terça-feira, 28 de junho de 2011

OS TRISTES E OS CHATOS





Há dois tipos de pessoas no mundo, impagáveis, mas que nós pagamos para ver. São os tristes e os chatos. É possível reconhecê-los a longa distância, pois são figuras inconfundíveis no cenário do cotidiano. Circulam aqui e ali, enchendo o mundo de depressão e chatice, respectivamente.

O triste é até engraçado. Ele consegue obscurecer a luz do dia com sua tristeza e não sorri nem que a vaca tussa. Podem contar a melhor piada do momento para ele, mas a reação é pífia: um esboço de sorriso entre amarelo e vermelho. É que ele fica vermelho de raiva de ter de sorrir, ou quase rir, pois adora viver mergulhado em sua tristeza.

Como vai, cara? – e o triste responde: “Mal…”. Como vai, cara? E o chato começa a responder. Aí, quem mandou perguntar… aguente.

O chato é um tipo típico de todas as rodas. Aliás, falando em roda, é fácil observar. O chato chega e a roda se desfaz. Ninguém o suporta. Então, este é o termômetro para cada um de nós. Será que sou muito chato? Ou chata? Bom, se eu chego e a turma se espalha… hummmm… Mau sinal. Mas se eu chego e todo mundo fica firme ali, não sou chata; de repente, sou até popular, interessante, inteligente e sensível. Chega, né? Senão a gente vira chata.

Bom, o triste é de uma tristeza infinita e nada o alegra. Se ele ganhar na Loteria, vai dizer: “Ai, por que isso foi acontecer comigo, e agora, o que vou fazer com tanto dinheiro? Como administrar tudo isso?”. Esta criatura das trevas empesteia o ar, o ambiente, a fauna e a flora. Ela é altamente contagiosa e devemos nos precaver contra este tipo que ronda todas as portas e lugares. Tristeza pega.

Para o triste, tipo desanimado, nada vai dar certo. Ele tem o DNA do fracasso. Aliás, tudo já começou errado e não tem nenhuma chance de melhorar. Para qualquer iniciativa, ele responde tristemente: “Desista…”. Ninguém quer desistir, tá todo mundo animado e disposto; mas o triste derrotista não deixa ninguém prosseguir. Ele consegue deter qualquer plano ou projeto. E depois diz: “Se não fosse eu, aquilo ia continuar, imagine”.

O triste acha que qualquer novo vírus vai virar uma pandemia e o mundo vai acabar; o chato acha que ele tem uma saúde tão perfeita e é tão saudável, que até usarão o sangue dele para fazer uma vacina mundial. Ele se acha mesmo a salvação da lavoura. Ele é o máximo, só ele conhece tudo e ninguém ainda viu nada. Só o que ele tem presta, as coisas dos outros são um lixo total. Ele é teimoso feito uma mula e não ouve nem o papa em pessoa.

O mais engraçado é ver um triste e um chato juntos. Misericórdia! Preste atenção. Você não quer sair de perto por nada, porque a conversa é de uma finura daquelas. O triste olha para o vácuo e suspira: “Meu Deus do céu!…”. O chato pergunta: “Mas você ainda acredita em Deus?” – e começa uma discussão teológica com ele mesmo, pregando para os transeuntes da rua, enquanto o triste olha para o alto, desconsolado, mudo, procurando o Criador de todas as coisas. E o chato fala, fala, fala… Até os cachorros famintos e farejantes se desviam dele. Au, au, au.

Então, tu não te lembras da casinha pequenina, onde o nosso amor nasceu? E por aí vai. A gente precisa ficar de plantão conosco mesmos. Eterna vigilância. Fazer uma auto-análise. Ver se não andamos meio tristinhos e desanimados demais; ou se não estaríamos sendo um pouco chatinhos com certas coisas. E tomar tento.

*Marisa Bueloni mora em Piracicaba, SP. Formada em Pedagogia e Orientação Educacional – marisabueloni@ig.com.br

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Horta em Angola: Presidente de Timor-Leste sublinha desenvolvimento do país




NME - LUSA

Luanda, 28 jun (Lusa) -- O Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos Horta, visitou hoje em Luanda a clínica Girassol, afeta à Sonangol, e a nova cidade do Kilamba Kiaxi.

José Ramos Horta, que está no seu terceiro e último dia de visita a Angola, manifestou no final a sua satisfação pelo que viu.

"Tudo o que ouvia e lia sobre o desenvolvimento de Angola, pude constatar hoje com essas visitas", disse o presidente timorense, que no período da tarde deverá ainda participar numa palestra, na qual será orador, na Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto.

Na clínica Girassol, José Ramos Horta visitou o edifício e recebeu explicações do presidente da comissão executiva da clínica, António Filipe Júnior, sobre o seu funcionamento, com destaque para as áreas neonatal, pediatria e imagiologia e a suite presidencial.

O presidente timorense esteve acompanhado nessas visitas pelos ministros da Defesa de Angola, Cândido Van-Dúnem, e da Saúde, José Van-Dúnem.

LAM desmente que não tenha havido "nada para comer e beber" durante voo para Lisboa




LAS - LUSA

Maputo, 28 jun (Lusa) -- A Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) desmentiu hoje veementemente que não tenha servido refeições e bebidas durante o voo da última noite para Lisboa, em avião fretado que transportava passageiros que estiveram retidos em Maputo desde sexta-feira.

"É totalmente mentira, nem se compreenderia como não se serviriam refeições durante um voo de cerca de 11 horas de duração", disse à Lusa Adam Yussuf, porta-voz da empresa.

"Durante o lamentável incidente, a LAM instalou os passageiros em hotéis de quatro e cinco estrelas, assumiu as despesas com as respetivas refeições e, obviamente, durante o voo foram servidas refeições, tendo, a nível excecional, sido oferecidas bebidas gratuitas aos passageiros em económica", acrescentou.

Hoje, à chegada ao aeroporto da Portela, um passageiro, que se identificou, lamentou, em declarações à Lusa, que a companhia não tenha dado "qualquer informação aos passageiros" e que durante o voo não tenha havido "nada para comer ou beber".

À partida de Maputo, na noite de segunda-feira, um passageiro disse à Lusa que a LAM tinha colocado comida e bebidas no aeroporto à disposição dos passageiros que tinham ficado retidos na capital moçambicana. 

O voo TM 706 das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), mas operado pela portuguesa Euro Atlantic Airways, devia ter partido na noite da última sexta-feira, mas foi suspenso depois de a aeronave ter sofrido uma avaria provocada por um embate com um veículo de transporte de carga.

Na noite de segunda-feira, o voo foi finalmente concretizado, num avião fretado pela LAM que se encontra impedida desde abril de voar para o espaço europeu.

*Foto em Lusa

Guiné Bissau: PR RECEBE MAGISTRADOS EM GREVE E PROMETE FALAR COM GOVERNO




MB - LUSA

Bissau, 28 jun (Lusa) -- O Presidente da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, está preocupado com as greves sucessivas no setor da justiça e prometeu hoje que vai falar com o governo sobre as reivindicações dos magistrados.

Segundo o presidente da Associação Sindical dos Magistrados, Ladislau Embassa, a promessa da intervenção do chefe de Estado guineense no diferendo que opõe os magistrados ao governo foi feita hoje numa audiência que Malam Bacai Sanhá concedeu aos sindicatos do setor judicial.

"Da parte do Presidente ouvimos a sua sensibilidade e o interesse em relação ao setor da justiça. O Presidente mostrou-nos que na realidade a justiça deve merecer um outro tipo de tratamento", afirmou Embassa.

Segundo aquele responsável sindical, o Presidente prometeu que "vai falar com o governo para ver como atender às reivindicações".

"Não falamos sobre a suspensão da greve. O Presidente ouviu-nos com muita atenção, nós também ouvimos a sua opinião (...), o Presidente garantiu-nos que vai falar com o governo, tendo em conta a urgência e a seriedade da situação", destacou Embassa.

A preocupação do Presidente guineense foi ainda reforçada pelas declarações do seu conselheiro jurídico, Octávio Lopes, que disse que Malam Bacai Sanhá compreendeu as razões que motivaram os sindicatos a ir para a greve.

"O Presidente tomou nota das preocupações dos sindicatos. Compreende as razões subjacentes à greve dos magistrados e, como sempre, manifestou a sua disponibilidade para, junto do governo, diligenciar para se encontrar uma solução rápida para se pôr termo a esta greve", disse Octávio Lopes.

*Foto em Lusa

Grécia: Polícia lança gás contra jovens à margem da manifestação dos sindicatos




LUSA

Atenas, 28 jun (Lusa) -- A polícia lançou hoje gás lacrimogéneo contra jovens que atiravam pedras contra as forças da ordem no centro de Atenas, à margem de uma manifestação dos sindicatos contra os planos de austeridade do Governo.

Segundo a polícia, pelo menos uma pessoa ficou ferida durante os incidentes, que ocorreram na praça Syntagma (Constituição) à frente do Parlamento.

A polícia referiu ainda que estes jovens estarão associados ao movimento dos "indignados", acampados há várias semanas no centro de Atenas.

*Foto em Lusa

Espanha: ZAPATERO PEDE RESPOSTAS PARA MANIFESTAÇÕES DO “MOVIMENTO 15M”




ANTÓNIO SAMPAIO - LUSA

Madrid, 28 jun (Lusa) -- O primeiro-ministro espanhol pediu hoje para se respeitar, ouvir com humildade e dar resposta às "manifestações, protestos e exigências" apresentados nas ações de rua em Espanha associadas ao "movimento 15 de maio".

Sem se referir diretamente ao "movimento 15m", José Luis Rodríguez Zapatero considerou que a "inquietude e o mal-estar gerado pela crise" levou a que "alguns setores sociais dirijam, nos últimos tempos, um olhar exigente ao sistema político, reclamando do mesmo exemplaridade e respostas justas".

Um sentimento, considerou, "que também faz parte do estado da nação".

*Foto em Lusa

RAMOS HORTA QUER BANCOS ANGOLANOS EM TIMOR-LESTE


Presidente de Timor-Leste com os ministros dos Transportes e dos Petróleos durante a visita à base logística da Sonangol em Luanda - Fotografia: Rogério Tuti

FONSECA BENGUI – JORNAL DE ANGOLA

O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, manifestou ontem, em Luanda, o desejo de ver bancos angolanos a investir no seu país, por se situar numa zona extremamente dinâmica. “Estamos interessados em explorar com Angola possibilidades de investimentos angolanos em Timor, com o estabelecimento de bancos angolanos”, declarou aos jornalistas no final da visita que efectuou à SONILS, base de apoio à indústria petrolífera.

José Ramos-Horta referiu que a instalação de bancos angolanos no seu país não seria necessariamente por causa de Timor-Leste, mas porque o país se encontra numa região da Ásia que é imensa e rica e extremamente dinâmica.

O Presidente de Timor-Leste referiu igualmente que o seu país pretende de Angola quadros técnicos em várias áreas, porque tem carência de recursos humanos em todas as áreas da administração pública. “Com vontade política, podemos explorar essas áreas”, sublinhou.

Em relação à SONILS, disse que era uma “obra enorme” que o impressionou. “É um projecto de extrema importância para a economia angolana”, frisou, acrescentando que Timor-Leste tem um projecto parecido, que está a iniciar, mas de menor dimensão. A SONILS (Sonangol Integrated Logistic Services) foi criada em 1995 e opera um terminal no Porto de Luanda. Tem escritórios, armazéns, cais de embarque de passageiros, equipamentos de transporte e manutenção. Ainda ontem, José Ramos-Horta depositou, em Luanda, uma coroa de flores no monumento dedicado ao primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto.

ANGOLA E TIMOR-LESTE COOPERAÇÃO NA DEFESA


José Eduardo dos Santos momentos após ter sido condecorado por José Ramos-Horta com o grau de Grande Colar de Timor Leste - Fotografia: Francisco Bernardo

KUMUENHO DA ROSA – JORNAL DE ANGOLA

Angola e Timor-Leste assinaram, ontem, acordos de cooperação dos domínios da Defesa e da Comunicação Social, tendo a cerimónia sido testemunhada pelos mais altos mandatários dos dois países, o Presidente José Eduardo dos Santos e o homólogo timorense, José Ramos-Horta.

As questões essenciais dos protocolos foram referenciadas num encontro que os dois Presidentes tiveram com jornalistas, no Jardim do Palácio Presidencial, que serviu também para partilhar as incidências de uma reunião privada entre ambos momentos antes da assinatura dos acordos.

“Tive uma conversa longa com o senhor Presidente da República Democrática de Timor-Leste, em que abordamos várias questões de interesse bilateral, e também procedemos a uma avaliação da situação internacional, particularmente naqueles aspectos que interessam aos nossos dois países”, disse José Eduardo dos Santos.

O Presidente angolano começou por referir-se a dois dos temas dominantes no plano das relações bilaterais, o do petróleo e da defesa.  Referiu ser entendimento comum que pode ser estabelecida uma cooperação mutuamente vantajosa.

“Acabamos por assinar um acordo no domínio da Defesa em que se pretende colocar à disposição dos nossos irmãos timorenses toda a experiência por nós adquirida, no domínio da formação, da organização das Forças Armadas, no domínio da logística, etc.”, disse o Presidente, esclarecendo que a cooperação vai cingir-se, fundamentalmente, à área técnico-militar.

 “Não há aqui nem envio de forças, nem de meios bélicos. É uma cooperação técnico-militar”, frisou.

No tocante à exploração petrolífera, José Eduardo dos Santos referiu-se às importantes reservas de petróleo e de gás, em ambos os países, declarando que fez questão de informar o homólogo do interesse em colocar ao dispor de Timor-Leste a vasta experiência angolana no sector petrolífero, especialmente na área da formação e de negociação de contratos.

A conversa entre José Eduardo dos Santos e José Ramos-Horta incidiu também sobre o panorama político internacional com realce para o processo de reformas no quadro das Nações Unidas.

Reformas devem avançar

Para o Presidente angolano, é urgente que se acelere o processo de reforma da ONU devido à desconformidade dos seus principais órgãos, Assembleia-Geral e Conselho de Segurança, com a actual realidade mundial.  “Mais uma vez lançamos um apelo para que este processo de reforma das Nações Unidas avance e o mais depressa possível”, defendeu, realçando que “a configuração do mundo actual é diferente daquela em que foram estabelecidas estas instituições como o Conselho de Segurança, a Assembleia-Geral e todos outros instrumentos que hoje cuidam da segurança e da paz no mundo e também do processo de diálogo para favorecer o entendimento entre as Nações”.

Antes de se colocar à disposição dos jornalistas para responder a questões, José Eduardo dos Santos revelou que recebeu um convite pessoal de José Ramos-Horta para uma visita oficial a Timor-Leste. 

O Chefe de Estado angolano disse ter aceite, “com prazer”, o convite, avançando que a data para visita fica apenas dependente de alguns acertos no campo diplomático.

Na sua intervenção, o Presidente Ramos-Horta sublinhou a solidariedade de Angola para com a causa timorense desde a luta pela independência.  “É um grande prazer visitar este país que, ao longo dos 24 anos da nossa luta pela independência, soube ser solidário e que connosco participou em grandes batalhas diplomática na Assembleia-Geral das Nações Unidas, Conselho de Segurança, na Comissão de Direitos Humanos em Genebra, no Movimento dos Não Alinhados”, disse José Ramos-Horta, salientando que, “em vários outros fóruns internacionais, e nas suas relações bilaterais, Angola sempre colocou o direito do povo timorense à autodeterminação e à independência como uma questão prioritária”.

Para o Presidente timorense foi crucial o apoio angolano para que o mundo despertasse para a causa do povo de Timor-Leste, ao manter em Luanda uma representação diplomática com apoio total do Governo. 

“Angola deu-nos apoio não só diplomático, moral, mas também apoio que possibilitou a nossa acção diplomática. Tivemos sempre aqui uma embaixada desde 1975, com apoio total do MPLA e do Ministério das Relações Exteriores de Angola. Recordo, senhor Presidente, com muito apreço e gratidão, o seu empenho pessoal na questão de Timor-Leste”, declarou.

O Presidente timorense referiu que a outorga do Grande Colar da Ordem de Timor Leste, no quadro da sua visita oficial a Angola, pretende espelhar a gratidão do seu povo e Estado pelo empenho e dedicação de Angola e do Presidente José Eduardo dos Santos para o triunfo da causa timorense. 

“É por isso que trouxe, para lhe outorgar a honra de Timor-Leste, o grau de Grande Colar, que o fazemos a apenas a Chefes de Estado que se singularizam e sobressaem como grandes apoiantes e amigos da nossa causa. O senhor Presidente é um deles”, sublinhou.

Angola e Timor-Leste partilham as mesmas preocupações em relação a vários dossiers da actualidade internacional, disse e citou, como exemplos, os casos do Sahara Ocidental e da Palestina. “Timor-Leste e Angola partilham da mesma preocupação em encontrar uma solução que visa a implementação de resoluções da Assembleia-Geral e do Conselho de Segurança da ONU, concernente a uma solução pacífica para a questão do Sahara, respeitando o direito do povo à autodeterminação”. 

Ramos-Horta disse que a preocupação comum se estende ao caso da Palestina. “O povo palestino também continua a ver impossibilitado e negado o exercício do seu direito a autodeterminação e a construção de um Estado democrático viável na Palestina”, frisou.

Em relação à reforma das Nações Unidas, disse que o facto de as Nações Unidas terem sido criadas no pós-guerra, em 1945, “estão, de certo modo, ultrapassadas pelos acontecimentos”, pois, sublinhou, “há um grande desequilíbrio na representação nas Nações Unidas, sobretudo nalguns mecanismos como o Conselho de Segurança”.

Experiência angolana

“Last, but not least…”. Foi com recurso a esta expressão em inglês que Ramos-Horta procurou sublinhar a importância para Timor-Leste dos acordos firmados com Angola, apesar de ter deixado para a parte final da sua intervenção.

“Nós assinamos na área de cooperação no domínio da Defesa, como o senhor Presidente salientou, para aproveitarmos a experiência de Angola na modernização das nossas Forças Armadas, na reforma e na desmobilização. Angola tem vasta experiência nestes domínios”, disse Ramos-Horta, lembrando que esta cooperação já existe com outros países, em particular com Portugal e com Brasil”.

O Presidente Ramos-Horta referiu-se também aos recursos energéticos: “Timor-Leste, obviamente que não é tão bafejado por Deus como Angola é, com vastas reservas de petróleo, gás e diamantes, mas Deus não se esqueceu de Timor-Leste e deixou algum para nós. Não deixou tudo com Angola, deixou algum para Timor-Leste, o suficiente para financiarmos o Orçamento Geral do Estado e para não termos de depender da ajuda externa”.

Tal como Angola, sublinhou, Timor-Leste enfrenta dificuldades na área de recursos humanos. “Esta é uma área em que esperamos que Angola, à semelhança de outros países da CPLP, Cabo Verde, Brasil e Portugal, possa apoiar-nos na área da formação em vários domínios”.

O acordo no domínio da Defesa foi assinado pelo vice-ministro da Defesa Nacional Salviano de Jesus Sequeira, pela parte angolana, e pelo secretário de Estado da Defesa de Timor-Leste, Júlio Tomás Pinto.

No sector da Comunicação Social foram signatários os vice-ministro Manuel Miguel de Carvalho “Wadijimbi”, por Angola, e, por Timor, Alberto Xavier Pereira Carlos, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros.

GREVES CONTRA ARROCHO NAS PENSÕES VÃO SACUDIR O IMPÉRIO BRITÂNICO




CORREIO DO BRASIL, com BBC - de Londres

Professores e servidores públicos britânicos devem entrar em greve nesta semana, apesar de novas negociações nesta segunda-feira entre o governo e sindicatos sobre reformas no sistema de pensões do setor público. A greve fechará escolas e escritórios do governo e pode levar ao fechamento de portos e aeroportos. O movimento pode ser só um aperitivo de greves mais amplas esperadas ainda para este ano.

O governo condenou os planos, previstos para quinta-feira, para que 750 mil pessoas cruzem os braços, o correspondente a um em cada oito funcionários do setor público. O governo liderado pelos conservadores enfrenta um desafio familiar a outros países europeus: como continuar a dar apoio a uma população que envelhece num momento em que o governo tenta reduzir gastos.

– Um equilíbrio sensível entre a vida passada trabalhando e a vida passada na aposentadoria faz sentido e torna essas pensões sustentáveis – disse o ministro do Gabinete, Francis Maude, à agência britânica de notícias BBC.

A proposta de reforma é baseada em uma revisão feita por um ex-ministro do antigo governo trabalhista, de oposição. Sob essa reforma, as pensões baseadas nos salários finais seriam substituídas por uma baseada nos ganhos obtidos ao longo de toda uma carreira. Os trabalhadores contribuiriam mais para sua pensão e a idade para aposentadoria aumentaria.

O sindicalismo perdeu força na Grã-Bretanha ao longo da década de 1980, mas o setor público continua sendo um bastião dos sindicatos. Servidores públicos já sofrem um congelamento salarial e a perda de mais de 300 mil postos de trabalho num momento em que o governo busca cortar gastos. Para alguns dos sindicatos, a reforma no sistema de pensões é a gota d’água que fará o copo transbordar para a greve.

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MARCHAS, REVOLTA E GERAÇÃO




Os recentes protestos no Brasil, juventude não ficou “em casa”: nem diante do computador, nem em coletivos autofágicos — como o de A Chinesa, de Godard

Bruno Cava, em seu blog Quadrado dos LoucosOutras Palavras

Em A chinesa, de 1967, Jean-Luc Godard filma o dia-a-dia de um coletivo maoísta, às vésperas do Maio de 1968. Baseado no romance Os demônios, de Dostoievski, os personagens são jovens estudantes de Paris, em processo de imersão no imaginário radical dos anos 1960. Passam os dias entre densas leituras marxistas, canções, palavras-de-ordem e cartazes políticos, planejando a iminente revolução. Na câmera de Godard, o sisudo visual militante se converte no pop. O preto-no-branco do discurso revolucionário se colore e se diversifica. Godard parece ambíguo, entre um retrato justo das aspirações transformadoras da geração de 68 e uma sátira nada condescendente, a enxergar naqueles jovens meros pequeno-burgueses deslumbrados: somente flertam com a idéia de revolução, assumida mais como aspecto identitário e estetizante que práxis. Possivelmente, a leitura mais completa dessa peça da resistência da nouvelle vague seja contornar qualquer classificação definitiva. Em vez do: essa juventude é isso ou é aquilo, abrigar a generosidade do real com a conjunção e: isso e aquilo.

Quem participou das marchas das liberdades, em São Paulo, Rio de Janeiro e outras metrópoles brasileiras, talvez compreenda melhor ao que me refiro, quando falo em percepção essencialmente ambígua. Porque foram manifestações urbanas eminentemente elitizadas, brancas, tocadas pelos filhos da classe-média. Não admira o pequeno porte, uns poucos milhares de manifestantes, nem a relativa aversão explicitada por grupos da periferia. No Rio, a marcha reuniu várias pautas, das LGBTT e feministas à resistência cultural anti-Ana de Hollanda e contra a propriedade autoral. No entanto, predominou a pauta da legalização da maconha. Uma reivindicação aliás fundamental, na medida em que essa proibição constitui uma das causas principais da violência urbana, de um controle social racista e da corrupção eleitoral. Por deficiências da organização, o maior interessado na legalização — o morador pobre e negro da periferia — não se mobilizou. Já a marcha dos 50 mil pelos bombeiros, há uma semana, se por um lado contou com desconcertante contingente das periferias cariocas, por outro se concentrou quase inteiramente na agenda corporativa salarial e por melhores condições, bem como pela libertação dos presos políticos. Percebe-se, de cara, a distância das recentes marchas em relação ao movimento generalizado do 15-M da Espanha e, com ainda maior separação, das revoluções árabes.

Daí tantas críticas às recentes passeatas e àquelas agendadas para o futuro próximo. Não passariam de espasmos da elite, despolitizados e impotentes. Seriam tão pateticamente comoventes quanto formar um cordão humano para abraçar a Lagoa Rodrigo de Freitas em nome da “paz”, ou quanto o ativismo-de-dondoca do Cansei, em 2007, que chegou ao cúmulo de vaiar aviões decolando. Essas críticas têm a sua razão de ser. De fato, muitos crêem que fazer a sua parte se limite a indignar-se ante a corrupção, reclamar dos políticos, reciclar o lixo, velar pelo tom politicamente correto, consumir orgânicos, ir ao emprego de bicicleta e minutar o seu dia numa mídia social qualquer. Tenho a impressão que essa atitude “consciente” seja até mais comum do que aquela de quem não está nem aí, que fica na sua vidinha privada, sem opinião, e no fundo só quer se dar bem.

Na dita geração Z, hoje com até 20 anos, a ausência de revolta parece ter se agravado. Quantas vezes não fui pessimista, e reclamei que essa geração não se rebela à vera. Não se revolta sequer contra os pais; adolescentes com dentes alinhados e narizes corrigidos, bem alimentados, bem cuidados, bem tratados por famílias perfeitinhas, parecem grandes laranjas brilhosas, mas sem carne e sem veia aberta.

Ampliando o espectro, a geração nascida da metade dos anos 1970 em diante não experimentamos nenhuma grande decepção histórica. Não vivenciamos 1968 ou 1989. Essas pessoas com até 40 anos fomos ensinados a desconfiar de grandes narrativas (noutras palavras, aderir acriticamente a uma única narrativa, a do capitalismo hegemônico, que assim se naturaliza e se reproduz). A descrença é sistematicamente endossada pela repetitiva culpabilização das ideologias e do pensamento radical, — condenados inapelavelmente pelos regimes de horror do século 20.

Essas críticas também têm a sua pertinência. Com efeito, o formato antigo de agremiações centralizadas, coesas numa verdade e altamente disciplinadas não cabe mais, pois não há mais Palácio de Inverno a se tomar. Num capitalismo globalizado, difuso e sem centro, a exploração se imiscui nas frinchas do cotidiano. Qualquer resistência eficaz deve ir além de dogmáticas e coletivos duros, para mexer com a produção de subjetividade. Nesse sentido, a Praça Tahrir, o 15M e, em menor grau, as marchas brasileiras de 2011, exprimem um caminho bastante oportuno. Mais que isso, nesse contexto, a constituição de redes produtivas autônomas (como os Pontos de Cultura, os coletivos de rap e hip-hop, a blogosfera de esquerda, o Fora do Eixo etc), o código colaborativo do software livre e da wikipídia, e mesmo o singelo ato de baixar e compartilhar conteúdos livremente pela internet, — tudo isso se torna imediatamente político e resistente.

Mas não deslumbremos. Em tempos de super-fluxos e redes de redes, não percamos a lucidez. Nada substitui a ocupação de ruas e praças. Nada substitui “uma rebeliãozinha de vez em quando“, o que, para Thomas Jefferson, é constitutivo da democracia. As marchas têm o papel de resgatar o movimento de rua, que a internet jamais substituirá. As novas formas de organização qualificam a ocupação intensiva do espaço público, jamais a dispensando. A força das redes não fica apenas no online, mas na articulação nas texturas urbanas, na organização e funcionamento da metrópole. Na realidade, o capitalismo condiciona os espaços, ritmos e escoamentos da cidade numa matriz totalmente contingente, que colapsa rápido nessas horas de rebelião. Como por sinal se viu em Túnis, Tahrir, Pérola, Puerta del Sol e Praça Catalunha, — que nada significariam se as pessoas não tivessem saído de suas casas para as mil crônicas da rua. Tomar ruas e praças continua essencial em qualquer democracia e deveria ser o hábito por excelência do cidadão.

Por tudo isso, conquanto as críticas mencionadas sejam pertinentes e mesmo necessárias, é preciso reconhecer uma abertura potente nas marchas de 2011. Pessimismo na razão, otimismo na ação. Tem algo aí que pode crescer tanto em quantidade, quanto qualitativamente (na intensidade do desejo). Faltou a revolta da periferia, sim, mas não faltaram conexões para que isso ocorra e em breve. O modo de desdobrar o movimento tem uma dinâmica expansiva. Afinal, as pessoas não ficaram em casa: nem diante do computador, nem em coletivos autofágicos como em A chinesa. Foram pra rua, generosos e sem preconceitos, pra conhecer o diferente, pra aprender coisas novas, pra se enredar com o outro. O desafio, agora, penso eu, está em recompor a classe em movimento. Consiste em desatar o nó, que impede que todas as demandas se reúnam na sua diferença. Isto é, sem unificação numa única verdade, por uma única luta, por um único livro vermelho. É a mesma luta, diferentes.
“Para muita gente a verdadeira perda do sentido político consiste em se juntar a uma formação partidária, submeter-se a sua regra, sua lei. Para muita gente também quando se fala de apolitismo, fala-se antes de tudo de uma perda ou de uma ausência ideológica. Eu não sei o que vocês pensam quanto a isso. Para mim a perda política é antes de tudo a perda de si, a perda de sua cólera assim como a de sua doçura, a perda de seu ódio, de sua faculdade de odiar assim como a de sua faculdade de amar, a perda de sua imprudência assim como a de sua moderação, a perda de um excesso assim como a perda de uma medida, a perda da loucura, de sua ingenuidade, a perda de sua coragem como a de sua covardia, a de seu terror diante de tudo assim como a de sua confiança, a perda de suas lágrimas assim como a de seu prazer. É isso o que eu penso.” (Marguerite Duras, “La perte politique”, Cahiers du Cinéma nº 312-313, junho de 1980, apud Revista Contracampo).

GRÉCIA PARCIALMENTE PARADA POR GREVE, IMPRENSA SAÚDA APOIO DE PARIS




MC - LUSA

Atenas, 28 jun (Lusa) - A imprensa da Grécia saudou hoje a iniciativa de Paris de contribuir para o segundo plano de resgate ao país, que está hoje parcialmente parado devido ao início de uma greve de 48 horas.

Em Atenas, e ao contrário do metro, os transportes públicos não estavam a funcionar e as ruas estavam ao início da manhã relativamente vazias porque muitas pessoas decidiram não ir trabalhar devido à convocação da quarta greve geral deste ano. 

A greve foi convocada pelos dois grandes sindicatos gregos, o GSEE, representativo dos assalariados do setor privado, e o ADEDY, representativo do setor público. 

Os grevistas, essencialmente funcionários públicos, protestam contra o plano de austeridade 2012-2015, que deverá ser votado na quarta-feira e na quinta-feira, no Parlamento.

Este plano, que prevê novos sacrifícios, deverá permitir que a Grécia, à beira da bancarrota, receba uma nova ajuda financeira dos parceiros e credores. 

Além do aumento de impostos e de taxas, o plano também deverá permitir a supressão de postos de trabalho na função pública. 

No setor da aviação civil, numerosos voos internos das duas companhias gregas, AEGEAN e OLYNPIC AIR, foram anulados devido à adesão à greve dos controladores aéreos. 

No Pireu, o porto situado perto de Atenas, cerca de 200 militantes do sindicato comunista grego PAME impediram os barcos de partir hoje de manhã. 

Uma manifestação está prevista para hoje à tarde. 

Na imprensa, dois diários gregos saúdam a iniciativa francesa, apresentada na segunda-feira, de contribuir para o novo plano de ajuda à Grécia. 

Esta contribuição dos bancos franceses consistirá na renovação por 30 anos de metade dos créditos privados concedidos para dar tempo a Atenas. 

O jornal económico grego Naftemporiki publicou uma fotografia do presidente francês, Nicolas Sarkozy, na primeira página. O jornal Ta Nea (pró-governo) destacava hoje o título: "O francês tem uma solução para a dívida". 

Em contrapartida, o jornal de direita Eleftero-Typos apelava hoje, com o título "Votem não", para a rejeição do orçamento, refletindo a posição da Nova Democracia, principal partido da oposição que continua a rejeitar qualquer "união sagrada" com o Governo socialista, apesar dos apelos dos credores de Atenas.

*Foto em Lusa

ÚLTIMO DEBATE “ESTADO DA NAÇÃO” COMEÇA HOJE EM ESPANHA




ASP - LUSA

Madrid, 28 jun (Lusa) - O primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, abre hoje, no Congresso de Deputados em Madrid, o debate do Estado da Nação, o último da legislatura e, a confirmarem-se as sondagens, o último deste período de governação socialista.

Dominado pelos temas económicos, e previsto entre hoje e quinta-feira, o debate é o sexto conduzido por Zapatero e também o sexto embate direto entre o líder socialista e o líder do maior partido da oposição, Mariano Rajoy.

Depois de dois dias de debate serão submetidas à votação um total de 90 propostas de resolução, 15 por cada grupo parlamentar.

Seguem-se ao debate entre Zapatero e Rajoy os restantes grupos parlamentares, podendo as interpelações e respostas prolongar-se até à manhã de quarta-feira, sendo o grupo socialista o último a intervir.

Até quarta-feira os grupos parlamentares terão que apresentar as diferentes moções, que serão depois revistas pela Mesa do Congresso, antes de eventuais emendas.

Na quinta-feira decorre o debate e votação dos 90 textos onde os socialistas procurarão acordos para conseguir passar ou travar diferentes iniciativas.

Como tem ocorrido nos últimos anos a situação económica deverá dominar o debate, que ocorre depois da derrota histórica do PSOE nas eleições regionais e municipais de maio.

Outros assuntos, entre os quais as manifestações e mobilizações do "movimento 15M" deverão também protagonizar o debate e algumas das moções.

*Foto em Lusa

Angola: OS NOSSOS POLÍCIAS NÃO SABEM DAR TIROS




JOSÉ KALIENGUE – O PAÍS (Angola)

Os polícias angolanos não praticam regularmente o tiro. Este facto foi relatado por vários agentes e oficiais a O PAÍS. As razões apontadas distribuem-se pela falta de locais para o fazer, falta de planificação da prática de tiro fora dos períodos de instrução, que se traduz, em síntese, na falta de uma política correcta da prática de tiro, como componente fundamental para a actividade policial, no sentido de evitar que o seu recurso provoque mais danos do que os necessários. 

Não há carreiras de tiro nas unidades policiais, nem em Luanda nem nas outras províncias. No Kapolo (escola de formação da polícia) o tiro é praticado ao ar livre. “Com excepção da PIR, que tem instrução permanente e excelentes atiradores” disse um oficial, “a maior parte dos polícias só faz tiro aquando da formação e existem polícias que estão há mais de 20 anos sem ter instrução de tiro e manuseamento de armas de fogo”. Mas a realidade torna-se mais grave quando, para confirmar esta afirmação, um outro oficial confidenciou-nos que “mesmo quando se introduz uma nova arma na Polícia não se desenvolve um processo sério de formação para a sua adaptação”. 

Por outro lado, um instrutor policial disse que “o tiro deve ser praticado permanentemente. Devem ser criadas condições para que os efectivos pratiquem tiro como actividade fundamental para o seu desempenho profissional. Portanto, o excelente seria diariamente, mas já seria muito satisfatório se fosse ao menos uma vez por semana. Quem fala de salas de tiro, fala de ginásios para a condição física, fala de outros exercícios que permitam actualizar permanentemente o agente em relação à actividade de segurança pública”. 

Mortes como consequência 

As consequências mais flagrantes, e mais graves, da falta da prática regular de tiro são os vários casos de mortes causadas por polícias no exercício das suas funções. A prática regular de tiro apura a técnica e ajuda a habilitar o agente a usar correctamente a arma de fogo, não apenas do ponto de vista da execução, mas também do ponto de vista da racionalidade do seu uso. 

“Por exemplo”, avançou uma das nossas fontes, “não existe nenhum regulamento sobre o uso de armas de fogo na polícia nacional, que define as condições e as circunstâncias em que se pode, e em que medida, fazer recurso a arma de fogo, definindo procedimentos a adoptar nas diversas situações. Os efectivos usam a arma em qualquer situação, até para pedir documentos, e, porque não têm perícia no seu manuseio, acabam, algumas vezes, como já aconteceu, por ceifar vidas inocentes”.  Para a pergunta se na escola os agentes aprendem a atirar em situações de tensão na rua para atingir apenas o suspeito e não tudo o que estiver ao redor, a resposta veio da seguinte forma: “Se calhar mais grave do que a falta da prática regular de tiro é a actual formação de tiro. Para começar, é uma coisa muito incipiente e, basicamente, os formandos aprendem a desmontar e montar uma arma e a disparar em tiro a tiro e rajada. A questão da pontaria é completamente descurada”.Porquê? “Porque o Kapolo, onde se formam os polícias, não tem uma carreira de tiro digna desse nome. O tiro é feito em montes de areia, onde se colocam latas de cerveja ou outra coisa qualquer para servir de alvo”. Hoje, no entanto, sabe-se que isso não é correcto em termos de formação. Nos dias de hoje, como se vê nos filmes, os alvos policiais devem ter a forma da pessoa humana e os agentes são formados, e formatados, a atingir as partes menos vitais, e só a disparar contra as partes vitais em caso de absoluta necessidade. “O que se passa no nosso caso é que os agentes aprendem apenas a disparar atingindo um corpo, sem querer saber se o atinge na cabeça, na perna, no olho ou nas nádegas”, adiantou o mesmo instrutor.

Por outro lado, há um outro pormenor a juntar a tudo o que foi descrito, a arma de instrução no Kapolo é, sobretudo, a AKM, portanto, uma arma de guerra, que é também a arma de trabalho do pessoal de patrulha, aquele que lida com o cidadão no dia-a-dia. Levantada esta questão, um oficial de uma das divisões de Luanda disse estarem aí os ingredientes para a “matança” que temos a assistido. “Raramente se usa uma AKM para apenas neutralizar. Juntos, uma prática de tiro incipiente, com o uso de armas de guerra na instrução e no exercício da actividade, explicam muitos dos casos de «erros» policiais que vimos assistindo”.

Zungueiras foram vítimas 

Mortes acidentais como o caso de Dezembro de 2007, em que uma vendedora ambulante foi alvejada mortalmente por um agente da polícia no mercado das pedrinhas, pode ter sido resultado da má formação dos agentes e da má qualidade de tiro. Tanto que um dos oficiais que vimos citando refere-se àquele caso como podendo ter resultado de dois aspectos. Por um lado fala da falta de outros meios não letais para o exercício da actividade de patrulha, como bastões, pistolas de choques eléctricos, entre outros. Até porque, diz, “Naquelas situações, as armas eram os únicos meios de defesa, e de serviço, que os agentes tinham na altura. Portanto, sem outro meio, e desconhecendo os procedimentos a adoptar nessas situações, porque não existem, o agente fez o que lhe pareceu mais fácil. Disparou contra os corpos, como ele aprendeu”. 

 A última questão colocada aos agentes e oficias que O PAÍS contactou, estava ligada à ausência de espaços para treinos. Porque não têm s esquadras e divisões salas ou campos de tiro porquê? As diferentes respostas podem resumir-se nestas palavras: “Porque ninguém quer saber disso. A Segurança não é tão importante como dizem...” O PAÍS procurou obter a reacção oficial da polícia, mas não obteve sem sucesso. Um oficial do Comando Geral, no entanto, disse que há já dois meses que os agentes de Luanda vão praticando, à vez, tiros no Kapolo. 

Exemplos de outros países

Os países têm práticas diferentes. Mas, por exemplo, em Espanha, onde o tiro é fundamental para a avaliação do agente, se, no processo de formação, um agente tiver nota máxima em todas as disciplinas, mas tiver negativa a tiro, esse agente não passa, por muito brilhante que ele seja. No nosso caso, disse um oficial, “temos inclusive agentes estrábicos. Agentes que entram para a escola já com miopia”. 

O caso de Portugal, um dos que nos é mais próximo, também não é exemplo porque, fruto da situação financeira, “também não conseguem prover as necessárias aulas de tiro para os agentes, mas está, de longe, muito mais avançado em relação a Angola”. Já Nos Estados Unidos da América as esquadras têm salas de tiro, onde os agentes são livres de praticar, em função da sua disponibilidade, além do exame regular para confirmar a sua destreza, ou seja, são alvos de avaliações permanentes em relação a qualidade do tiro.

ANGOLA APELA AO CUMPRIMENTO DAS PROMESSAS DE AJUDA À GUINÉ-BISSAU




ANGOLA PRESS

Nova Iorque – O secretário de Estado das Relações Exteriores, Manuel Augusto, exortou segunda-feira, em Nova Iorque, a comunidade internacional a apoiar o processo de estabilização da Guiné-Bissau, através de acções concretas e parar com as promessas.

Manuel Augusto, que falava numa reunião informal da Comissão para a Consolidação da Paz das Nações Unidas (PBC) dedicada à Guiné-Bissau, afirmou que o Fundo de Pensões criado no âmbito da reforma do sector de defesa e segurança não deveria ser condicionado, como fazem alguns parceiros internacionais.

“O Fundo de Pensões representa o ponto chave, o pilar central do processo de estabilização da Guiné-Bissau, porque dele depende a aceleração da reforma do sector de defesa e segurança”, salientou o governante angolano, que se encontra em Nova Iorque desde domingo, onde hoje participa na reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação na Guiné-Bissau.

O Secretário de Estado, que esteve acompanhado pelo representante permanente de Angola junto da ONU, embaixador Ismael Gaspar Martins, e pelo embaixador na CPLP, Hélder Lucas, observou igualmente que para haver justiça na Guiné-Bissau é necessário que se aplique a reforma da justiça, cuja implementação recebeu a promessa de apoio da parte da União Europeia (UE).

Referiu também que “Angola apoia o anúncio da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) de contribuir com 63 milhões de dólares para o Fundo de Pensões” e aguarda “ansiosamente pela sua operacionalização”.

“A situação na Guiné-Bissau não se compadece com esperas”, sublinhou Manuel Augusto, que fez um apelo à comunidade internacional no sentido de apoiar a Guiné-Bissau sem reservas.

Recorde-se que Angola, que desde 2010 preside a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), contribuiu com 30 milhões de dólares e instalou uma Missão Militar na Guiné-Bissau (MISSANG) para apoiar a reforma do sector de defesa e segurança deste pais, bem como desencadeou outras acções, tais como apoio à modernização dos órgãos de comunicação social e formação de jornalistas guineenses, que tem a tarefa de sensibilizar os militares e a sociedade civil sobre a importância da referida reforma.

O responsável angolano disse também aguardar com expectativa o resultado das consultas da União Europeia sobre no âmbito da cooperação com a Guiné-Bissau, que tem alguns apoios a este Estado suspensos devido à instabilidade que se viveu no país.

A reunião, dirigida pela embaixadora do Brasil, Maria Luiza Viotti, na qualidade de presidente da PBC, contou com as presenças do ministro da Defesa e dos Antigos Combatentes da Guiné-Bissau, Aristides Ocante da Silva, que prestou uma informação sobre actividades desenvolvidas pelo seu Governo no âmbito do roteiro CEDEAO/CPLP sobre a reforma do sector de defesa e segurança.

Participaram também o Representante Especial do Secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, Joseph Mutaboba, o Secretário Executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira, e vários parceiros no âmbito da PBC, que avaliaram positivamente os últimos desenvolvimentos da Guiné-Bissau e concordaram com a necessidade de uma maior intervenção dos parceiros nacionais e internacionais para o êxito do processo de estabilização da Guiné-Bissau.

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