sábado, 26 de novembro de 2011

O PONTO DE INFLEXÃO NA POLÍTICA DO EGITO




Larbi Sadiki - Al Jazeera – Carta Maior

O dilema no Egito é que, enquanto as elites competem para superar e transcender a revolução, os excluídos exercem a revolução como sua única democracia. Depois de Mubarak, o jogo político permanece voltado para a disputa pelo poder político. Intencionalmente ou não, isso restringe o horizonte da política. Já o engajamento dos manifestantes assinala um ponto de inflexão da política: mobilizar a massa crítica voltada à mudança a partir dos de baixo. O artigo é de Larbi Sadiki.

O Egito está se recusando a matar o que chamo de “ethos revolucionário”. Só levando em conta suas implicações e a dinâmica na mudança da política podemos entender melhor o chamado da Praça Tahrir. Particularmente, a incapacidade das elites de responderem e corresponderem de uma maneira um pouco menos acomodada ao ethos revolucionário está no coração do retorno no Egito de seus próprios “indignados”, à luta ascendente em que dispõem dos termos do processo: o ponto de inflexão da política.

Desde o início, as relíquias políticas que deveriam ter sido jogadas na lata de lixo da história estão se mobilizando pelo afastamento dos excluídos e pela contenção da revolução no Oriente Médio árabe. As relíquias, de Riad a Damasco, nunca viram com bons olhos a marcha dos excluídos. Eles foram sacudidos e seguem sendo, à medida que a raiva, a paixão, o sacrifício e a tenacidade retomam as praças públicas em muitas cidades árabes.

No Egito e na Tunísia, conter a revolução árabe significa tentar submeter o ethos revolucionário ao democrático.

Subjacente a esse modus operandi está a tese segundo a qual os dois atributos morais desses dois momentos são mutuamente excludentes. Quer dizer, que a transição para a democracia deve ser completada com o fim da revolução. Acabar com a revolução, inevitavelmente, implica acabar com os revolucionários.

Isso pode soar bizarro, no entanto é verdade: reformar a política através da transição democrática é o primeiro passo para purgar os revolucionários e sua flama moral – os manifestantes, os excluídos e os [Mohamed] Bouazizis desse mundo.

Em busca do “modo árabe”

Talvez haja um “quarto modo” – redefinir a política no momento pós-autoritário, de maneira que o ethos revolucionário e o democrático operem conjuntamente, de uma forma inclusiva e não por meio de um processo de exclusão mútua.

O ethos democrático redefine a política “formal” e “sistêmica” que serve às instituições. O ethos revolucionário cultiva o espaço do “informal”, o qual reproduz e renova a revolução. O primeiro é compartilhado pelos canais competitivos, vozes e forças da política – o reino da convenção política. O segundo é o âmbito exclusivo das lutas não competitivas, no qual a colaboração e a atribuição de funções dizem respeito à reinvenção política.

A reinvenção política é o exercício contínuo do poder popular, voltado para manter a política competitiva formal “decente”. Ela é dotada de inventividade e mobilização para produzir os pontos de inflexão política. O precedente foi estabelecido no Egito, na Tunísia, na Líbia e no Iêmen.

Por mais que esteja concentrado em meu estudo sobre a democracia, eu compreendo que pode ser frustrante vê-la matar a revolução no mundo árabe. Essa é uma coisa muito fácil de se fazer, quando a luta pelo poder cega as pessoas para o valor da revolução.

Nunca antes os árabes inventaram algo tão significativo como uma revolução, desde que seus antepassados criaram (e depois abandonaram) a shura, o ethos consultivo. Ainda assim há uma pressa para encontrar uma política maior, a qual, se desenvolvida inteligentemente, poderia fornecer uma forma de contrapeso para conduzir a política árabe em equilíbrio.

Aqui está o dilema da reconstrução da democrática tanto no Egito como na Tunísia.

Revolução e Democracia

A retomada do ethos revolucionário através do retorno a Praça Tahir é brilhante. Nas vésperas das eleições marcadas para 28 de novembro, eles não estão rompendo com a transição formal tanto como estão irrompendo como uma vox populi informal. O que pode ser melhor no meio de uma transição do que escutar o povo – os excluídos e manifestantes?

Essa é a marca do grupo, a manifestação aberta, direta, imediata e espontânea da comunicação política por meio do protesto. Tivessem sido todos absorvidos pelos partidos políticos, o ethos revolucionário teria morrido.

O dilema hoje no Egito é que, enquanto as elites competem entre si para superar e transcender a revolução, os excluídos exercem a revolução como sua única democracia.

Essas elites compartilham a culpa com os militares (nomeadamente, SCAF) pelo fracasso da revolução no Egito. A pressa para se ter uma disputa convencional pelo poder torna-os culpados de dois pecados políticos cardeais.

O primeiro é dispor e exercer um formalismo político excessivo e a ambição política. Depois de Mubarak, o nome do jogo político permanece voltado para a disputa pelo poder político e pela busca do poder. Intencionalmente ou não, isso restringe o horizonte da política.

O segundo é priorizar a finalidade sobre o método. O Egito não tem um “mapa do caminho” democrático; o país planejou as eleições. As duas coisas são diferentes.

O mau uso da inteligência humana

As elites do Egito são motivo de inveja no mundo árabe. Seus recursos humanos e abundante disponibilidade na inteligência nacional continuam a ser mal aproveitados. A atual crise é um caso disso.

Não há nada de novo em culpar a burocracia militar ou a política burocrática por sufocarem a busca por uma transição civil substantiva e ordeira. O marechal Tantawi está de saída e é um alvo fácil. A atenção deveria voltar-se então para os líderes potenciais do Egito.

Mohamed El Baradei: imaginem se ele estivesse liderando uma comissão de justiça de transição. Com o seu know-how, reputação internacional e integridade, ele poderia ter sido um par de mãos seguras para ajudar a transição egípcia. Isso teria ajudado a causa das famílias dos mártires, dentre outras, cujo luto ainda está para ser enfrentado. Em vez disso ele se fixou na disputa pela presidência.

Amr Moussa: um veterano da diplomacia egípcia e pan-árabe, que teve sua participação de glória e poder. Ele é provavelmente um dos favoritos das forças armadas para a presidência – um estadista que saberia o que fazer no poder. Mas sua estatura teria sido melhor encaminhada para liderar uma comissão para negociar um esboço das funções de uma assembleia constituinte no interior do parlamento que está para ser eleito.

Mohamed Salim al-Awwa: um expert com credibilidade, em direito, cujo objetivo, talvez com o apoio indireto da Irmandade Muçulmana, de disputar a presidência não serviria ao Egito tanto como se fosse líder de uma comissão de experts que elaborasse o projeto de constituição do país.

Há um número sem fim de nomes plenos de recursos intelectuais e habilidades que poderiam conferir à transição egípcia um sentido de direção e propósito: um observatório eleitoral independente ou uma comissão, uma comissão anti-corrupção eleitoral, uma comissão judicial cujo único objetivo fosse supervisionar um julgamento justo de Mubarak e seus subordinados.

A confusão no registro de votantes do país precisa ser modernizada e atualizada, um trabalho que não pode ser feito adequadamente na pressa para garantir eleições. A mídia precisa de uma comissão especializada de reforma, também. Assim tivesse sido, uma comissão de segurança nacional teria prevenido a crise atual, caso o papel das forças armadas tivesse se voltado sistemática e legalmente para a redefinição de seu papel, para os seus direitos e obrigações, esvaziando a necessidade de princípios supraconstitucionais.

Os horizontes do ponto de inflexão

É esta ausência de capacidade institucional e de instituições para absorver e responder ao fervor revolucionário que está no coração da atual crise no Egito.

Tanto no Egito como na Tunísia, movimentos representativos amplos do ethos revolucionário, formidáveis, duradouros e altamente organizados ainda estão para ser formados. Os seus fundamentos existem, mas ainda estão para ser encampados. No entanto, o ethos revolucionário é abundante.

As elites políticas do Egito têm de reaprender a política para serem sensíveis à dinâmica do ethos revolucionário e da capacidade de protesto sem fim da juventude, se ela assim necessitar.

Note-se que as paixões da juventude e as demandas com propensão revolucionária exigem uma resposta rápida. Aqui está a tensão entre a capacidade de resistência das velhas elites e do establishment político equipados com a capacidade de resistir à inércia política e a manifestantes de uma juventude autoconfiante. Essa resistência, na verdade um mecanismo de defesa, na qual abrigaram-se durante a duradoura ditadura, não é compartilhada por aqueles que estão protestando na Praça Tahir.

A única resistência desses manifestantes diz respeito ao seu engajamento num ponto de inflexão da política: mobilizar a massa crítica voltada à mudança a partir dos de baixo.

(*) Dr. Larbi Sadiki é um professor sênior de Política do Oriente Médio na Universidade de Exeter, no Reino Unido. É autor de Arab Democratization: Elections without Democracy (Oxford University Press, 2009) e The Search for Arab Democracy: Discourses and Counter-Discourses (Columbia University Press, 2004).

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: http://www.aljazeera.com/indepth/opinion/2011/11/20111124102315396445.html

Fotos: Al Jazeera

AMILCAR CABRAL – UM VISIONÁRIO DO SÉCULO XXI



MARTINHO JÚNIOR, Luanda

1 – O investigador, escritor e jornalista Basil Davidson acompanhou a luta de libertação das colónias sujeitas ao fascismo e ao colonialismo português, não se coibindo de deslocar-se “in loco” e em ocasiões distintas às frentes de combate.

Ele esteve por três vezes na Guiné Bissau e não foi por acaso: para além dos sucessos, ele tinha como interlocutor um homem da envergadura de Amílcar Cabral, um dos mais esclarecidos combatentes à frente da luta, que era um estratega e visionário para além, muito para além da luta pela independência em África.

Ambos, Amílcar Cabral e Basil Davidson, foram artífices consequentes do Não Alinhamento e eram homens habituados a interrogar-se e a perscrutar o futuro, pelo que o seu argumento de então, não podia deixar de ter janelas abertas com ensinamentos profundos para as gerações que se lhes seguiriam.

2 – Uma das preocupações de Amílcar Cabral, uma vez que a guerrilha do PAIGC experimentava na sua própria carne a eficácia dos equipamentos militares usados pelo colonialismo português, foi denunciar o papel da NATO em socorro de um dos seus integrantes e fundadores, o Portugal do regime fascista e colonialista de Salazar!

Em alguns dos livros que Basil Davidson escreveu sobre a luta de libertação, livros esses que são compêndios que testemunham a energia da guerrilha da libertação de África, essas denúncias eram mesmo uma constante que são ensinamentos para além do tempo e das contingências da época.

Eles não podiam adivinhar os meandros do futuro, mas avaliavam já com Salazar as tendências da hegemonia e do império: sem ele o regime, preso ao jogo dos Açores desde a IIª Guerra Mundial, não poderia ter enveredado pela guerra.

3 – De facto, quer para Amílcar Cabral, quer para Basil Davidson, subsistiam os fundamentos Atlânticos que, principalmente pela via dos Açores, fizeram integrar Portugal na NATO até aos nossos dias: durante a IIª Guerra Mundial, a abertura dos Açores ao potencial aéreo dos Estados Unidos e dos aliados, tornou possível vencer a batalha contra os submarinos alemães que infestavam a norte as duas margens do oceano!

Se na década de 40 do século XX foi assim, hoje não há ponte aérea alguma que passe pelo Atlântico Norte em que os Estados Unidos, para disseminar guerras sobretudo no Médio Oriente, não conte com os Açores, pelo menos como um ponto de referência e Portugal, sobretudo nesta época em que a ditadura financeira se tornou instigadora e mentora dos poderes nas “civilizações ocidentais”, em prejuízo dos seus próprios povos, é-lhe completamente submisso e instrumentalizado, qualquer que seja a pílula com que tente dourar suas pretensões.

4 – Em “Angola no centro do furacão”, ao analisar o “Orçamento Nacional Português” há uma síntese que interessa referenciar.

“Diz Amílcar Cabral, no prefácio do livro A Libertação da Guiné, de Basil Davidson:

Desde 1961, Portugal tem utilizado, na força aérea em África, bombardeiros, caças, aviões de transporte e de reconhecimento, helicópteros, que lhe são vendidos, por vezes em termos de grande preferência, pelos seus aliados da NATO.

Alguns desses tipos são designados especificamente para a NATO, por exemplo: os Fiat G-91 NATO tipo R.4, caças a jacto.

A força aérea Portuguesa obteve 40 desses aviões que lhe foram fornecidos pela Alemanha Ocidental, em 1966, pela soma aproximada de 10 milhões de dólares.

O G-91 é um avião especialmente concebido para a NATO.

A princípio foram construídos para os Estados Unidos nas fábricas alemãs, com licença italiana.

Os Estados Unidos tencionavam fornecê-los à Turquia e à Grécia, que os utilizariam para os fins da NATO.

Mais tarde esses aviões foram transferidos para a força aérea alemã.

O avião é formado com uma armação italiana, um motor inglês, um trem de aterragem francês e um equipamento electrónico holandês.

Estes aviões são muito apropriados para operações anti guerrilhas em África porque podem levantar voo em pistas pouco extensas”…

5 – Durante a guerrilha do PAIGC, houve a presença internacionalista cubana, na sequência aliás da passagem do Che por África e do sentido comum que teve Cuba em relação ao movimento de libertação.

Isso é revelador da identidade da Revolução Cubana, que ao identificar-se com o Povo Cubano, na trilha das nações surgidas da rota dos escravos, se identificou também com a luta de libertação em África.

Por isso, as reflexões de Fidel em relação aos últimos acontecimentos na Líbia e acerca da NATO, têm para os africanos uma outra densidade e idoneidade, que importa sublinhar.

Sobre o potencial nuclear e os riscos do momento, Fidel põe a nu o “Cinismo Genocida” do exercício da hegemonia, em duas partes, das quais extraímos alguns excertos:

“Nenhuma pessoa em seu bom censo, especialmente aqueles que tiveram acesso aos conhecimentos elementares que são adquiridos em uma escola primária, concordaria com que nossa espécie, de modo particular os que são crianças, adolescentes ou jovens, sejam privados hoje, amanhã e para sempre do direito a viver. Jamais os seres humanos ao longo de sua história azarenta, como pessoas dotadas de inteligência, conheceram experiência semelhante.

Sinto-me no dever de transmitir àqueles que se tomam a moléstia de ler estas reflexões, o critério de que todos, sem excepção, estamos na obrigação de criar consciência sobre os riscos que a humanidade está correndo de forma inexorável, rumo a uma catástrofe definitiva e total como consequência das decisões irresponsáveis de políticos aos quais o azar, mais do que o talento ou o mérito, colocou em suas mãos o destino da humanidade”.

(…)
“Trás os crimes repugnantes que com frequência crescente vem cometendo a Organização do Tratado do Atlântico Norte, sob a égide dos Estados Unidos e dos países mais ricos da Europa, a atenção mundial se concentrou na reunião do G-20, onde se devia analisar a profunda crise económica que afecta hoje todas as nações. A opinião internacional, e particularmente a europeia, esperavam resposta à profunda crise económica que com suas profundas implicações sociais, e inclusive climáticas, ameaçam a todos os habitantes do planeta. Nessa reunião se decidia se o euro podia se manter como a moeda comum da maior parte da Europa, e inclusive se alguns países poderiam permanecer dentro da comunidade.

Não houve resposta nem solução alguma para os problemas mais sérios da economia mundial apesar dos esforços da China, da Rússia, Indonésia, África do Sul, o Brasil, Argentina e outros de economia emergente, desejosos de cooperar com o resto do mundo na busca de soluções aos graves problemas económicos que o afectam”.

(…)
“O quê é a ONU?, uma organização impulsionada pelos Estados Unidos da América antes de finalizar a Segunda Guerra Mundial. Essa nação, cujo território distava consideravelmente dos cenários de guerra, enriquecera enormemente; acumulou 80% do ouro do mundo e sob a direcção de Roosevelt, sincero antifascista, impulsionou o desenvolvimento da arma nuclear que Truman, sucessor seu, oligarca e medíocre, não hesitou em usar contra as cidades indefesas de Hiroshima e Nagasaki no ano 1945”.

(…)
“O número de países que possuem armas nucleares neste momento se eleva a oito, cinco deles são membros do Conselho de Segurança: os Estados Unidos da América, a Rússia, o Reino Unido, a França, e a China. A Índia e o Paquistão adquiriram o carácter de países possuidores de armas nucleares em 1974 e 1998 respectivamente. Os sete mencionados reconhecem esse carácter.

O Israel, no entanto, nunca tem reconhecido seu carácter de país nuclear. Contudo, calcula-se que possui entre 200 e 500 armas desse tipo, sem se dar por aludido quando o mundo fica inquieto pelos gravíssimos problemas que traria o estalido de uma guerra na região onde é produzida grande parte da energia que movimenta a indústria e a agricultura do planeta”.

(…)
“Hoje 13 de novembro a embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice disse à cadeia BBC que a possibilidade de uma intervenção militar no Irão não só não está fora da mesa, senão que é uma opção real que está crescendo por causa do comportamento iraniano.

Insistiu em que a administração norte-americana está chegando à conclusão de que será necessário acabar com o actual regime do Irão para evitar que este crie um arsenal nuclear. “Sou uma convencida de que a mudança de regime vai ser nossa única opção aqui”, reconheceu Rice”.

6 – O “arco de crise” que se expande em África a partir do Médio Oriente, no caso duma convulsão contra o Irão acarretará uma intensidade de riscos muito maiores para o Continente.

Um conflito de natureza nuclear no Médio Oriente poderá extravasar também para África, que se declarou um Continente livre de armas nucleares desde que a democracia sul africana desmantelou o arsenal que havia sido criado pelo regime do “apartheid”.

A presença da NATO e os “cavalos de Tróia” que ela tem disseminado através dos mais diversos intermediários e a coberto de relações bilaterais, (Portugal é um dos exemplos, mas outros muito mais fortes, como a França, possuem até bases e destacamentos implantados de há longas décadas), é nefasta e não há persuasão alguma que a possa justificar, muito menos hoje que os “mercados” sofrem a manipulação dos ricos e dos poderosos contra os seus próprios povos.

Os Estados Unidos, via AFRICOM, controlam praticamente a longa bacia do Nilo e aprestam-se a passar para outras bacias, como a do Congo, pelo que a ameaça da presença do complexo AFRICOM / NATO é por demais evidente.

As preocupações de Amílcar Cabral e de Basil Davidson, 50 anos depois, continuam válidas!

Gravura: Bases aéreas do colonialismo português na Guiné Bissau, durante a luta de libertação.

A consultar:
- O arco de crise em direcção a África – Martinho Júnior – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/o-arco-de-crise-em-direccao-africa.html
- US-NATO-Israel war planes against Iran: Selected articles – Michel Chossudovsky – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=27471
 

Paquistão acusa Otan de atacar suas tropas na fronteira com o Afeganistão




DEUTSCHE WELLE

Um ataque aéreo da Otan a posto fronteiriço no Paquistão matou mais de 20 e deixou quase 30 feridos, segundo governo paquistanês. Incidente pode levar ainda mais tensão à relação entre Washington e Islamabad.

Um ataque aéreo da Otan a um posto fronteiriço no noroeste do Paquistão matou neste sábado (26/11) pelo menos 24 pessoas e deixou quase 30 feridos, segundo autoridades de segurança do Paquistão, embora fontes extraoficiais tenham informado haver mais mortes. O incidente levou as autoridades paquistanesas a fecharem uma rota que passa pelo local, utilizada para escoamento de suprimentos e combustíveis pelas tropas da Otan estacionadas no Afeganistão.

O ataque, ocorrido numa região do noroeste do Paquistão, é o incidente mais grave desde que os governos em Washington e Islamabad fecharam em 2001 uma aliança contra o terrorismo. E ocorre pouco mais de uma semana antes de uma conferência sobre o Afeganistão agendada para ocorrer em Bonn, na Alemanha. No evento, serão discutidas perspectivas para a região após a retirada das tropas ocidentais, prevista para o fim de 2014.

Fronteiras foram fechadas

Após o ataque, as autoridades paquistanesas fecharam a fronteira para o transporte de suprimentos da Otan para o Afeganistão, tanto pelo distrito de Khyber Agency como pela região de Baluchistan.

A Otan confirmou que houve um confronto com forças paquistanesas em um posto fronteiriço, sem dar mais detalhes. "Estamos conscientes de que um incidente ocorreu na região de fronteira", disse o major Brian Badura, porta-voz da Força Internacional de Assistência para Segurança (Isaf). "No momento, estamos reunindo informações e investigando o ocorrido", afirmou.

O comandante das tropas da Otan no Afeganistão, o norte-americano John Allen, expressou seu comprometimento em "investigar exatamente o que aconteceu e esclarecer os fatos."

“Muito provável”

Um porta-voz da Isaf reconheceu ser "muito provável" que aeronaves da Otan tenham provocado a morte de soldados paquistaneses em um ataque letal. O general de brigada Carsten Jacobson disse que as forças da Isaf e do Exército afegão estavam realizando uma operação conjunta na parte oriental da província afegã de Kunar, que faz fronteira com o Paquistão, quando foram forçados a recorrer a apoio aéreo."É muito provável que este apoio aéreo, chamado pelas forças de terra, tenham causado essas mortes ", afirmou o militar à agência AFP.

Indignação

As autoridades paquistanesas, por sua vez, expressaram a sua indignação, observando que o ataque dos helicópteros da Otan ocorreu sem ter havido provocação prévia. "Este é um ataque à soberania do Paquistão e não podemos mais tolerar esses ataques", declarou o governador da província, Masood Kausar, que lidera o governo civil em sete distritos tribais.

Um porta-voz militar paquistanês falou de 24 soldados "mártires" e 13 feridos. No entanto, um oficial das guardas de fronteira paramilitares de Peshawar, a capital da província de Kyber-Pakhtunkhwa, falou de mais dois mortos e 23 feridos.

"As tropas paquistanesas responderam imediatamente em defesa própria à agressão da Otan / Isaf com todas as armas disponíveis", consta de um comunicado militar. O chefe de Estado Maior, o general Ashfaq Parvez Kayani, elogiou a reação paquistanesa.

O embaixador dos EUA em Islamabad, Cameron Munter, foi convocado pelo primeiro-ministro paquistanês, Yousuf Raza Gilani, que expressou um protesto contundente sobre o ataque, de acordo com o Ministério do Exterior do país. Islamabad protestou em Washington e na sede da aliança militar em Bruxelas.

Relações tensas

O incidente deverá tornar ainda mais tensas relações entre Estados Unidos e Paquistão, que já são abaladas desde a controversa operação em maio passado em Abbottabad, a noroeste do país, que terminou com a morte do líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, realizada sem autorização ou conhecimento prévio paquistanês.

A base paquistanesa afetada, Salala, está em uma área usada como esconderijo pelos talibãs radicais. Segundo círculos de segurança paquistaneses, os extremistas utilizam a rota para se infiltrarem no Afeganistão.

MD/dpa/rtr/afp - Revisão: Soraia Vilela

Alemanha: MILHARES DE PESSOAS PROTESTAM CONTRA TRANSPORTE DE LIXO ATÓMICO





Mais uma vez, os tradicionais protestos contra o transporte de resíduos radioativos na Alemanha leva a confrontos entre ativista e policiais. Parte das manifestações transcorreu de maneira pacífica.

Os protestos ocorridos na tarde deste sábado (26/11) transcorreram de forma parcialmente pacífica. Segundo informações fornecidas pela polícia, aproximadamente oito mil pessoas e 400 tratores participaram das manifestações contra o transporte do lixo atômico em Dannenberg. Os organizadores apontam a presença de 23 mil pessoas em todo o percurso dos contêineres.

Diversos grupos de pessoas tentaram, em vários trechos da rota, bloquear os trilhos por onde passaram os contêineres com os resíduos nucleares, tendo sido afastados por isso por policiais. O trem com o material radioativo saiu da usina de processamento La Hague, na França, rumo a Gorleben, na Alemanha.

Crianças, jovens e idosos

Famílias com crianças pequenas, bem como jovens e pessoas idosas, participaram dos protestos, levando balões vermelhos e cartazes com os dizeres "energia atômica: não obrigado". Foram feitos diversos discursos, inclusive por uma japonesa, que relatou suas experiências após a catástrofe de Fukushima.

A intenção dos protestos é retardar ao máximo o transporte do lixo radioativo. No ano passado, manifestantes permaneceram durante 20 horas bloqueando o trecho a ser percorrido pelos contêineres. O trabalho de evacuação realizado pela políica durou seis horas. O transporte vem sendo acompanhado por aproximadamente 19 mil policiais em todo seu percurso.

Confrontos entre manifestantes e policiais

Ao longo da rota, houve na madrugada deste sábado tumultos entre manifestantes e forças policiais. Em Metzingen, policiais foram agredidos com pedras por aproximadamente 200 manifestantes e reagiram com mangueiras de água.

Os ativistas criticaram, por outro lado, a postura da polícia. Kerstin Rudek, presidente da Iniciativa de Proteção ao Meio Ambiente de Lüchow-Dannenberg, salientou o "alto poder de agressividade" dos policiais envolvidos.

Em Dannenberg fica a estação de transferência do material, onde os contêineres serão transferidos para caminhões, que levarão o material nos últimos 19 quilômetros até seu destino final, em Gorleben, na Baixa Saxônia.

SV/dpa/ots/afp

A PEDRA NO SAPATO




ANTÓNIO VERÍSSIMO

“Três foi a conta que deus fez”. Sempre ouvi dizer isto e nunca entendi. Tenho pelo entendimento que falavam do deus dos católicos apostólicos romanos porque ouvi a frase muitas vezes quando era convenientemente obrigado a frequentar a catequese. Onde apanhei a estúpida de uma freira que pela Páscoa metia nos sapatos da miudagem uma “pedrinha” para sofrermos um pouco “como Cristo e dar valor”. Por causa dessa “pedrinha” perguntou-me o meu avô porque coxeava… E eu disse-lhe que tinha uma pedra no sapato (era mesmo o caso). “Então tira-a”, disse ele. “Estás parvo ou o quê?”, ripostou eriçando o farto bigode. “Não posso porque a freira disse que se tirasse a “pedrinha” era excomungado, que é pecado”, expliquei.

Claro que o corpulento ex-chefe do Batalhão de Sapadores Bombeiros largou uma daquelas que só posso descrever assim: “… e se ela metesse a pedra num sítio que eu cá sei era o melhor que fazia… Tira já a pedra do sapato… Aiii!” E pronto, tirei. Lá fui eu excomungado. A partir daí nunca mais tive sorte… e o meu avô morreu. Passaram muitos anos até que morreu. Mas morreu. Isso para mim foi como que um castigo porque adorava partilhar a vida com ele. Raios parta a excomungação, a “pedrinha” e a freira estúpida que queria ser mais deus que deus. Ela chamava-se Maria da Adoração, a irmã… De deus não sei o nome próprio nem outro, só do filho, Jesus. Perdi-me na prosa. Valha-me Jesus!

Os três, era por aí que eu vinha. Perdi os três... mas já os recuperei. Ora vamos então ser sucintos, coisa que em mim é quase impossivel:

Cavaco Silva, o presidente desta república afundada e ocupada por estrangeiros que nos levam a soberania que Passos oferece a troco daquilo que mais tarde veremos, falou hoje com gestores de topo, como refere a Lusa, agência de notícias. Quando li topo lembrei-me do Topo Giggio… Adiante.


E mais, já agora quase tudo da prosa:

“O Presidente da República reuniu-se hoje em Belém com um grupo de "gestores de topo" portugueses em grandes empresas multinacionais, a quem pediu para ajudarem o país neste "momento difícil" e falou sobre a internacionalização da economia nacional.

Segundo fonte da Presidência da República, o objectivo do encontro foi associar estes gestores à acção desenvolvida por Cavaco Silva "no sentido de melhorar a imagem de Portugal nos mercados internacionais".

"O Presidente Cavaco Silva convidou os gestores a não esquecerem o País em que nasceram e a ajudarem Portugal neste momento difícil", referiu a fonte.

Os gestores, que estão em Lisboa para participar no Fórum COTEC "Portugueses reencontram-se", que contará igualmente com a presença do chefe de Estado esta tarde, ouviram ainda Cavaco Silva falar sobre a necessidade de conferir um novo impulso à dinâmica de internacionalização da economia portuguesa e do papel que podem desempenhar nesse sentido a diáspora e as redes de "amigos de Portugal".

Com o encontro, que foi seguido de um almoço no Palácio de Belém, o Presidente da República pretendeu também "salientar publicamente o mérito daqueles que se têm destacado no mundo das grandes empresas, através de uma opção profissional de elevada exigência e sacrifício, envolvendo risco pessoal e, muitas vezes, familiar", acrescentou a fonte de Belém.”

Abordando o último parágrafo, vamos ao almoço pago por todos nós, portugueses. Até mesmo pelos portugueses que nem um euro têm para almoçar porque já lhes roubaram tudo e ainda lhes querem roubar mais (estamos para saber que mais).

Mas estas conversas têm sempre de ser seguidas de banquetes, jantares e almoços? E a austeridade é para quem? Quanto foi gasto no almoço? Para quantos almoços de portugueses famintos (que há cada vez mais) daria a verba gasta na opípara refeição destes topo giggios? Ou Cavaco Silva ofereceu o almoço dos seus cerca de 10 mil euros de reforma?

E estes gestores, que mamam que se fartam e que há muito foram assolados pela ganância, como Cavaco, vão ajudar Portugal em quê, a dizer bem de Portugal? Dizer bem para quê se eles são os primeiros a borrifarem-se para o país? Ah! Para captar investimentos, para conferirem “um novo impulso à dinâmica de internacionalização da economia portuguesa”. Talvez do estilo: invistam em Portugal porque as metas de esclavagismo impostas por Passos estão mais que asseguradas em pleno e os portugueses estão a adaptar-se na perfeição a trabalharem sem terem de comer, como o burro do cigano?


Diz a Lusa num dos parágrafos: "O Presidente Cavaco Silva convidou os gestores a não esquecerem o País em que nasceram e a ajudarem Portugal neste momento difícil". Cavaco esquece-se que eles nasceram em Portugal mas que a pátria deles é a do Cifrão? Foi um desperdício, no tempo. Nas palavras e, principalmente, no almoço supimpa que teria sido muito mais corretamente utilizado se Cavaco tivesse convidado umas quantas famílias carentes, uns sem-abrigo… Os que estão na miséria por causa desses tais da pátria do Cifrão.

Mas não. Cavaco dá-se bem é com os da sua laia. Os do Cifrão, os dos Números, os da Alta. Se assim não fosse deveríamos de ver Cavaco seguir um percurso de convidados para sensibilização que passaria por carenciados, por operários (que é praticamente o mesmo que carenciados), por quadros culturais, técnicos e científicos que estão no desemprego (que é praticamente o mesmo que carenciados) e… Pelos portugueses que são desta Pátria e a Pátria, porque não há Pátria sem povo. São esses nunca lhe viram costas.

Como diria o meu avô de bigode farto: “E se ele metesse os almoços para esses gajos do topo num sítio que eu cá sei?”

Porque estou com as mãos no Massa, digo, no Cavaco trago aqui uma notícia muito fresquinha: “«O diploma que sujeita os lanços e sublanços das auto-estradas SCUT do Algarve, da Beira Interior, do Interior Norte e da Beira Litoral/Beira Alta, ao regime de cobrança de taxas de portagem aos utilizadores, foi promulgado em 16 de Novembro, aguardando ainda publicação no Diário da República», lê-se numa nota divulgada no 'site' da Presidência da República.

Na sequência da notícia os utentes algarvios da comissão que contesta esta medida afirmaram que Cavaco mostrou “incoerência na decisão relativamente ao que disse anteriormente”. Desconheço o que Cavaco, algarvio de costados, disse aos seus conterrâneos mas espanta que aqueles não saibam que Cavaco diz uma coisa e faz outra. Quase sempre ele diz o que queremos ouvir mas depois faz o contrário. Já aqui referi isso mesmo por variadíssimas vezes. Não o faria se assim não constatasse.

Repare-se: Na edição de hoje, o semanário Sol afirma que «Cavaco 'bloqueia' diplomas em Belém», referindo que o Presidente da República está a atrasar «um conjunto de leis fundamentais para cumprir o calendário da 'troika', fazendo constantes perguntas e enervando o Governo». Até podemos ver isto como algo parecido com uma certa resistência ou preocupação de Cavaco em defesa dos interesses dos cidadãos… Podemos… Mas quem quer apostar que as tais “leis fundamentais” vão ser promulgadas? A notícia já saiu, não foi? Pois então isso contribui para Cavaco melhorar a imagem. E para eles isso conta. Para os portugueses é mais do mesmo, pagam e não bufam. Farsas como nunca antes imaginámos ver e sentir é o que mais vimos e levamos para a cova deste terrível período de mau presidente e governo ao serviço dos mercados da pátria dos Cifrões, para quem as pessoas não contam e só as citam em falas enganosas por demagogia.

Faltam duas rapidinhas. Cavaco nem sequer merece tanto palavreado. Mas, enfim…

A greve que ontem aconteceu foi algo de grave porque mostrou a este governo que não é desta Pátria que os portugueses estão fartos de serem mal tratados, desconsiderados, vilipendiados, escravizados, ignorados, etc. Foi grave porque a aderência foi enorme segundo várias expetativas e até as minhas, que não conto para nada mas ainda tenho o privilégio de partilhar estas linhas convosco. A gravidade está naquilo que representa abominar uma casta de Mais Sabedores que usam de todos os subterfúgios para esmiuçar os portugueses que ainda trabalham e até os que mesmo desempregados são sugados monstruosamente por impostos e alcavalas nuns parcos géneros alimentícios ou nos transportes públicos. Apesar de anémicos os portugueses têm de andar muito mais a pé, abdicar de quase tudo, das suas casas, até de penicos se acaso forem antigos, em bom estado e descobrirem um antiquário que se disponha a comprar. Dinheiro para papel higiénico também já não há. Diz-se que por esse motivo andam a faltar pedras nos passeios de Lisboa. Isso é lá com o António Costa, do PS e presidente da câmara.

Otelo do bom coração… Foi Mário Soares quem disse, sobre Otelo Saraiva de Carvalho: “Otelo tem "coração muito bom" mas "de vez em quando diz a sua asneira". O título foi retirado do Página Global mas compilado do Jornal de Notícias.

Ainda bem que Otelo tem um bom coração. Desse modo está afastada a possibilidade do Oscar de Abril falecer de ataque cardíaco quando menos se esperar. Otelo pode ter muitos defeitos, quem não os tem? Mas Otelo é uma figura incontornável de valioso contributo para o derrube da ditadura Salazar-caetanista e não vimos que lhe rendam o devido respeito e a devida homenagem. Quer a consciência de Soares proporcionar o seu a seu dono e vem daí enaltecer o valor de Oscar – nome de código de Otelo para o 25 de Abril de 1974 que “calça” com as iniciais e três letras primeiras de CARVALHO.

Ao assistirmos a atirarem-se como gato a bofe quando Otelo fala fica a sensação de que estamos mesmo a regressar a tempos idos e funestos da ditadura, agora mascarada de uma democracia de falácia que na prática vai desaparecendo. Tempos duros, tempos difíceis, tempos tomados é ante pé pelos que têm protagonizado o regresso ao passado, e Cavaco Silva é um deles. Digamos que até é um dos formadores de Passos Coelho e de outros que agora encabeçam o Bando de Mentirosos, como referiu outro homem de Abril, Vasco Lourenço.

Terminada e cumprida, mais ou menos, a proposta inicial. Três, foram a conta que deus fez. Três abordagens, para o longo porque se meteu por aqui a conversa da “pedrinha” ou da pedra no sapato para que saibamos o que são padecimentos. Não para sofrer como o mártir Jesus mas sim porque essa é vontade dos da pátria do Cifrão, dos Troikas, dos do Mercados, dos aviltantes gananciosos que vão fazendo golpe de estado sobre golpe de estado para se apoderarem dos países e dos povos, com o objetivo de escravizarem com a cumplicidade e controle de governos que induzem nos poderes que lhes servem como luvas feitas por medida. Não esperemos que apareça quem nos tire esta pedra do sapato porque somos nós próprios que temos de o fazer. Quanto mais depressa melhor. De que é que estamos à espera?

*Também publicado em Página Lusófona, blogue do autor.

GREVE GERAL REPUDIA PACOTE DE ARROCHO PARA PORTUGAL




Maurício Hashizume - De Coimbra (Portugal), especial para a Carta Maior

Trabalhadores portugueses cruzaram os braços numa greve geral contra as medidas de arrocho dotadas pelo governo. O contestado pacote prevê meia hora a mais de trabalho por dia sem aumento de remuneração, corte de salários e de subsídios de Natal e de férias para funcionários públicos, aumento de impostos, flexibilização das regras para desligamentos, entre outras medidas. Ele faz parte das contrapartidas para o socorro financeiro de € 78 bilhões da chamada troika (FMI, BC Europeu e Comissão Européia). A reportagem é de Maurício Hashizume, direto de Coimbra.

Convocados pelas maiores centrais sindicais do país, trabalhadores portugueses paralisaram atividades em greve geral e foram às ruas, nesta quinta-feira (24), para repudiar as medidas de arrocho que vêm sendo anunciadas pelo governo de direita formado pela coalizão entre o Partido Social Democrata (PSD) e o Centro Democrático Social (CDS).

O contestado pacote - que prevê meia hora a mais de trabalho por dia sem aumento de remuneração, corte de salários e de subsídios de Natal e de férias para funcionários públicos, aumento de impostos, flexibilização das regras para desligamentos, entre outras medidas – faz parte das contrapartidas para o socorro financeiro de € 78 bilhões (cerca de R$ 200 bilhões) da chamada troika, forma utilizada para denominar o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE) e a Comissão Europeia (CE), frente às agruras da dívida lusa.

Em Coimbra, as manifestações puxadas pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN) e pela União Geral de Trabalhadores (UGT) se concentraram pelo final da manhã na Praça 8 de Maio, no centro da cidade. António Moreira, coordenador da União de Sindicatos de Coimbra (USC), que faz parte da CGTP, destacou que, desde meia-noite, vinha contabilizando adesões em diversos segmentos e que a mobilização, por certo, já poderia ser considerada “uma das maiores greves gerais de Portugal”.

Moreira criticou a linha de austeridade que vem sendo seguida pelo governo lembrando que o receituário escolhido tende a manter inabalada uma gama de privilégios restritos aos mais ricos e a abalar as condições de vida da classe trabalhadora. “O dinheiro ‘poupado’ do subsídio de Natal enche os bolsos de envolvidos em casos de corrupção”, atacou. Segundo ele, analistas apoiados pela banca financeira ocupam os meios de comunicação para dizer que esse é o único caminho a ser seguido e pedem sacrifício à população. “Por que não falam da necessidade do sacrifício dos mais ricos, de quem ganha mais de € 15 mil por mês?”

O desemprego na região de Coimbra, frisou o dirigente sindical, já atinge cerca de 20 mil pessoas que integram a população economicamente ativa, dos quais 12 mil são mulheres. Estima-se que uma parcela de 45% dos que estão sem ocupação já deixaram de receber qualquer tipo de benefício social, ou seja, são desempregados de longa duração.

Foram mais de 50 piquetes no distrito. Um dos setores que contou com especial adesão, a despeito das denúncias de intimidação para que não participassem das paralisações, foi o dos transportes, que está sob ameaça de novas demissões em massa. A empresa pública Carris, por exemplo, já teve 8 mil contratados e hoje mantém um quadro de 2,7 mil.

Durante o ato, os manifestantes aprovaram uma moção “contra a exploração e o empobrecimento” e em defesa “do serviço público de qualidade e do emprego com direitos”. Realizou-se, então, uma passeata até o escritório local do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social para que representantes pudessem entregar o documento às autoridades. “Não é o fim de nada. O percurso é ainda longo”, completou Moreira.

Cartão vermelho

Como num jogo de futebol, os manifestantes que participaram da passeata da greve geral ergueram diversas vezes um cartão vermelho como símbolo da intenção de “expulsar” o governo português por conta das medidas adotadas. Antes da caminhada, o sistema de som repetiu seguidas vezes o refrão da música “Até quando? “ [Até quando você vai levando? Porrada! Porrada! Até quando vai ficar sem fazer nada?], do brasileiro Gabriel, O Pensador.

Um dos manifestantes era Mário Gomes, 53 anos, servidor público da área da saúde. Para além da “evaporação” do seu 13º salário, ele conta que terá praticamente mais um vencimento tungado porque o governo também cortou deduções anteriormente autorizadas do imposto de renda. “A indignação é grande. Comecei a trabalhar bem cedo, contribuo há décadas e estou sendo penalizado. Não deveria ser assim”.

Pelas regras anteriores ao pacote de arrocho, Gomes estaria próximo de se aposentar. Agora, deve prosseguir na labuta por mais um bom tempo. Para galgar posições no mercado de trabalho, chegou a iniciar a graduação em Psicologia, mas foi obrigado a desistir. Segundo ele, a dupla jornada como trabalhador e universitário “é simplesmente impossível” de ser mantida.

Desempregada há dois anos, a sexagenária Elsa Maria Coelho também engrossou o protesto. Para sobreviver, a moradora de uma casa abandonada recebe o Complemento Solidário para Idosos (CSI), auxílio semelhante ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) brasileiro. São pouco mais de € 100 mensais. “Portugal está cada vez pior. Estamos pior que a Grécia”, lamentou Elsa, que relatou sofrer com o alcoolismo, além de outros problemas de saúde.

Questão de meses

Esta veio a ser a terceira greve geral desde que se instalou o período democrático consolidado pela Revolução dos Cravos (1974). A primeira ocorreu em 1988, quando o governo de plantão também tentou alterar a lei laboral. A segunda se deu há exatamente um ano, em 24 de novembro de 2010, quando setores da sociedade já declaravam o seu descontentamento com relação aos rumos tomados pelo governo, naquele momento liderado pelo Partido Socialista (PS), de centro-esquerda , diante da crise. Em março deste ano, caíram os socialistas e, após os desdobramentos e entrada em cena da troika, assumiu a direita do PSD/CDS, com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho à frente como principal autoridade.

De acordo com Luís Lobo, da direção do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC) e da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), ligada à CGTP-IN, o protesto nacional liderado pelas centrais contou também com o apoio de outras agremiações sindicais independentes. E como há representantes de praticamente todos os partidos do espectro da esquerda dentro dos sindicatos, houve um suporte político bastante amplo à mobilização.

Para ele, a raiz do problema está no modelo de democracia, que não permite que a população se posicione na tomada de decisões cruciais ao país. Enquanto especuladores e investidores do setor financeiro “votam todos os dias” ao induzir a maneira de condução da crise, os cidadãos precisam se contentar em votar apenas de quatro em quatro anos.

O socorro oferecido pela troika, avalia Lobo, ajudará paradoxalmente a piorar o quadro de penúria. Na visão dele, trata-se de um modelo de atrofiamento que não incentiva o setor produtivo. Calcula-se que o poder de compra de uma família lusa média já tenha se reduzido em 20%. “Em dois anos, serão sete salários a menos”, quantifica o representante docente. Nas universidades e nas escolas politécnicas, o corte geral aplicado foi de severos 8,5%.

Especialmente para uma nação periférica da União Europeia sem grandes reservas, como é o caso de Portugal, seria preciso, conforme recomenda o sindicalista, inverter a situação: o poder de compra precisaria aumentar para impulsionar a economia. “Só no pagamento de juros até 2014, será gasto tanto ou mais que o que foi `poupado` com o corte de salários”.

“Estamos a meio ano da catástrofe. Se nada for feito, deve estourar em junho de 2012”, antevê Lobo. Será o período, frisa, em que o corte do subsídio de férias, muito utilizado para saldar as dívidas já contraídas, será mais sentido. “É impossível hoje que uma família normal de classe média consiga garantir que seu filho esteja no ensino superior”.

Crise de valores

A Fenprof, de Lobo, sustenta números bastante distintos quanto à participação dos trabalhadores da área da educação na greve geral. Balanço oficial da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP), órgão do governo, apontou que apenas 10,5% (43,6 mil funcionários) aderiram à manifestação. As centrais asseguram que foi bem mais.

Guerra de números à parte, pelo menos na Universidade de Coimbra, uma das mais tradicionais do país, não se viu grandes agitações em função da greve geral. Segundo levantamento da reitoria, a proporção dos que se uniram à paralisação foi baixa. Mesmo na manifestação que atravessou o centro da cidade, contavam-se os estudantes com facilidade.

A apatia verificada no núcleo, por excelência, de universitários dá margem para enfatizar outro aspecto associado à árdua fase pela qual passa Portugal e outras nações pressionadas pela dívida: a crise de valores. “O problema não está apenas no governo e nos governantes”, complementou o desiludido técnico da área médica, Mário Gomes, que fez questão de comparecer aos atos. “Existe uma subserviência muito grande diante do que se apresenta”, salientou. Faz lembrar, de acordo com ele, um trecho da obra (Diário XI) de Miguel Torga, que chegou a trabalhar com o tio nas lavouras de café do Brasil e se notabilizou como poeta, contista e memorialista em Coimbra: "Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo, negam-lhe tudo, e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão".

Fotos: Maurício Hashizume

TERIA HITLER FUGIDO PARA A ARGENTINA?




LUIZ ANTÓNIO MELLO – DIRETO DA REDAÇÃO

Hitler fugiu para Argentina em vez de se suicidar, retoma livro

Se um turista pedir, em Córdoba, recomendações sobre Mar Chiquita, uma lagoa de sal localizada ao norte dessa província argentina, é provável que ouça a desconcertante dica: "Conheça o Hotel Viena, que Hitler e Eva Braun visitavam depois da Segunda Guerra".

De acordo com Sylvia Colombo, da Folha de S. Paulo, Hitler e a mulher não se suicidaram num "bunker" em Berlim no dia 30 de abril de 1945? É o que dizem os livros de história. Em alguns lugares da Argentina, é comum encontrar moradores que contam histórias do casal nazista levando uma tranquila vida no então remoto sul do hemisfério. A foto do fascinora morto teria sido uma fraude.

Em "The Grey Wolf - The Escape of Adolf Hitler" (o lobo cinza - a fuga de Adolf Hitler), livro que acaba de ser lançado no Reino Unido, os britânicos Gerrard Williams e Simon Dunstan sustentam que Hitler escapou do "bunker" três dias antes de seu suposto suicídio.

Então, voou para a Dinamarca e para a Espanha, e foi embarcado, com ajuda do general Franco, num submarino com destino à Argentina. "O piloto que os tirou de Berlim, Peter Baumgart, foi internado numa clínica psiquiátrica depois de contar a história", disse Williams à Folha, por telefone.

Hitler teria se instalado em mais de uma residência na Patagônia, com Eva e duas filhas. Viveria mais 17 anos, e teria morrido no dia 13 de fevereiro de 1962, aos 72. "É horrível pensar que o homem mais cruel que já existiu não pagou por seus crimes e viveu até avançada idade. Mas já passou muito tempo, existem muitos indícios e precisamos encarar essa possibilidade como real", disse o autor.

Williams trabalhou para a agência Reuters e para a BBC. Agora, dirige o filme "Grey Wolf", que estreia no Reino Unido no ano que vem. A fuga teria sido articulada por Martin Bormann, da cúpula do poder nazista, que também teria escapado para a América do Sul.

A negociação, sustentam os pesquisadores, contou com a anuência dos EUA, que deixaram os nazistas fugirem em troca de informações sobre tecnologia de guerra. Bormann teria manejado também a fortuna que foi entregue a governos latino-americanos para que abrigassem os nazistas.

A dupla parte do princípio de que não há provas conclusivas de que Hitler morreu no "bunker". Em 2009, descobriu-se, por meio de um exame de DNA, que o famoso pedaço de crânio com uma marca de bala em poder dos russos, na verdade, pertenceu a uma mulher, e não a Hitler.

Williams e Dunstan reuniram ainda depoimentos de pessoas que dizem ter visto o Führer ou trabalhado para ele na Patagônia. Foi comum a acolhida da Argentina, assim como a do Brasil e do Paraguai, a nazistas que deixaram a Alemanha depois da derrota na Segunda Guerra.

Josef Mengele, Adolf Eichmann, Klaus Barbie e Erich Priebke são alguns dos que se refugiaram na América do Sul. Em "A Verdadeira Odessa" (Record), o historiador Uki Goñi conta como Juan Domingo Perón facilitou a vinda dos criminosos. Goñi, porém, não crê na fuga de Hitler. "Há evidências de que morreu no `bunker`. Os depoimentos sobre sua presença na Argentina são parte de uma lenda local, mas faltam provas", disse.

Williams e Dunstan têm a seu favor o testemunho do líder soviético Josef Stálin (1878-1953), que dizia após a guerra não acreditar na morte de Hitler. Também o então presidente norte-americano Eisenhower (1890-1969) apontou a falta de provas de seu suicídio.

*Jornalista, radialista, produtor musical e escritor. Trabalhou nas rádios Federal, Tupi e Jornal do Brasil. Criou, juntamente com Samuel Wainer Filho, o projeto "Maldita", na Rádio Fluminense FM. Foi colunista ainda dos jornais O Pasquim, Jornal do Brasil, Opinião, Folha de Niterói e O Estado de S. Paulo. Foi diretor de criação da Tech & Midia Comunicação Integrada, cronista dominical de O Fluminense, editor de cultura da revista Caffè Magazine e cronista do jornal International Magazine


Cabo Verde – Guiné-Bissau: José Maria Neves incentiva empresários a criar parcerias



FP - LUSA

Bissau, 26 nov (Lusa) - O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, incentivou hoje em Bissau os empresários dos dois países a criar parcerias, para assim conquistarem "espaços comerciais" no continente africano.

A entrada das empresas de Cabo Verde nos países da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e da UEMOA (União Económica e Monetária do Oeste Africano) é importante, desde que os empresários dos dois países possam estabelecer parcerias, disse à chegada à Guiné-Bissau.

"O mais importante é que haja alianças, parcerias, para que os dois países possam conquistar mais espaços comerciais aqui na região da CEDAO. E para Cabo Verde o facto de a Guiné-Bissau estar aqui no continente é também uma porta importante de entrada no espaço da CEDEAO e também no espaço da UEMOA", afirmou.

José Maria Neves, à frente de uma delegação política e empresarial, chegou hoje à Guiné-Bissau para uma visita de cinco dias. Além de três ministros e um secretário de Estado acompanham o primeiro-ministro os presidentes de várias empresas públicas e empresários do setor privado.

A visita retribui uma que Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro da Guiné-Bissau, fez a Cabo Verde há dois anos, e tem como objetivo "reforçar as relações de amizade e cooperação", disse José Maria Neves, após ter sido recebido no aeroporto de Bissau com honras militares.

Mas não só, acrescentou. "É bom que os dois governos possam aprofundar o diálogo político-diplomático, a concertação no espaço CEDEAO e noutros fóruns internacionais, mas também é importante reforçar as relações económico-empresariais, para favorecer o crescimento dos nossos dois países", e "encontrar as estradas necessárias para reforçar as relações" económicas, disse.

José Maria Neves, disse, quer ainda conversar com "a importante comunidade" de cabo-verdianos que vive na Guiné-Bissau e "reforçar as relações" entre os dois países "no domínio da melhor integração das comunidades cabo-verdianas".

De reforço das relações falou também Carlos Gomes Júnior, que à chegada do primeiro-ministro cabo-verdiano falou da esperança em que com a visita surjam "ações que possam permitir a cooperação entre a Guiné-Bissau e Cabo Verde".

"Somos um povo irmão, fizemos uma luta comum, temos laços históricos, e agora pensamos que com a crise que existe no mundo há toda uma oportunidade de reforçar a nossa cooperação e reforçar a nossa irmandade", disse Carlos Gomes Júnior.

Os dois estadistas encontram-se ainda hoje para um almoço e no domingo José Maria Neves visita Bafatá, a terra de Amílcar Cabral, independentista que criou o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde).

Moçambique: Araújo (MDM) quer livrar Quelimane da "marginalização" imposta pela FRELIMO



Luís Andrade Sá -  Lusa

Maputo, 26 nov (Lusa) - Manuel de Araújo, candidato do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) à presidência de Quelimane, centro de Moçambique, promete romper com a "marginalização sofrida pelo município em mais de 35 anos de hegemonia" da FRELIMO.

"O problema da marginalização de Quelimane começa com a própria luta armada de libertação nacional. A qualidade e quantidade dos quadros da Zambézia e de Quelimane eram uma ameaça a uma certa hegemonia do sul, houve um ressentimento contra Quelimane", diz Manuel de Araújo, docente universitário, para argumentar a sua teoria de que a cidade foi punida pelo partido no poder.

Quelimane, capital da província da Zambézia e o quarto município de Moçambique, é disputado pela FRELIMO e pelo MDM, terceira força parlamentar, nas eleições intercalares de 07 de Dezembro.

*Foto em Lusa

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