




JORGE HORTA – PORTUGAL DIGITAL

População brasileira em Portugal está bem coberta pela Segurança Social, ao contrário dos cabo-verdianos e guineenses.

Lisboa - Ao longo do tempo, indica o mais recente estudo do Observatório da Imigração de Portugal, "os imigrantes brasileiros têm apresentado [ao nível da Segurança Social] índices de cobertura elevados".

Coordenado por João Peixoto, o estudo "Imigrantes e Segurança Social em Portugal" é hoje apresentado publicamente durante as V Jornadas do Observatório da Imigração, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Os investigadores indicam que "foi possível concluir que alguns imigrantes estão bem cobertos pelo sistema, enquanto outros se encontram aparentemente afastados do mesmo", sendo que "as taxas mais elevadas de inserção ocorreram com os imigrantes do leste europeu na primeira fase da sua entrada no país".

Em contrapartida, nota o mesmo estudo, "os imigrantes africanos oriundos dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), em particular cabo-verdianos e guineenses, estão entre os menos representados – mesmo quando se encontram em situação legal no país".

Alguma da maior sobrerrepresentação da população estrangeira resulta da sua maior fragilidade e vulnerabilidade, como sucede com o subsídio de desemprego. Neste caso, o número de beneficiários estrangeiros esteve sempre em aumento, passando de 6.866 indivíduos, em 2002, para 41.601, em 2010. Essa variação traduz um aumento de 2,2% para 6,9% do número total de beneficiários em Portugal.

Mas, segundo a pesquisa que hoje será apresentada com maior detalhe, também há áreas onde os imigrantes têm uma subrepresentação face ao seu peso real na população residente em Portugal. Assim acontece com os beneficiários do subsídio por doença e das prestações com encargos familiares e nas pensões.

Em síntese, conlui o Observatório da Imigração, "deve ser sublinhado que, em termos financeiros líquidos, os imigrantes são largamente contributivos do sistema". Isto porque durante a última década esta parte da população gerou um saldo positivo de centenas de milhões de euros por ano. "Comparando os valores das contribuições, por um lado, com o conjunto de prestações sociais e pensões, por outro, o saldo positivo passou de 381,9 milhões de euros, em 2002, para 316 milhões de euros, em 2010", refere o estudo.

PRESIDENTE DO BRASIL DIZ QUE NÃO FARÁ REFORMA MINISTERIAL NO INÍCIO DO ANO




PORTUGAL DIGITAL, com Agência Brasil

“Vou, cada vez mais, exigir que os critérios de governança interna sejam cada vez mais internos, que nenhum partido político interfira nesses critérios”, disse a presidente.

Brasília – A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, disse hoje (16) que não tem a intenção de fazer uma reforma ministerial no início do próximo ano. Segundo ela, cada pasta tem sua função no governo e as notícias de fusão e mudanças nos ministérios só existem nos jornais. “Não me venham com essa conversa. Não haverá redução de ministério, não é isso que faz a diferença no governo”, disse em café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto. “Cada ministério tem um tipo de responsabilidade no governo”, ressaltou.

Dilma comentou que não avalia as trocas de ministros ocorridas neste ano como um desgaste de seu governo, e sim como “dificuldades” enfrentadas. Ela fez questão de ressaltar o caráter de “tolerância zero” de seu governo com o que chamou de malfeitos. No entanto, ela lamentou a saída de alguns ministros. “Vamos fazer um governo que não tem nenhum compromisso como malfeito e corrupção. É tolerância zero”.

“Foi um momento não de desgaste, mas de dificuldade. É do ofício da Presidência ter que tomar medidas como essas. Lamento, alguns ministros que saíram são pessoas que eu considero competentes”, disse a presidenta. Ao longo deste ano, sete ministros tiveram que deixar o governo, seis deles envolvidos em suspeitas de corrupção.

Em relação a possíveis mudanças nos ministérios, a presidente também disse que não aceita ingerência de qualquer partido político na governança interna. “Vou, cada vez mais, exigir que os critérios de governança interna sejam cada vez mais internos, que nenhum partido político interfira nesses critérios”, disse a presidente.

“A partir do momento em que o nome for indicado, ele presta contas ao governo e a mais ninguém”, destacou Dilma ao se referir às indicações para os ministérios feitas por partidos que integram base do governo.

Dilma tratou as suspeitas contra o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, como um caso que não tem relação com o seu governo. “Pimentel não tem nada a ver com o meu governo”, disse a presidente referindo-se às consultorias prestadas pelo ministro no período em que ele deixou de ser prefeito de Belo Horizonte e antes de ser nomeado para a pasta.

Ao falar sobre o ex-ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, primeiro a deixar o governo após suspeitas de tráfico de influência e enriquecimento ilícito, Dilma disse que a opção de sair foi dele. “O Palocci quis sair”, disse a presidente.

PURGANTE E DÍVIDA




Delfim Netto - São Paulo – Opera Mundi

A visita de Christine Lagarde, atual diretora-gerente do Fundo, obedeceu a um roteiro desprovido da carga emocional de antanho, mas nem por isso a imprensa economizou tinta: “FMI pede dinheiro ao Brasil”. Alguns títulos ainda acrescentaram: “…mas não leva”. Detalhes importantes foram deixados de lado pela maioria e só foram resgatados num relato do jornal Valor (4/12/11, C9) pelos competentes jornalistas Claudia Safatle, João Villaverde e Luciana Otoni.

A senhora Lagarde foi a Brasília pedir a cooperação do Estado brasileiro para a solução de um grave problema internacional, aumentando a sua participação no capital do FMI. Isso tem caráter simbólico importante, pois é a demonstração que mudou a posição do Brasil no mundo, tanto sob a ótica da economia quanto no nível político. A questão do aporte de recursos já estava definida e também a sua contrapartida. O governo concorda em participar com 15 bilhões de dólares de sua reserva para aumentar o capital do FMI tão logo a direção do organismo defina como usará a sua própria reserva, de 390 bilhões de dólares, na ajuda às nações da Zona do Euro.

A diretora-gerente do Fundo foi recebida pela presidenta Dilma Rousseff e pelos ministros Guido Mantega e Alexandre Tombini, do Banco Central, após o que, no meu entendimento, fez o comentário mais importante dessa sua viagem: “Só a volta a uma política de crescimento pode resolver os problemas da dívida dos países europeus e dos Estados Unidos”. Disse não acreditar que o remédio – verdadeiro purgante – que está sendo dado aos países deficitários vá remover as dificuldades. Insistiu que a política de crescimento tem de ser coordenada entre os países membros e só poderá funcionar se essa coordenação se estender aos gastos de cada um.

As declarações de Christine Lagarde, em Brasília, abriram espaço para outra compreensão da magnitude do problema, com um diagnóstico mais abrangente. São um alerta aos demais países para as consequências do prolongamento da crise da dívida. Ela não veio aqui de “pires na mão”. Veio confirmar o reconhecimento de que o Brasil é um novo parceiro com quem se pode contar para ajudar na solução de problemas que exigem a cooperação mais estreita entre as nações.

É preciso entender a dimensão dessa mudança radical em nossas relações com o Fundo Monetário Internacional. O Brasil foi muito beneficiado pela expansão da economia mundial nos primeiros anos do século XXI e conseguiu aproveitar até 2008 esse crescimento para solucionar um problema que parecia insolúvel, que era o déficit permanente em conta corrente. O aumento dos preços das matérias-primas nos proporcionou saldos comerciais importantes e um superávit em conta corrente que permitiu fazer uma reserva que hoje está em 350 bilhões de dólares, o que nos deixa numa situação relativamente confortável.

Além disso, o Brasil foi premiado com a confirmação das importantes reservas petrolíferas do pré-sal, outro bônus que consolida nossa autonomia energética e nos dá tranquilidade na frente externa pelas próximas duas ou três décadas. O fato é que soubemos aproveitar as oportunidades que surgiram – ou que nós construímos – para acelerar o crescimento econômico e ao mesmo tempo investir no desenvolvimento social, reduzindo as desigualdades de renda pessoais e regionais. É isso que leva à compreensão de que o Brasil tem hoje uma posição no cenário mundial relativamente tranquila para enfrentar os problemas que constrangem o crescimento de tantos países na Eurolândia e na própria América.

Com o desaquecimento nas economias mais prósperas, encolhendo o volume do comércio internacional, e o aumento da insegurança nos mercados financeiros, certamente teremos um crescimento menor em 2011, porque o mundo crescerá menos, mas seguramente melhor do que a maioria dos paí-ses. Devemos terminar o ano com uma expansão de 3% do PIB (um pouco acima, dependendo do último trimestre), mas em condições de crescer mais de 3%, podendo chegar a 4% em 2012. O que ainda será substancialmente superior ao que se espera do crescimento da economia mundial.

A visita de Christine Lagarde, atual diretora-gerente do Fundo, obedeceu a um roteiro desprovido da carga emocional de antanho, mas nem por isso a imprensa economizou tinta: “FMI pede dinheiro ao Brasil”. Alguns títulos ainda acrescentaram: “…mas não leva”. Detalhes importantes foram deixados de lado pela maioria e só foram resgatados num relato do jornal Valor (4/12/11, C9) pelos competentes jornalistas Claudia Safatle, João Villaverde e Luciana Otoni.

A senhora Lagarde foi a Brasília pedir a cooperação do Estado brasileiro para a solução de um grave problema internacional, aumentando a sua participação no capital do FMI. Isso tem caráter simbólico importante, pois é a demonstração que mudou a posição do Brasil no mundo, tanto sob a ótica da economia quanto no nível político. A questão do aporte de recursos já estava definida e também a sua contrapartida. O governo concorda em participar com 15 bilhões de dólares de sua reserva para aumentar o capital do FMI tão logo a direção do organismo defina como usará a sua própria reserva, de 390 bilhões de dólares, na ajuda às nações da Zona do Euro.

A diretora-gerente do Fundo foi recebida pela presidenta Dilma Rousseff e pelos ministros Guido Mantega e Alexandre Tombini, do Banco Central, após o que, no meu entendimento, fez o comentário mais importante dessa sua viagem: “Só a volta a uma política de crescimento pode resolver os problemas da dívida dos países europeus e dos Estados Unidos”. Disse não acreditar que o remédio – verdadeiro purgante – que está sendo dado aos países deficitários vá remover as dificuldades. Insistiu que a política de crescimento tem de ser coordenada entre os países membros e só poderá funcionar se essa coordenação se estender aos gastos de cada um.

As declarações de Christine Lagarde, em Brasília, abriram espaço para outra compreensão da magnitude do problema, com um diagnóstico mais abrangente. São um alerta aos demais países para as consequências do prolongamento da crise da dívida. Ela não veio aqui de “pires na mão”. Veio confirmar o reconhecimento de que o Brasil é um novo parceiro com quem se pode contar para ajudar na solução de problemas que exigem a cooperação mais estreita entre as nações.

É preciso entender a dimensão dessa mudança radical em nossas relações com o Fundo Monetário Internacional. O Brasil foi muito beneficiado pela expansão da economia mundial nos primeiros anos do século XXI e conseguiu aproveitar até 2008 esse crescimento para solucionar um problema que parecia insolúvel, que era o déficit permanente em conta corrente. O aumento dos preços das matérias-primas nos proporcionou saldos comerciais importantes e um superávit em conta corrente que permitiu fazer uma reserva que hoje está em 350 bilhões de dólares, o que nos deixa numa situação relativamente confortável.

Além disso, o Brasil foi premiado com a confirmação das importantes reservas petrolíferas do pré-sal, outro bônus que consolida nossa autonomia energética e nos dá tranquilidade na frente externa pelas próximas duas ou três décadas. O fato é que soubemos aproveitar as oportunidades que surgiram – ou que nós construímos – para acelerar o crescimento econômico e ao mesmo tempo investir no desenvolvimento social, reduzindo as desigualdades de renda pessoais e regionais. É isso que leva à compreensão de que o Brasil tem hoje uma posição no cenário mundial relativamente tranquila para enfrentar os problemas que constrangem o crescimento de tantos países na Eurolândia e na própria América.

Com o desaquecimento nas economias mais prósperas, encolhendo o volume do comércio internacional, e o aumento da insegurança nos mercados financeiros, certamente teremos um crescimento menor em 2011, porque o mundo crescerá menos, mas seguramente melhor do que a maioria dos paí-ses. Devemos terminar o ano com uma expansão de 3% do PIB (um pouco acima, dependendo do último trimestre), mas em condições de crescer mais de 3%, podendo chegar a 4% em 2012. O que ainda será substancialmente superior ao que se espera do crescimento da economia mundial.

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Recessão anunciada

*Artigo originalmente publicado na Carta Capital.

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Brasil: HORA DE REVER AS PRIVATIZAÇÕES




Mauro Santayana – Carta Maior, em Debate Aberto

Se outros efeitos não causar à vida nacional o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., suas acusações reclamam o reexame profundo do processo de privatizações e suas razões. A presidente da República poderia fazer seu o lema de Tancredo: um governante só consegue fazer o que fizer junto com o seu povo.

Se outros efeitos não causar à vida nacional o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., suas acusações reclamam o reexame profundo do processo de privatizações e suas razões. Ao decidir por aquele caminho, o governo Collor estava sendo coerente com sua essencial natureza, que era a de restabelecer o poder econômico e político das oligarquias nordestinas e, com elas, dominar o país. A estratégia era a de buscar aliança internacional, aceitando os novos postulados de um projetado governo mundial, estabelecido pela Comissão Trilateral e pelo Clube de Bielderbeg. Foi assim que Collor formou a sua equipe econômica, e escolheu o Sr. Eduardo Modiano para presidir ao BNDES - e, ali, cuidar das privatizações.

Primeiro, houve a necessidade de se estabelecer o Plano Nacional de Desestatização. Tendo em vista a reação da sociedade e as denúncias de corrupção contra o grupo do presidente, não foi possível fazê-lo da noite para o dia, e o tempo passou. O impeachment de Collor e a ascensão de Itamar representaram certo freio no processo, não obstante a pressão dos interessados.

Com a chegada de Fernando Henrique ao Ministério da Fazenda, as pressões se acentuaram, mas Itamar foi cozinhando as coisas em banho-maria. Fernando Henrique se entregou à causa do neoliberalismo e da globalização com entusiasmo. Ele repudiou a sua fé antiga no Estado, e saudou o domínio dos centros financeiros mundiais – com suas conseqüências, como as da exclusão do mundo econômico dos chamados “incapazes” – como um Novo Renascimento.

Ora, o Brasil era dos poucos países do mundo que podiam dizer não ao Consenso de Washington. Com todas as suas dificuldades, entre elas a de rolar a dívida externa, poderíamos, se fosse o caso, fechar as fronteiras e partir para uma economia autônoma, com a ampliação do mercado interno. Se assim agíssemos, é seguro que serviríamos de exemplo de resistência para numerosos países do Terceiro Mundo, entre eles os nossos vizinhos do continente.

Alguns dos mais importantes pensadores contemporâneos- entre eles Federico Mayor Zaragoza, em artigo publicado em El País há dias, e Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia - constataram que o desmantelamento do Estado, a partir dos governos de Margareth Thatcher, na Grã Bretanha, e de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, foi a maior estupidez política e econômica do fim do século 20. Além de concentrar o poder financeiro em duas ou três grandes instituições, entre elas, o Goldman Sachs, que é hoje o senhor da Europa, provocou o desemprego em massa; a erosão do sistema educacional, com o surgimento de escolas privadas que só servem para vender diplomas; a contaminação dos sistemas judiciários mundiais, a partir da Suprema Corte dos Estados Unidos – que, entre outras decisões, convalidou a fraude eleitoral da Flórida, dando a vitória a Bush, nas eleições de 2000 -; a acelerada degradação do meio-ambiente e, agora, desmonta a Comunidade Européia. No Brasil, como podemos nos lembrar, não só os pobres sofreram com a miséria e o desemprego: a classe média se empobreceu a ponto de engenheiros serem compelidos a vender sanduíches e limonadas nas praias.

É o momento para que a sociedade brasileira se articule e exija do governo a reversão do processo de privatizações. As corporações multinacionais já dominam grande parte da economia brasileira e é necessário que retomemos as atividades estratégicas, a fim de preservar a soberania nacional. É também urgente sustar a incontrolada remessa de lucros, obrigando as multinacionais a investi-los aqui e taxar a parte enviada às matrizes; aprovar legislação que obrigue as empresas a limpa e transparente escrituração contábil; regulamentar estritamente a atividade bancária e proibir as operações com paraísos fiscais. É imprescindível retomar o conceito de empresa nacional da Constituição de 1988 – sem o que o BNDES continuará a financiar as multinacionais com condições favorecidas.

A CPI que provavelmente será constituída, a pedido dos deputados Protógenes Queiroz e Brizola Neto, naturalmente não se perderá nos detalhes menores – e irá a fundo na análise das privatizações, a partir de 1990, para que se esclareça a constrangedora vassalagem de alguns brasileiros, diante das ordens emanadas de Washington. Mas para tanto é imprescindível a participação dos intelectuais, dos sindicatos de trabalhadores e de todas as entidades estudantis, da UNE, aos diretórios colegiais. Sem a mobilização da sociedade, por mais se esforcem os defensores do interesse nacional, continuaremos submetidos aos contratos do passado. A presidente da República poderia fazer seu o lema de Tancredo: um governante só consegue fazer o que fizer junto com o seu povo.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

Recenseamento eleitoral em Cabinda: OPOSIÇÃO ALEGA FRAUDE



José Manuel, Cabinda – VOA News

O PRS acusa o governo e o partido MPLA de estarem a coagir os eleitores

A 24 horas do termo da primeira fase de registo e actualização eleitoral no país, em Cabinda surgem denúncias de fraudes no processo de receseamento eleitoral.

De acordo com o Partido de Renovação Social (PRS), em Cabinda, as próximas eleições gerais serão mais fraudulentas do que as de 2008, na sequência de suspeitas de vício no cadastramento dos cidadãos.

O PRS acusa o governo e o partido MPLA de estarem a coagir os eleitores a entregarem os seus cartões de eleitores nos seus locais de trabalho.

Para o segundo secretário do Partido de Renovação Social, Samuel Jacob, o processo de registo e actualização de eleitores nesta região não está a ser democrático. Os cidadãos, segundo Jacob, estão a ser coagidos a aderirem ao processo o que, no seu dizer, viola a Constituição e o Estado de direito Democrático.

O PRS anunciou que vai pedir explicações aos órgãos competentes para se evitar constrangimentos nas próximas eleições.

Ler também, sobre Angola:

O “HOMEM DA LUA” E A ILHA DO PRÍNCIPE



ABEL VEIGA – TÉLA NÓN

Mark Shuttleworth, o milionário sul-africano, por sinal primeiro homem africano que viajou para o Espaço, é vulgarmente chamado pela população do Príncipe de “homem da lua”. Ele é actualmente proprietário de cerca de metade das terras da ilha do Príncipe, onde pretende desenvolver um ambicioso projecto de turismo ecológico. A dificuldade do Governo central em assinar o acordo administrativo final, está na base da manifestação popular de hoje.

Ña semana passada a bandeira nacional foi queimada na ilha do Príncipe. Os panfletos que foram espalhados na cidade de Santo António na mesma noite da última quinta – feira, comprovaram que a agitação popular era iminente e que estava tudo relacionado com a execução do projecto de desenvolvimento do turismo ecológico, sob a liderança de Mark Shuttleworth, o chamado “homem da lua”.

Desde Maio passado que o Governo Regional do Príncipe na pessoa de José Cardoso Cassandra, assinou um acordo de investimento com o Grupo Empresarial de Mark Shuttleworth, designado HBD-Boa Vida.

Na altura o Téla Nón divulgou o acontecimento, e fez referência que o Governo Central, ficou amuado pelo facto do Presidente do Governo Regional ter assinado o acordo com o milionário sul-africano. Aliás Téla Nón foi único órgão nacional de comunicação social que deu a notícia da assinatura do acordo. Os órgãos estatais foram silenciados, porque alegadamente o executivo não estava contente com a consumação do negócio, sem o seu aval.

No entanto o Governo Regional do Príncipe, garantiu que assinou cumprindo com as prerrogativas definidas no novo Estatuto Político e Administrativo da ilha, garantido pelo diploma legislativo que criou a Região Autónoma do Príncipe.

O grupo sul-africano HBD – Boa Vida, mostrou claramente que não estava para brincar. Logo após a assinatura do acordo de investimento, começou a realizar acções no sentido de a médio prazo transformar a ilha do Príncipe, num santuário de turismo ecológico de alto nível. Comprou roças como Paciência, e comprou participação de outras empresas que pretendiam realizar projectos turísticos na orla costeira do Príncipe. Assim, o grupo sul-africano, passou a ser proprietário das mais lindas praias do Príncipe, como Macaco, Boi e também o ilhéu Bombom.

A extensão de terra que já tinha em mãos parecia pouca para o grupo sul-africano, que junto ao Governo Regional, propôs estender a área de desenvolvimento de turismo ecológico para o norte da ilha do Príncipe, envolvendo a roça Sundy. No dia 29 de Maio passado, quando se assinalou mais um aniversário sobre a comprovação da teoria da relatividade, acontecimento que teve lugar na Roça Sundy em 1919, o Téla Nón testemunhou a concessão da Roça Sundy para o grupo sul-africano.

Na ex- casa de patrão da Roça, Mark Shuttleworth e membros da sua empresa HBD, apresentaram o grande projecto turístico que vai nascer na ilha incluindo a Roça Sundy. Na cerimónia foi anunciado que o património arquitectónico da Roça iria ser reconstruído, para potencializar a agricultura, e alimentar o turismo cultural e ecológico. Os trabalhadores da Sundy mais de 200 chefes de famílias que estavam desempregados, passaram a ganhar sustento mensal graças a intervenção do grupo Sul Africano.

Mas alguns meses antes da cerimónia de Sundy, o Presidente do Governo Regional, José Cassandra, deu uma entrevista ao Téla Nón na cidade de Santo António, tendo anunciado que a roça iria ser concedida ao grupo sul-africano. José Cassandra, disse que o anterior projecto que o Governo Central, tinha assinado para Sundy, que visa a produção de óleo de palma, não se ajustava à política estratégica definida para o desenvolvimento da ilha.

Na entrevista José Cassandra explicou que o plantio de palmeiras, teria como consequência o derrube de parte da floresta da ilha, e o mais grave ainda é a destruição dos solos que o palmeiral poderia provocar. Segundo José Cassandra, o governo regional definiu a manutenção e preservação da natureza virgem do Príncipe, como prioridade número 1, assim como a promoção do turismo ecológico na ilha.

No entanto o anterior Governo de Rafael Branco, já tinha assinado acordo com o grupo privado belga SOCFINCO S. A, para plantio de palmeiras e produção de óleo de palma na Roça Sundy. Um projecto com duração de 25 anos, que envolveu também a Roça Ribeira Peixe em São Tomé e parte da zona de Porto Alegre no extremo sul de São Tome.

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