sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O futuro do português em Timor-Leste (6) - A Língua Portuguesa na Escola...




... será uma polêmica virtual?

DAVI B. DE ALBUQUERQUE* - EAST TIMOR LINGUISTICS: state of the art

O texto abaixo é a divulgação de uma comunicação, apresentada ao III SIMELP, de autoria de Nuno Almeida, intitulada Língua Portuguesa na Escola: uma polémica virtual ou Língua Portuguesa: uma ponte para o mundo.

O texto está disponível no blogue Professores de Português em Timor-Leste no link: http://profesdeptemtl.blogspot.com/2011/09/lingua-portuguesa-na-escola-uma.html, e a comunicação se encontra disponível para download no link: http://www.4shared.com/document/LkuaqOI4/LP_polemica.html.

O ponto principal da comunicação ao meu ver é a mudança de ponto de vista para se analisar certas questões linguísticas em Timor-Leste, principalmente na batalha português x inglês, muitas vezes acaba-se por esquecer e deixar de lado as línguas nativas leste-timorenses. Porém, eu discordo em relação a ausência da 'ameaça anglófona', já que constantemente nesta série de posts venho apontando isto, inclusive com outras fontes informacionais, jornalísticas, testemunhas, investigações etc. E acho que a atual proposta do Educação multilíngue baseada em língua materna estar repleta de erros, assim como a possível abolição da língua portuguesa no ensino básico, acabam por corroborar minha posição teórica.

Segue o texto:

Língua Portuguesa na Escola: uma polémica virtual  ou Língua Portuguesa: uma ponte para o mundo

por Nuno Almeida

Aqueles que têm vindo a acompanhar a reintrodução da língua portuguesa em Timor-Leste na última década já se vão habituando à crónica polémica em torno da presença desta língua naquele país, sempre acontecendo que, depois de acalmarem os ânimos, tudo segue igual. Nos últimos anos, a introdução das línguas nacionais na escola como línguas de instrução, com a consequente retirada de protagonismo ao português neste domínio, tem sido o principal fator de discórdia. Neste debate, curiosamente, a questão polémica nem sempre se coloca efetivamente na concorrência entre a LP e as línguas maternas dos alunos para a instrução nos anos iniciais de escolaridade, acabando por resvalar para a troca de argumentos em torno da existência de uma agenda oculta para a eliminação do português em Timor-Leste, a favor do inglês ou, até, do indonésio.

Considero que, observando o contexto com alguma atenção e agindo em função dele, deixa de se poder falar em concorrência linguística, podendo até pensar-se em complementaridade linguística. Assim sendo, apesar de ter reflexos práticos, esta é, na verdade, uma polémica virtual. Foi assim que a ela me referi no III SIMELP – Macau, na comunicação apresentada no simpósio dedicado a Timor-Leste, com o título Para a (re)introdução da língua portuguesa em Timor-Leste, na qual dediquei uma secção a este assunto. Visto que o texto completo demorará ainda algum tempo até ser publicado e ficar disponível para consulta, tomo a liberdade de transcrever a última parte (com pequenas adaptações textuais) para partilhar aqui no nosso blogue. Espero sinceramente contribuir para a formação de opiniões menos extremadas e mais esclarecidas, nomeadamente quanto ao papel da LP em Timor-Leste, cuja correta interpretação é, a meu ver, a chave do sucesso para o futuro do português em Timor.

*Davi B. de Albuquerque é linguista na Universidade de Brasília

Ler também:

*Todos os relacionados sobre o tema em TIMOR-LÍNGUA

China: Um ano depois do Nobel, Liu Xiaobo continua na prisão - Human Rights Watch




AC - LUSA

Pequim, 07 out (Lusa) - A organização Human Rights Watch (HRW) apelou hoje à libertação de Liu Xiaobo, lembrando que, um ano depois de lhe ter sido atribuído o Prémio Nobel da Paz, o dissidente chinês continua "injustamente preso".

"O governo chinês ficou sob observação quando presidentes e primeiros-ministros manifestaram preocupação acerca do tratamento de pessoas como Liu Xiaobo. Todos os que lhe demonstraram apoio devem pressionar para a sua libertação e para acabar com a perseguição de pessoas como ele", disse a diretora da HRW para a China, Sophie Richardson, num comunicado difundido no dia em que será a anunciado o Nobel da Paz 2011.

Antigo professor universitário e crítico literário, Liu Xiaobo, 55 anos, foi condenado em dezembro de 2009 a onze anos de prisão por "atividades subversivas". Foi a sua terceira detenção desde a sangrenta repressão do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, em junho de 1989.

Desde o anúncio da atribuição do Nobel da Paz 2010 a Liu Xiaobo, no dia 08 de outubro do ano passado, a própria mulher do dissidente, Liu Xia, ficou incontactável, numa situação de prisão domiciliária, dizem ativistas dos direitos humanos.

O silêncio oficial em torno de Liu Xiaobo foi quebrado há cerca de uma semana, por irmãos do dissidente.

"O governo chinês permitiu que irmãos de Liu divulguem a informação de que ele foi autorizado a sair brevemente da prisão no dia 18 de setembro para se avistar com familiares", refere o comunicado da Human Rights Watch, organização com sede nos Estados Unidos.

Citando também os irmãos de Liu Xiaobo, a HRW refere que Liu Xia visitou o marido na prisão em agosto.

Liu Xiaobo foi um dos promotores da "Carta 08", manifesto inspirado na Carta 77 lançada por Vaclav Havel na antiga Checoslovaquia e que defendia a introdução de reformas políticas na China, nomeadamente o fim do regime de partido único, a independência do poder judicial e a liberdade de associação.

O governo chinês rejeitou as críticas ao processo de Liu Xiaobo, considerando-as uma "ingerência grosseira nos assuntos internos da China", e qualificou a decisão tomada o ano passado pelo Comité Nobel Norueguês como "uma falta de respeito pela soberania judicial chinesa".

Novas medidas nos transportes "agradam" grupos económicos mas penalizam as famílias




ND – MLP - LUSA

Lisboa, 07 out (Lusa) - O Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos considera que a reestruturação do setor dos transportes "agrada" os grandes grupos económicos mas penaliza as famílias e o desenvolvimento económico do país.

Carlos Braga, porta-voz do Movimento, disse à Lusa que, "se se confirmar" um novo aumento do preço dos transportes públicos, será um "aumento brutal nunca verificado após o 25 de abril", pelo que terá de "ser pensada uma resposta adequada", sugerindo manifestações dos utentes "nos transportes e na rua".

O jornal Sol avançou hoje que o Governo de coligação PSD/CDS vai efetuar um "corte drástico" no setor dos transportes, incluindo a fusão de várias empresas do setor, um novo aumento de 10 por cento nos preços ainda este ano, seguido de nova atualização em janeiro. O executivo prevê a fusão da Carris com o Metro de Lisboa, da STCP com o Metro do Porto e das duas empresas de transporte fluvial em Lisboa, a Soflusa e a Transtejo.

Quanto às fusões - Carris e Metro de Lisboa; Soflusa e Transtejo; STCP e Metro do Porto -, Carlos Braga entende que se estão a "criar condições para entregar o setor público dos transportes aos grandes grupos privados", uma vez que o que se pretende é "concessionar aos privados as linhas mais rentáveis".

De acordo com o Sol, serão também desativados 450 quilómetros de linhas ferroviárias, o equivalente a cerca de 20 por cento do total das ferrovias atuais, medida que Carlos Braga considera que «vai "acentuar as assimetrias regionais", penalizando as ligações entre as regiões e a mobilidade das populações.

Para Carlos Braga, neste momento, seriam necessárias medidas que "privilegiassem o desenvolvimento económico, que criassem mais emprego e que reduzissem as dificuldades das pessoas em se deslocarem".

Pelo contrário, as medidas anunciadas no Plano Estratégico dos Transportes "vão contra os objetivos do país, que são o desenvolvimento económico, a criação de emprego e a melhoria da qualidade de vida e das condições sociais das famílias", defende.

O PET prevê também a extinção do Instituto das Infra-Estruturas Rodoviárias, do Instituto da Mobilidade e dos Transporte Terrestres e do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos que vão dar lugar a um novo organismo.

O plano determina que já este mês serão sujeitas a portagem as SCUT - vias sem custo para o utilizador e que a construção do novo aeroporto de Lisboa será adiada, transferindo-se o tráfego das companhias de baixo custo para outro aeroporto de Lisboa.

Segundo o semanário, este plano permite "salvar 17.500 postos de trabalho e reduzir o endividamento de 16,8 mil milhões do setor".

Plano estratégico dos Transportes será aprovado em Conselho de Ministros na quinta-feira




CSJ – SO - LUSA

Lisboa, 07 out (Lusa) - O Plano Estratégico dos Transportes (PET) será aprovado na quinta-feira, em Conselho de Ministros, anunciou hoje o ministro da Economia e do Emprego.

O anúncio foi feito na Comissão Parlamentar de Economia e Obras Públicas, onde o ministro Álvaro Santos Pereira está a apresentar as linhas orientadoras do PET.

Durante a audição, o ministro anunciou também a introdução de portagens em todas as SCUT até ao final do mês, a fusão de várias empresas públicas de transportes e o cancelamento e suspensão de vários troços das concessões rodoviárias, no valor de mais de mil milhões de euros.

O ESPÍRITO QUE ANDA NA CIDADE




PAULO FRANÇA – DIRETO DA REDAÇÃO, em Espaço Livre
        
O Rio de Janeiro está fervilhando de turistas e de novas obras, reformas, pontes, metrôs, prédios, hotéis. O Rio está bombando! E muitos dos visitantes querem conhecer o espírito que se apossa dos moradores. Inclusive, é comum ouvir de imigrantes com algum tempo de “casa” que eles se consideram cariocas. Que coisa estranha!

Então, os visitantes querem ser cooptados pelo espírito que circula pelas ruas, becos, vielas, sobe as montanhas, vai às praias, aos desfiles das escolas de samba, sai nos blocos de carnaval, vibra no Maracanã, vai ao trabalho e aos estudos normalmente.

Querem saber o nome desse espírito que faz o carioca ser considerado o povo mais feliz do planeta, conforme uma pesquisa mundial. Que nos protege da sórdida campanha da imprensa corporativa, com a televisão aumentando além do proporcional fatos que ocorrem em qualquer grande cidade, e nos faz ser amado pelo mundo, apesar de tudo. O Rio está sendo todo recuperado, melhorado, com novas instalações, novos museus. Tudo do bom e do melhor!

Esse espírito que anda por aqui também faz com que a cada dia os habitantes da Cidade Show se apaixonem ainda mais por ela. E está levando inúmeras pessoas, inclusive profissionais como administradores, engenheiros, advogados, jornalistas, professores, especialistas em relações internacionais e outros a lotarem os cursos formadores de guias de turismo.

E o que move muitas dessas pessoas não é o ganho financeiro trazido pelas multidões para a Copa, Olimpíada, nova visita do Papa, já que a maioria tem suas atividades profissionais consolidadas. É a oportunidade de atuarem como orgulhosos Embaixadores do Rio. Até porque essa já foi mesmo uma atividade diplomática formal.

Há guias de turismo de diversas nacionalidades, de crescente profissionalismo. Eles amam a cidade e enchem a boca para elogiar as belezas naturais, como a praia mais famosa do planeta, a maior floresta urbana do mundo, o belo Pão de Açúcar, a Baía de Guanabara com céu de diamante. Também se fartam com os atrativos construídos, entre elas o Cristo Redentor (que participa de campanhas cívicas), museus e igrejas, as obras de Niemeyer, os palácios da Belle Époque carioca, os jardins de Graziou e de Burle Marx, os chafarizes e estátuas de Mestre Valentim, um filho de escrava por quem o rei tinha grande conta e respeito. A Cidade Show tem seus guias pela Natureza, subindo montanhas, descendo rios, percorrendo trilhas.

A cada mês chegam mais e mais visitantes, fazendo com que o Rio esteja com 90% de ocupação da rede hoteleira ao longo do ano. O bilionário Eike Batista está reformando o Hotel Glória para ser um dos dois únicos Seis Estrelas do planeta. Vêm pessoas comuns, celebridades, reis, rainhas, príncipes e princesas europeus. Alguns “embaixadores” até formaram uma Corte Real fictícia entre eles, com duquesas, marquesas, condes e altezas em geral, demonstrando o enorme apreço que têm pelo profundo legado que a Família Real deixou ao Rio.

Os visitantes desejam encontrar o espírito que anda pela cidade. Por isso, vão às praias, aos shows noturnos no Centro, aos bares da Lapa, passeiam no bondinho de Santa Tereza, usam havaianas, bebem cerveja e caipirinha com os cariocas, arriscam gingados na cadência do samba.

Mas é preciso tempo de “casa” para ser tomado pelo espírito. Só então vão descobrir porque o carioca é o povo mais feliz do planeta! Aí, sim, vão descobrir o nome desse espírito que anda pelo Rio de Janeiro, a Cidade Show.

*Paulo França é jornalista, especialista em História Contemporânea, em Política e Estratégia e um orgulhoso “Embaixador do Rio”.

ENCONTRO ENTRE DILMA ROUSSEFF E PRIMEIRO MINISTRO TURCO É CANCELADO




FYRO - LUSA

Rio de Janeiro, 07 out (Lusa) - O encontro previsto para este sábado entre a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, foi cancelado devido à morte da mãe do político turco, segundo informações do governo brasileiro.

A Turquia foi o último país por onde a Presidente brasileira passou, após uma viagem internacional que incluiu Bulgária e Bélgica.

Rousseff cumpria agenda fora do país desde segunda-feira, quando participou, em Bruxelas, da V Cimeira Brasil/União Europeia.

Hoje, a Presidente esteve em Ancara, onde falou durante o encerramento do Fórum Empresarial Brasil-Turquia e se reuniu com o Presidente turco, Abdullah Gül.

Rousseff manteve a deslocação a Istambul, onde estava previsto o encontro com o primeiro-ministro Tayyip, mas cumprirá apenas compromissos pessoais.

Dilma Rousseff viaja de volta ao Brasil no sábado à noite.

*Foto Roberto Stuckert Filho/PR

Cabo Verde: Orçamento do Estado reflete crise internacional e preocupações sociais




SIC NOTÍCIAS - LUSA

Cidade da Praia, 07 out (Lusa) - O Governo de Cabo Verde aprovou o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2012, documento que reflete a crise económica internacional, reduz a despesa, privilegia as áreas sociais e mantém o programa de investimentos públicos.

Aprovado quinta-feira em Conselho de Ministros, o OGE foi apresentado hoje pela ministra das Finanças cabo-verdiana, Cristina Duarte, e conta com despesas de 57,1 milhões de contos (517,8 milhões de euros - menos 3,75 por cento do que o de 2011).

Do lado das receitas, o OGE conta com 40,7 milhões de contos (369,1 milhões de euros - menos 7,5 por cento do que o deste ano), tendo Cristina Duarte garantido que o défice de cobertura, de 9,8 por cento, correspondente a 16,4 milhões de contos (148,7 milhões de euros), está totalmente assegurado por fundos concessionais.

*Foto em Lusa

Dois suspeitos do triplo homicídio de família portuguesa constituídos arguidos e encarcerados




LUSA

Vereeniging, África do Sul, 07 Out (Lusa) -- Os dois suspeitos do triplo homicídio de uma família portuguesa nas imediações de Joanesburgo foram hoje constituídos arguidos por um juiz da comarca de Vereeniging.

Os dois vão ficar a aguardar julgamento na prisão, por ordem do tribunal, enquanto a polícia prossegue as buscas por um terceiro suspeito, que fontes ligadas ao processo descrevem como "o mais perigoso dos três", e que está a monte desde sábado passado, quando António Viana, de 50 anos, a sua mulher Geraldine, de 46 e o filho Amaro, de 13 anos, foram assassinados.

Um dos dois detidos hoje presentes a tribunal é filho de uma empregada do casal assassinado. Ambos foram acusados de três homicídios, violação, furto de viatura e assalto a residência.

Protesto contra a não atribuição do Nobel da Paz ao presidente José Eduardo dos Santos!!




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

O Comité Nobel norueguês anunciou como Nobel da Paz 2011 as liberianas Ellen Johnson Sirleaf, Leymah Gbowee e iemenita Tawakkul Karman.

Ainda não foi desta que o sumo pontífice do MPLA e do regime angolano, presidente há 32 anos, foi escolhido. É um erro grave, atentatório da obra feita por José Eduardo dos Santos. Nada, contudo, que o Comité Nobel não possa corrigir um dia destes…

O Comité Nobel Norueguês distinguiu o trabalho das laureadas pela luta pacífica em nome dos direitos das mulheres. "Não podemos conseguir a democracia e a paz duradoura no Mundo a menos que as mulheres tenham as mesmas oportunidades do que os homens", assinalou o Comité, em comunicado.

Se este (direitos das mulheres, democracia e paz) era um critério basilar, aceito que não tivesse sido atribuído a Eduardo dos Santos que, reconheçamos, só preenchia dois dos três critérios. Poderia, no entanto, ser substituído pela sua filha, Isabel, que não só preenche esses três itens como muitos outros.

Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher a ser eleita presidente em África, cargo no qual "tem contribuído para a paz na Libéria, para a promoção do desenvolvimento económico e social e para reforçar a posição das mulheres".

Afinal, para além de ter sido a primeira mulher… foi eleita. É obra. Nada, todavia, que ofusque o brilhantismo de Eduardo dos Santos que consegue ser presidente há 32 anos, sem nunca ter sido eleito.

A liberiana Leymah Gbowee conseguiu "mobilizar e organizar as mulheres de etnias e religiões diferentes a fim de conseguir acabar com a guerra na Libéria e garantir a sua participação nas eleições".

Neste aspecto, Eduardo dos Santos seria bem mais merecedor. Acabou com a guerra, conseguiu que em alguns círculos eleitorais votassem mais de 100 por cento dos eleitores e, como prova da democraticidade do regime, até teve engenho e arte para pôr os mortos a votar.

Já Tawakkul Karman liderou movimentos de luta pelos direitos das mulheres e pela democracia e paz no Iémen, antes e durante a "Primavera Árabe".

Eduardo dos Santos fez muito mais do que isso. Também liderou os direitos das mulheres… do MPLA e conseguiu – o que não deveria ser despiciendo para o Comité Nobel – que durante a guerra civil os seus militares usassem balas inteligentes que só matavam o inimigo, poupando os civis…

Entre as figuras internacionais distinguidas em anos recentes constam Barack Obama (2009), a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e o então director Mohamed ElBaradei (2005), Wangari Maathai (2004), Kofi Annan (2001), Ximenes Belo e José Ramos-Horta (1996) e Nelson Mandela e Frederik Klerk (1993).

Apenas duas entidades foram distinguidas mais que uma vez: o Comité Internacional da Cruz Vermelha (1917, 1944, 1963) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (1954 e 1981).

O prémio foi repartido apenas uma vez por três pessoas: Yasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin, em 1994.

O Comité Nobel norueguês é composto por cinco membros designados pelo Storting (o Parlamento norueguês).

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado

Angola: MUNICIPALIZAÇÃO DA SAÚDE GARANTE MELHOR ASSISTÊNCIA




LINO VIEIRA – ALÍRIA SILVA – JORNAL DE ANGOLA

O ministro da Saúde, José Van-Dúnem, defendeu ontem, no Luena, província do Moxico, a municipalização dos serviços de Saúde como ponto de partida para os desafios do Executivo para o sector.

José Van-Dúnem, que presidia à cerimónia de abertura do conselho consultivo ordinário do Ministério da Saúde, reconheceu que o sucesso do sector a nível nacional é o resultado do sucesso alcançado em cada município e província. Pediu aos responsáveis do sector uma reflexão sobre a importância do cidadão, da família e da comunidade nos esforços de garantia de saúde melhor.

O Ministério da Saúde, segundo o ministro José Van-Dúnem, vai fazer uma avaliação dos compromissos estabelecidos pelo programa do Executivo para o sector da saúde. José Van-Dúnem reconheceu que o conselho consultivo se realiza num momento em que muitos desafios se esperam do sector, em função das expectativas do cidadão.

O governador do Moxico, João Ernesto dos Santos, na sua intervenção de abertura, disse acreditar que os temas a serem abordados no encontro sejam uma “mola impulsionadora” no estabelecimento de metas e prioridades na execução dos programas traçados pelo Ministério da Saúde.

No primeiro dia do encontro, que decorre sob o lema “Agir local para mais e melhor saúde”, foram discutidos temas como “Prioridades e perspectivas do sector, bases para o programa executivo do sector 2012-2017”, “Direito à saúde, um direito constitucional”, “Revisão da Lei de Base sobre o regulamento das unidades sanitárias”, entre outros.

Para hoje, segundo e último dia, o programa de trabalhos reserva a apresentação do tema “Plano de desconcentração e descentralização administrativa, facto e perspectivas no âmbito do desenvolvimento da administração do território”, “Municipalização dos serviços de saúde como factor impulsionador no desenvolvimento do sistema nacional de Saúde”, bem como “A importância do desenvolvimento sustentável”.

Deve ser ainda avaliado o grau de cumprimento das recomendações e conclusões do último conselho consultivo e o Plano de desenvolvimento dos recursos humanos. No encontro, os participantes devem ser informados sobre a municipalização dos serviços de saúde de Benguela e do Moxico.       

EMBAIXADOR PORTUGUÊS QUER REFORÇADOS INVESTIMENTOS LUSOS EM ANGOLA




GRACIETE MAYER – JORNAL DE ANGOLA

O embaixador de Portugal em Angola, Francisco Ribeiro Telles desafiou ontem, em Luanda, os empresários portugueses a reforçarem e ampliarem os investimentos no interior do país, com o objectivo de se reduzirem as grandes assimetrias que ainda se regista entre a capital e as demais regiões.

O diplomata, que falava durante a abertura do II encontro luso-angolano sobre Economia, Sociologia, Ambiente e Desenvolvimento Rural, disse que os sectores da agricultura, mineralogia, energia e indústria transformadora devem ser a principal aposta dos empresários portugueses em Angola.

Na sua opinião, as relações entre Angola e Portugal são excelentes a todos os níveis, principalmente na área económica. “Precisamos de fortalecer cada vez mais estas relações porque no ano passado se registou um certo abrandamento nos investimentos entre os dois países.” Alias, o investimento directo de Angola em Portugal caiu dos 116 milhões de euros apurados em 2009 para 45 milhões em 2010. Em Portugal, Angola investe sobretudo na área de intermediação monetária e em outras actividades. Quanto ao investimento directo português em Angola se contraiu de 2009 para 2010, atingindo os 226,7 milhões euros.

Entretanto, a reitora da Universidade Metodista de Angola, Teresa da Silva Neto, disse, na ocasião, que a necessidade de criar iniciativas que promovam o desenvolvimento rural e conduzam a uma estratégia de desenvolvimento sustentável no eixo agro-industrial é uma das apostas da sua instituição. Na sua visão, este evento encontrará formas eficazes de cooperação e pereceria entre as instituições pública e privadas de Angola e Portugal, tal como a oportunidade e aprofundamento de laços entre as comunidades académicas de ambos os países.

Ainda assim, pretende-se estreitar e fortalecer o relacionamento entre Angola e Portugal no interesse comum dos povos em relação ao desenvolvimento sustentável, no qual a agricultura desempenha um papel determinante.

Na manhã de ontem foram abordados temas relacionados com o desenvolvimento rural, importância da produção de café na sustentabilidade da agricultura, desenvolvimento de políticas agrícolas e sustentabilidade do ambiente  e globalização, e a agricultura e desenvolvimento sustentável na economia angolana. 

Moçambique: PR GUEBUZA DEFENDE “MAIOR RIGOR” NA FISCALIZAÇÃO DA LEI DA TERRA




ANGOLA PRESS

Maputo - O presidente da FRELIMO, partido no poder em Moçambique, e chefe de Estado, Armando Guebuza, defendeu hoje "um maior rigor" na fiscalização da lei de terra do país, para permitir um maior acesso dos moçambicanos aos recursos naturais, anunciou a Agência Lusa. 

Armando Guebuza realçou a importância de os moçambicanos assumirem a "liderança" na exploração dos recursos naturais do país, quando falava na abertura da Conferência Nacional de Quadros da FRELIMO, partido no poder em Moçambique. 

Lembrando que a luta contra o colonialismo português, que culminou com a independência do país em 1975, visava "libertar a terra e os homens", Armando Guebuza enfatizou que o acesso à terra por parte da maioria da população moçambicana é fundamental para o combate à pobreza. 

"Libertar a terra e os homens significa que a terra deve ser um dos recursos fundamentais para a libertação do homem moçambicano da pobreza, um dos fatores para um desenvolvimento endógeno", sublinhou Armando Guebuza.

Para o chefe de Estado moçambicano, a posse da terra vai assegurar que os moçambicanos colham os benefícios dos enormes recursos naturais de que o país dispõe e saiam da situação de pobreza em que se encontram. 

"É necessário aprimorar e dotar as instituições do Estado com capacidade para fazer cumprir a legislação sobre a terra, ao mesmo tempo que continuamos a mobilizar investimento público e privado para o aproveitamento dos recursos naturais do país", afirmou Armando Guebuza. 

"Que os investidores estrangeiros sintam que vale a pena investir em Moçambique, mas os moçambicanos devem sentir que beneficiam dos seus recursos", sublinhou Armando Guebuza. 

A tónica do discurso do Presidente da FRELIMO em relação aos recursos naturais do país é aparentemente uma resposta à crescente preocupação de várias correntes em relação aos benefícios fiscais que o Governo concede às multinacionais envolvidas na exploração de recursos naturais no país.

A Conferência Nacional de Quadros da FRELIMO, que termina no próximo domingo, vai discutir as teses ao X Congresso do partido, agendado para 23 a 28 de setembro próximo em Pemba, capital da província de Cabo Delgado.

No congresso, o partido no poder vai eleger o seu candidato às presidenciais de 2014, uma vez que Armando Guebuza atinge nesse ano o limite de dois anos de mandato permitidos pela Constituição moçambicana.

*Foto em Lusa

CAN 2012: JOGO CONTRA ANGOLA AGITA GUINÉ-BISSAU





A seleção angolana alimenta ainda o sonho de chegar à CAN'2012, enquanto a equipa guineense já está fora da corrida.

O jogo de futebol entre a Guiné-Bissau e Angola, a realizar no sábado em Bissau, está a provocar uma autêntica festa lusófona com a capital guineense em festa, com música, bandeiras e cachecóis dos dois países.

A festa já se fazia notar nos últimos dias mas aumentou de intensidade com a chegada a Bissau, na quinta-feira a tarde, da seleção angolana.

Bandeiras, camisolas, bonés, cachecóis e muita música em carrinhas de caixa aberta, com jovens aos magotes - tudo se vê nas ruas de Bissau, no apoio às duas seleções que se defrontam sábado no Estádio Lino Correia.

Quando chegou ao aeroporto de Bissau, a seleção angolana foi recebida por cerca de 200 adeptos, na maioria elementos da Missang (Missão Angolana de Apoio a reforma do setor da defesa e segurança da Guiné-Bissau).

Os soldados e polícias da Missang e os funcionários da embaixada e os respetivos familiares são desta forma grande massa de apoio de Angola no confronto com a Guiné-Bissau, decisivo para os ‘Palancas Negras’, que ainda têm o sonho de se qualificarem para o Campeonato Africano das Nações de 2012.

A Angola valerá apenas uma vitória e ainda o desaire do Uganda no jogo contra o Quénia para se qualificar diretamente para o CAN que se realiza no Gabão e na Guiné Equatorial.

Para animar ainda mais a festa lusófona, o artista cabo-verdiano, Gaby Fernandes, do grupo Irmãos Verdades, baseado em Portugal, foi convidado por uma empresa para realizar vários espetáculos em Bissau e em Gabu, no leste da Guiné-Bissau.

O primeiro espetáculo de Gaby Fernandes acontece no sábado, logo a seguir ao jogo Guiné-Bissau-Angola.

A seleção da Guiné-Bissau, treinada pelo português Luís Norton de Matos, já não tem qualquer hipótese de se qualificar para o CAN2012, pelo que o jogo contra Angola serve apenas para cumprir calendário, mas os guineenses dizem que querem terminar a sua participação nas eliminatórias com aquela que poderá ser a sua segunda vitoria.

Dos sete jogos realizados no âmbito do grupo J do apuramento para o CAN, a Guiné-Bissau apenas ganhou uma vez, contra o Quénia, na primeira partida, tendo perdido todos os outros jogos.

*Foto em Lusa

NOBEL DA PAZ É “PARA MULHERES AFRICANAS” EM PARTICULAR - Leymah Gbowee




PAULA ALMEIDA - LUSA

Lagos, Nigéria, 07 out (Lusa) -- A liberiana Leymah Gbowee, que hoje recebeu o prémio com mais duas premiadas, considerou que a distinção é «para as mulheres africanas», num contacto telefónico a partir de Nova Iorque com a agência France Presse.

"É um Nobel para as mulheres africanas, é assim que o descrevo. É para as mulheres em geral, mas em particular para as mulheres em África", declarou.

Além da pacifista Leyman Gbowee, a Presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, e a jornalista e ativista iemenita Tawakkul Karman ganharam o prémio Nobel da paz 2011.

*Foto EPA

Ellen Johson-Sirleaf é símbolo de coragem da mulher africana -- Fórum Mulher de Moçambique




HYC - LUSA

Maputo, 07 out (Lusa) - A escolha de Ellen Johnson-Sirleaf para Prémio Nobel da Paz 2011 é um encorajamento às mulheres africanas na luta pelos seus direitos, considerou o Fórum Mulher, uma congregação de organizações dos direitos da mulher em Moçambique.

A Presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf, a primeira e até ao momento única mulher a ser eleita para a chefia de um Estado em África, a sua compatriota Leymah Gbowee e a iemenita Tawakkul Karman foram hoje distinguidas com o Prémio Nobel da Paz 2011 pelo seu papel na luta pacífica em defesa da segurança das mulheres e dos direitos das mulheres na participação total no trabalho de construção da paz.

Comentando a distinção das três mulheres, a coordenadora do programa sobre direito sexual e reprodutivo no Fórum Mulher, Maira Domingos, disse que o prémio traduz o reconhecimento da confiança da mulher africana na luta pelos seus direitos.

"A figura da Ellen Johnson-Sirleaf representa para as mulheres africanas confiança, coragem e auto-estima, para a sua libertação", afirmou Maira Domingos.

Haiti: “ABA MINUSTAH”




Marina Amaral e Natalia Viana, Agência PúblicaOutras Palavras com Outras Mídias

Às vésperas de mais uma renovação da permanência da missão de paz, manifestantes pedem a saída das tropas da ONU comandadas pelo Brasil; documentos do Wikileaks confirmam rumores sobre golpe contra Aristide

Três soldados uniformizados seguram com força um rapaz moreno sobre um colchão. Com os braços torcidos por trás das costas, ele recebe um soco e tem sua calça abaixada entre as risadas estridentes do grupo. Um quarto soldado, de pé e sem camisa, abre a braguilha da sua calça camuflada e aproxima o seu pênis do menino, deitado de costas. Ele faz uma expressão de terror; pouco depois, os soldados o soltam, ainda entre gargalhadas.

O vídeo que expõe a tortura e suposto estupro do jovem haitiano por parte de quatro soldados uruguaios, integrantes da força da ONU no Haiti (MINUSTAH), vazou no começo de setembro pela internet, provocando comoção nacional.  O presidente Michel Martelly, condenou veementemente o ato que “revoltou a consciência da nação’, e a porta-voz da missão de paz, Eliane Nabaa, expressou a preocupação de que o “lamentável” episódio possa “impactar nossa relação com os haitianos”. O ministro brasileiro da Defesa, Celso Amorim, ressalvou: “Não se pode contaminar toda a missão de paz por um episódio específico”.

Para a maioria da população haitiana, porém, o humilhante vídeo é apenas mais um motivo de revolta contra a missão militar da ONU, há tempo demais no país. Enquanto a discussão segue a passos lentos da ONU – na semana passada, o secretário-geral Ban Ki-Moon recomendou a redução de 12 mil soldados e policiais para cerca de 9 mil, voltando à quantidade anterior ao terremoto de 2010, mas uma decisão só vai sair em outubro – as ruas de Porto Príncipe têm sido palco de vigorosos protestos que são difíceis de ignorar.

No dia 14 de setembro deste ano, um protesto contra a presença das tropas da ONU teve início em frente à base militar comandada pelo Brasil em Bel Air. Os cerca de 400 manifestantes que pediam o fim da Minustah foram até a frente do Palácio Presidencial foram  dispersados por diversas bombas de gás lacrimogêneo atiradas pela Polícia Nacional Haitiana (PNH). (FOTOS: ANSEL HERZ)

Outros protestos estão sendo articulados para as próximas semanas.

Na última sexta-feira, falando na ONU, Martelly afirmou sobre os protestos: “Muita gente está fazendo política, pedindo a saída da Minustah porque eles querem criar instabilidade. A Minustah só pode sair quando houver uma alternativa”.

Porém, muito antes do assombro causado pelo vídeo, já era comum ver pelas ruas de Porto Príncipe pichações com os dizeres “abaixo a Minustah” ou “abaixo a ocupação”; e a população se referia desdenhosamente à força comandada pelos brasileiros, apelidada de “pepe blanc”, ou “estrangeiros de segunda mão” – em referência à etnia das tropas composta por nove países latino-americanos, quatro países asiáticos, além das Filipinas e Jordânia, que se juntaram aos “estrangeiros de primeira mão” – Canadá, Estados Unidos e França.

Depois de sete anos no Haiti, com a participação de mais de 13 mil soldados brasileiros, 1 bilhão de reais de gastos do governo, o sentimento dos haitianos é bem diferente do entusiasmo demonstrado no jogo da seleção do Brasil, em agosto de 2004, o marco midiático da missão.“A verdade é que, em geral, a Minustah é vista como uma força de ocupação”, diz Michèle Montas, jornalista haitiana que foi porta-voz do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.

Uma das promessas de campanha de Martelly, eleito no início desse ano, foi a retirada das forças da ONU no país. Cinco meses depois da posse, porém, o presidente haitiano ainda não conseguiu nem montar o governo – dois nomes propostos para primeiro-ministro foram rechaçados pelo parlamento –, que dirá mandar as tropas embora.

O ministro da Defesa, Celso Amorim, antes de assumir a pasta, também afirmou em um programa de TV que “não fazia sentido” manter as tropas brasileiras no país. Recentemente, já como ministro da Defesa, ponderou: “Não podemos ter uma saída desorganizada que gere uma situação de caos”.

O início de tudo: circunstâncias nebulosas

A ocupação da ONU no Haiti começou assim que o avião militar americano partiu na madrugada de 29 de fevereiro de 2004 levando o presidente Jean-Bertrand Aristide em direção ao exílio. Desestabilizado por meses de greves e protestos, que degeneraram em rebelião armada, Aristide assinou a carta de renúncia em uma reunião, na noite do dia 28,  com representantes diplomáticos da França e dos Estados Unidos.

Até hoje não se sabe exatamente o que aconteceu nesse encontro.

Três dias depois, em uma comunicação por celular de Bangui, a capital da República Centro-Africana, a um amigo em Washington, Aristide afirmou ter sido forçado a renunciar e a deixar o país, “sequestrado por soldados americanos armados”, o que contribuiu, desde o começo, para o ceticismo da população em relação as forças da ONU no país.

O desfile vitorioso dos rebeldes em Porto Príncipe, “vestindo uniformes novos, bem armados e equipados”, também despertou, além de aplausos, desconfiança, como relata um integrante de uma respeitada organização humanitária, que presenciou o espetáculo. “Acho um insulto à nossa inteligência os Estados Unidos dizerem que não sabiam de nada, enquanto os rebeldes treinavam do lado  dominicano da fronteira, encostado em Miami”, diz o observador.

O contingente da Força Multinacional Provisória (Multinational Interim Force – MIF), formado por franceses, americanos e chilenos chegou na capital haitiana logo depois dos rebeldes. A criação da MIF pela resolução 1529 foi aprovada no mesmo dia 29, assim que o Conselho de Segurança, do qual o Brasil participava como membro provisório, recebeu uma cópia da carta de renúncia de Aristide do Representante Permanente do Haiti junto às Nações Unidas.

Horas depois de entrar em Porto Príncipe, as tropas da MIF já dividiam o controle militar do país – os americanos ficaram com as favelas e os franceses no alto do morro, nas áreas mais ricas, que abrigavam as famílias franco-haitianas. “Os franceses andavam sem capacete, com camisas de mangas enroladas, e os americanos com blindados, capacetes, atirando muito, mas sempre para cima. Dois dias depois, os chimères (defensores armados de Aristide) desapareceram”, conta a mesma testemunha.

O embaixador americano protesta

Do lado civil, os preparativos para a deposição de Aristide começaram antes, como comprovam documentos, entre eles um relatório interno da USAID de julho de 2002 obtido pelo repórter Joshua Kurlantzick,  da  revista americana Mother Jones.

Nele, o então embaixador americano no Haiti, Brian Dean Curran, faz um protesto formal contra Lucas Stanley, coordenador do IRI – International Republican Institute – no Haiti.

Durante os anos de 2002 e 2003, o IRI, ligado ao Partido Republicano dos EUA e financiado pela USAID, ministrou “cursos de treinamento político” para 600 líderes da oposição haitiana na República Dominicana, o que configuraria ingerência na política interna do país, proibida pelas regras da agência de desenvolvimento americano.

Investigado pelo Congresso dos Estados Unidos, o IRI foi acusado de estar por trás de duas organizações que conspiraram para derrubar Aristide: o Grupo 184 – coalizão de 184 ONGs, capitaneada por André Apaid, empresário que participou do primeiro golpe contra Aristide, em 1991; e a Convergence Démocratique, frente oposicionista formada em 2000 por diversas facções da elite do país.

Segundo a imprensa haitiana, os líderes da oposição eram responsáveis pela ligação das forças estrangeiras com os rebeldes armados, liderados pelos ex-militares do exército (dissolvido por Aristide em seu primeiro mandato, em 1994, depois de sofrer um golpe militar).

A rebelião ganhou corpo com a violência da política haitiana na repressão aos protestos e as ações criminosas dos chimères (“matadores” em créole), fortalendo os clamores da oposição por intervenção internacional. Em 16 de janeiro de 2004, o grupo 184
promoveu uma grande manifestação diante dos escritórios da ONU com essa reivindicação.

Como disse o embaixador Curran,  em seu discurso de despedida na Câmara de Comércio Haitiana, ainda em 2003: “Muitos no Haiti, em vez de me ouvir, preferem ouvir seus amigos em Washington”. E acrescentou: “Eu os chamo de chimères de Washington”. Curran, diplomata de carreira, sempre se opôs à derrubada de Aristide.

Uma rosa é uma rosa

Os documentos diplomáticos publicados integralmente pelo Wikileaks na semana passada também revelam o desejo americano de reorganizar o Haiti sem Aristide.

Embora apenas cinco desses telegramas com informações relevantes sobre o Haiti sejam anteriores à queda, eles mostram que os EUA estavam sondando os países caribenhos, e até o Vaticano, sobre essa possibilidade, afastada por todos pelo grande apoio popular de que ainda desfrutava Aristide. Um bom exemplo é o telegrama de 17 de abril de 2003, em que o primeiro-ministro das Bahamas mostra-se “pouco disposto” a pressionar Aristide.

A partir de 31 de janeiro de 2004, porém, enquanto o Caricom – Comunidade do Caribe – negociava com Aristide um plano de estabilização – e a crise se agravava -, os telegramas passam a refletir a preocupação crescente dos países do Caribe com a possibilidade de uma imigração em massa dos haitianos, compartilhada com os Estados Unidos, como revelam os títulos: Um ansioso primeiro-ministro solicita encontro sobre Haiti “, “Governo das Bahamas busca apoio para convocar Conselho de Segurança sobre o Haiti”.

O pragmatismo atingiu o auge após a queda de Aristide, seguida por uma manifestação pública do Caricom questionando as circunstâncias da renúncia.

Um telegrama de 9 de março de 2004, relata o encontro em Nassau entre o embaixador americano e o embaixador das Bahamas no Haiti, Eugene Newry. Segundo o representante dos Estados Unidos, Newry confirmou que houve “irritação “ no Caricom pelo fato de o órgão não ter sido consultado “sobre a saída repentina de Aristide”, mas afirmou que os governos caribenhos estavam satisfeitos com as medidas adotadas pelos Estados Unidos e França na constituição do governo provisório.

E afirmou: “Uma rosa, ainda que com outro nome, será sempre uma rosa. Deixo aos historiadores a tarefa de descobrir exatamente o que aconteceu na noite que Aristide voou do Haiti”.

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ANDRÉ DAMON - WSWS

No início do mês, o World Socialist Web Site informou que operários estão sendo contratados por US$ 12 a hora na planta da Volkswagen em Chattanooga, Tennessee, e que a BMW abriu uma nova linha de montagem em Spartanburg, Carolina do Sul, onde emprega principalmente trabalhadores temporários a US$ 15 a hora.

Esses salários, entre os mais baixos pagos a metalúrgicos de qualquer parte do mundo desenvolvido, são resultado de um ataque implacável contra os padrões de vida dos trabalhadores americanos durante as últimas três décadas. Esse ataque atingiu novos patamares desde que a crise financeira irrompeu em 2008.

Com o pleno apoio da administração Obama, corporações de dentro e fora dos EUA estão explorando níveis de desemprego e pobreza que encontram precedentes somente na Grande Depressão para transformar os EUA numa plataforma de força de trabalho barata, que possa competir diretamente com México, China, e outros países.

O Tennessee, assim como quase metade dos estados dos EUA, tem uma taxa de desemprego em torno de 10%, e sua verdadeira taxa de desemprego é provavelmente o dobro. Quando a Volkswagen começou a aceitar candidatos para 1.700 vagas de emprego em Chattanooga, recebeu 65 mil aplicantes nas primeiras três semanas. Ao cortar os custos da mão de obra em ao menos um terço na sua fábrica americana, a Volkswagen é capaz de vender carros por US$ 7.000 menos do que modelos comparáveis fabricados na Alemanha.

Com a ajuda do dólar em desvalorização, a diferença salarial entre os trabalhadores americanos e suas contrapartes brutalmente exploradas no México e na Ásia está sendo rapidamente reduzida. Questionado por um colunista do New York Times sobre por que a Siemens escolheu construir uma nova fábrica em Charlotte, Carolina do Norte, em vez da China, um porta-voz disse que, para trabalho altamente qualificado, o diferencial de custo da mão de obra não era grande. “Para este tipo de fabricação”, disse, “os EUA podem competir com a China”.

A redução dos salários é um componente central do plano da administração Obama de dobrar as exportações dos EUA até 2015. Sem fazer nada para atenuar a crise de desemprego, a administração encabeçou a iniciativa dos cortes salariais durante as falências forçadas e a restruturação da General Motors e da Chrysler em 2009.

Se apoiando na ameaça de liquidação, a Casa Branca exigiu a implementação ampliada de salários de fome por toda a indústria, tirou dos trabalhadores o direito de greve e demandou que as fábricas não sindicalizadas no Sul, operadas por fabricantes asiáticos e europeus, se tornassem a nova referência de custos da força de trabalho. Isso resultou num boom de lucros para os fabricantes automotivos baseados nos EUA, que, por sua vez, se recusavam a oferecer qualquer aumento salarial para os trabalhadores, enquanto distribuíam dezenas de milhões de dólares em bônus para executivos.

Longe de defender os interesses dos trabalhadores, a central sindical United Auto Workers (UAW, sigla em inglês) facilitou o rebaixamento sistemático dos salários. O acordo recentemente assinado pela UAW aumentará os custos horários da mão de obra da GM em apenas 1% ao ano, a menor taxa nas últimas quatro décadas. Isso inclui planos para expandir rapidamente o número de trabalhadores cujo salário de US$ 15 a hora os coloca no mesmo patamar dos operários da planta da Volkswagen em Chattanooga.

Por décadas, a UAW e outros sindicatos bradaram que os trabalhadores em países de baixo salário “roubavam empregos americanos”. Agora o presidente da UAW, Bob King, propagandeia que a GM redirecionou a produção de plantas mexicanas de volta para fábricas representadas pela UAW no Michigan e outros estados.

O parâmetro salarial baixo estabelecido pelo UAW desencadeou uma competição para rebaixar os salários por toda a indústria automotiva global. Trabalhadores europeus agora estão sendo informados que precisarão aceitar concessões salariais como as americanas assim como “flexibilidade trabalhista”, do contrário, suas fábricas serão fechadas. Como o WSWS observou no início do mês, no mesmo ano em que a BMW anunciou que iria transferir a produção de seu utilitário esportivo X3 para Spartanburg, Carolina do Sul, anunciou também 5 mil demissões na Alemanha.

O severo declínio nos padrões de vida dos trabalhadores metalúrgicos é particularmente significativo porque eles são historicamente os trabalhadores industriais mais bem pagos dos EUA, recebendo assim-chamados salários de “classe média”. Mas a experiência de destruir os salários e as condições de trabalho é comum a todo setor da classe trabalhadora no que se tornou o “novo normal” na América.

Desde o início do mergulho econômico, os salários estão em queda livre, e não há qualquer perspectiva de recuperação no mercado de empregos. De acordo com um relatório de censo divulgado no início do mês, a renda média real do lar americano caiu 2,3% (US$ 1.154) no ano passado e 7,1% abaixo da taxa atingida uma década antes. Trabalhadores jovens foram fortemente atingidos, com mais de um terço dos lares encabeçados por um pai de menos de 30 anos vivendo na pobreza em 2010.

Essas condições intoleráveis só podem ser revertidas através da resistência coletiva da classe trabalhadora. Novas organizações de luta, independentes do UAW e outras organizações anti-trabalhistas, precisam ser construídas como pontas de lança de uma luta industrial e política de todos os setores da classe trabalhadora - sindicalizados ou não sindicalizados, em manufatura e serviços, em companhias dos EUA e estrangeiras. Em cada fábrica, escritório, loja, os trabalhadores devem estabelecer comitês para planejar e organizar a resistência coletiva aos cortes salariais e demissões.

Essa luta exige uma perspectiva política inteiramente nova. O chauvinismo nacional e a corrida até o fundo promovidos pelos sindicatos e pelos partidos dos grandes negócios precisam ser rejeitados para que os trabalhadores dos EUA possam conscientemente se unir com os da Europa, Ásia e América Latina.

É preciso compreender que essa batalha não é simplesmente contra esse ou aquele empregador, mas contra todo o sistema capitalista, que empobrece a maioria da população mundial para enriquecer a minoria rica. Em todos os países, os partidos políticos e sindicatos defendem o sistema do lucro e são cúmplices na pilhagem da sociedade pela aristocracia corporativa e financeira.

Nos EUA, a administração Obama demonstrou que o Partido Democrata, não menos que o Republicano, é um instrumento de Wall Street e das corporações, determinado a retalhar os padrões de vida e acabar com programas sociais de vital importância.

A classe trabalhadora precisa construir um partido político de massas que lute para colocar o poder em suas próprias mãos. A ditadura econômica dos bancos e das grandes corporações precisa ser quebrada e a vida econômica precisa ser reorganizada de modo a atender os interesses das massas trabalhadoras que criam a riqueza da sociedade.

O Partido da Igualdade Socialista levanta a transformação dos grandes aparatos financeiros e industriais, incluindo a indústria automotiva, em serviços de utilidade pública. O capitalismo precisa ser substituído por um sistema planejado e racional baseado nas necessidades sociais, e não nos lucros dos bilionários. Somente assim o direito ao emprego e a um salário decente pode ser garantido para toda a população.


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